O desrespeito à pessoa de idade no Brasil, que faz com que o país pouco tenha a comemorar hoje, Dia do Idoso, não está apenas no atendimento deficitário prestado pelo serviço público principalmente nas intermináveis filas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A falta de consideração começa em casa e tem no abandono um dos seus reflexos.
Dados do Disque-Idoso serviço do Conselho Estadual do Idoso (Cedi), ligado à Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Promoção Social e da Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba apontam o abandono em asilos e mesmo em casa como uma das principais infrações ao Estatuto do Idoso. No primeiro semestre de 2007, das 727 denúncias de maus- tratos encaminhadas ao Disque-Idoso, 158 referiam-se a negligência/abandono da família um número só menor do que as queixas de agressões verbais e psicológicas (200).
A FAS constatou ainda que cerca de 40% dos 1,1 mil idosos que vivem nos 53 asilos da cidade não têm mais contato algum com a família. Quando o estudo se limita às 11 instituições públicas ou mantidas por fundações e organizações não-governamentais, a situação piora: 70% dos internos foram abandonados pelas famílias. "Muitas vezes, o idoso que está na instituição pública já foi abandonado antes mesmo de se tornar adulto. Portanto, nem família ele tem", acrescenta a coordenadora de Proteção Social Especial de Alta Complexidade da FAS, Carla Braun.
A presidente do Cedi, Schirley Follador Scremin, lembra que a atenção às pessoas mais velhas está prevista no Estatuto do Idoso (promulgado no dia 1.º de outubro de 2006, o que provocou a mudança do Dia do Idoso de 27 de setembro para hoje). Ou seja, é de responsabilidade da família ajudá-lo em caso de impossibilidade. Deixar de prestar essa assistência pode resultar em pena de seis meses a um ano de prisão, mais multa o mesmo para casos de humilhações, discriminação e desdenho, com aumento para até 12 anos se houver morte. "Os filhos não têm o dever de amar os pais, mas têm, por lei, o de ajudar se o idoso estiver impossibilitado", ressalta Schirley.
Asilos
A coordenadora do Cedi lembra que as próprias instituições de longa permanência (como são chamados oficialmente os asilos) têm obrigação, também conforme o Estatuto do Idoso, de tentar manter o vínculo das pessoas de idade com a família. É que tenta fazer o Asilo São Vicente de Paulo, um dos maiores de Curitiba, de caráter público e que atende exclusivamente senhoras. Mesmo assim, o índice de ausência de contato com a família chega a 80%.
O padre José Aparecido Pinto, superintendente do São Vicente, afirma que a instituição sempre manteve essa política, mas que agora pretende intensificá-la. A intenção, explica o padre, é procurar os parentes das internas que são de outras cidades e restabelecer o relacionamento. "Ainda estamos estudando a melhor forma de fazer isso: se vamos trazer os familiares ou levar nossas idosas até eles", informa.
Pela experiência do padre, reavivar este relacionamento traz benefícios ao idoso. "Recentemente uma de nossas senhoras reencontrou o irmão que não via havia 30 anos. O comportamento dela mudou totalmente. Deixou de ser uma pessoa triste e passou a ser mais feliz", compara.
Serviço: denúncias de maus-tratos a pessoas de idade podem ser feitas ao Disque-Idoso, no telefone 0800-410001, ou pelo disqueidoso@setp.pr.gov.br.