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Rua São Pedro, em Almirante Tamandaré, sem pavimentação, esgoto, meio-fio e calçada | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Rua São Pedro, em Almirante Tamandaré, sem pavimentação, esgoto, meio-fio e calçada| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Sem estrutura

Cidades carecem de asfalto, meio-fio, rampa de acesso e árvores

As prefeituras da maioria dos mu­­nicípios que estão no topo­­ dos problemas urbanísticos apontadas pelo levantamento do IBGE reconheceram os problemas, mas afirmaram que tra­­balham em projetos para me­­lhorar o entorno dos domicílios. Porém, a população dessas cidades ainda têm de encarar muitas dificuldades.

Quem vive em Diamante do Sul­­ e Santa Maria do Oeste, por exemplo, tem de dividir espaço­­ nas ruas com carros, motos e todo tipo de meio de transporte. Isso porque 95% das casas dos dois municípios não têm calçadas e 88% não têm meio-fio. Nos dois casos, as prefeituras informaram que já têm projetos em andamento, mas não estipularam prazos para conclusão.

Mas pior do que não ter meio-fio­­ ou calçada é morar em rua não-pavimentada, realidade de­­ 88% das casas de Doutor Ulysses (região metropolitana de­­ Curitiba) em 2010. "Essa infe­­lizmente ainda é nossa realidade. Estamos tentando recursos com o PAC 2, mas só para depois das eleições", diz José Bi­­tencourt, assessor da prefeitura.

Em Campina do Simão (centro-sul) o que falta são árvores dentro da cidade. Questionados se a rua em que moravam era arborizada, apenas três moradores responderam de forma positiva. Segundo Sérgio Bortolanza, técnico da prefeitura, a cidade já é rodeada de área verde e a falta de árvores nas ruas é culpa da população. "O povo arranca tudo", disse.

A ausência de vegetação, porém, não atinge só os municípios menores. Em Curitiba, cidade que ganhou o título de capital ecológica do país, moradores de 23% das casas disseram não ter árvores em suas ruas. Ponta Grossa lidera o ranking das maiores cidades do estado no quesito falta de acessibilidade, com 96% da população afirmando não ter rampas de acesso em calçadas.

Imagine-se morando em uma casa cuja rua é escura e não tem asfalto, calçada, meio-fio, boca de lobo, árvores e sequer um nome. Essa é a realidade de milhares de domicílios paranaenses e foi apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na pesquisa do entorno dos domicílios do Censo Demográfico 2010, divulgada no fim do último mês de maio.

No Paraná, no topo dos problemas, está a ausência de calçadas e meio-fio, que superam a média brasileira. No total, 41% das casas paranaenses não estão atrás de passeios públicos ante 31% da média nacional e 25% não têm a famosa sarjeta contra 22% do país.

Apesar de perder para a média nacional em apenas dois indicadores, nos outros oito a situação paranaense não é animadora. Mais de 277 mil casas (33% da população) estão em ruas sem nome e quase um milhão (35%) não têm boca de lobo, equipamento essencial para escoar a água das chuvas. Além disso, 481.688 lares estão em ruas sem pavimentação, 89.811 não têm iluminação pública e mais de 600 mil não contam sequer com uma árvore no logradouro.

Ainda de acordo com o IBGE, se não bastassem esses problemas, 122 mil casas (4,4%) ainda convivem com esgoto a céu aberto, quase a mesma quantidade das que estão em ruas com lixo espalhado, indicativo de que a coleta de lixo não é satisfatória. No país inteiro, 11,8% dos domicílios estão próximos a esgoto a céu aberto e 5,8% ao lixo.

Segundo Dalea Antunes, pesquisadora do IBGE, os indicadores de circulação são os que mais afetam as cidades pequenas do interior. "Em municípios com até 20 mil habitantes, onde a circulação é menor, o porcentual de presença desses indicadores era de apenas 40%".

Melhor do Sul

Dalea ressalta que o Paraná é o melhor estado da Região Sul em seis dos dez indicadores pesquisados, mas lembra que há problemas localizados, principalmente em cidades cuja população tem menor poder aquisitivo. Na pequena Santana do Iraré, onde 43% da população ganha até meio salário mínimo, 58% dos domicílios convivem com esgoto a céu aberto.

Já em Antonina, moradores de 2,3 mil domicílios, metade da cidade, disseram viver em ruas que têm lixo espalhado, indicativo de ineficiência da coleta seletiva. No município, 36% da população ganha até meio salário mínimo.

De acordo com Carlos Hardt, diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, os dados do IBGE mostram que as piores estruturas urbanas, de modo geral, estão em municípios pequenos e com baixa capacidade de investimento. O urbanista ressalta, porém, que há exceções e que a falta de recursos não pode ser utilizada como desculpa para todos os casos.

"A gestão municipal tem de ter competência para aplicar o pouco recurso que tem de forma adequada. Bastam bons projetos para serem captados", argumenta Hardt.

Governo fez repasse de R$ 73 milhões para recapeamento de vias

O governo do Paraná afirma ter repassado R$ 402 milhões aos 399 municípios paranaenses nos últimos 18 meses. Boa parte dessa verba foi financiada via Serviço Social Autônomo ParanaCidade e Secretaria do Desenvolvimento Urbano (Sedu), que conta com recursos do Fundo de Desenvolvimento Urbano.

Segundo a Sedu, R$ 284,6 mi­­lhões foram disponibilizados pelo ParanaCidade para cons­­truir, entre outros, escolas, postos de saúde e hospitais. "Mas a maior quantidade de recursos foi liberada para pa­­vimentação", disse o secretá­­rio Cezar Silvestre. A fundo perdido, a pasta diz ter repassado R$ 73 milhões para 261 municípios recapearem suas vias.

A pasta afirmou ainda que, em parceria com o Pa­­ra­­naCidade, disponibilizou R$ 45 milhões para compra de equipamentos rodoviários e recuperação de vias urbanas.

A destinação desses recursos é posterior ao levantamento do IBGE e, portanto, seu reflexo ainda não pode ser mensurado. O governo afirma que os números apresentados são os maiores dos últimos dez anos e que deve investir mais R$ 600 milhões nos próximos 18 meses.

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