O Brasil é hoje o segundo maior mercado do mundo quando o assunto é cirurgia plástica. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2004 foram realizadas cerca de 600 mil cirurgias em todo o país, 97 mil apenas na Região Sul. Apesar das cirurgias estéticas terem maior visibilidade, 41% dos procedimentos realizados correspondem às chamadas cirurgias reparadoras. Números do Ministério da Saúde mostram que, em 2005, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou cerca de 37 mil cirurgias desse tipo.
De acordo com a presidente da seção paranaense da SBCP, Ana Zulmira Badin, as cirurgias reparadoras são indicadas para casos em que o paciente sofreu alguma mutilação. Isso pode ter ocorrido devido à retirada de um tumor, por um acidente, violência ou ainda por defeito congênito. Segundo a cirurgiã, um dos grandes avanços surgidos nos últimos anos para facilitar esse tipo de procedimento é a técnica da videoendoscopia. "Com ela conseguimos diminuir o tamanho das cicatrizes e ter mais segurança nas cirurgias", afirma.
A técnica foi inicialmente aplicada em cirurgias da face, mas atualmente pode ser utilizada em qualquer parte do corpo. A vantagem é que é menos invasiva. Nas cirurgias convencionais, os cortes variam de 10 a 15 cm. Com a videoendoscopia as incisões são menores (em média 3 cm) e não afetam o músculo. Outro benefício é o fato do aparelho contar com uma microcâmera, o que permite uma precisão cirúrgica maior. "O tempo de recuperação do paciente também é reduzido, já que o procedimento é menos traumático", completa. Por ficar menos tempo internado, os riscos de infecção também são menores.
Segundo Ana Zulmira, os custos da cirurgia são superiores aos da técnica convencional. O aluguel do equipamento varia de R$ 200 a R$ 400. "É uma pena que alguns convênios ainda não cubram esse tipo de operação, já que apesar do custo extra o tempo de internamento do paciente é menor", afirma.
De acordo com o cirurgião plástico, Luiz Henrique Calomeno, o método é bastante utilizado em cirurgias de reconstrução de mama, quando é preciso trazer um músculo da região das costas para cobrir a prótese. "Isso é necessário quando é retirada grande quantidade de tecido e por conseqüência a pele não consegue cobrir a prótese de maneira adequada", explica. Segundo ele, pela técnica convencional era feito um corte de 10 cm na região do sutiã. Com a videoendoscopia, a incisão se reduz a 3 cm e é feita na axila, região que tem cicatrização mais rápida.
Calomeno explica que este procedimento é feito não apenas em pacientes que passaram por uma mastectomia, em decorrência da retirada de um tumor, mas também em situações em que a paciente apresenta atrofia congênita da mama. Esse era o caso da recepcionista Andréa Mendonça da Silva, de 29 anos. Ela nasceu com a síndrome de Poland, que causa a atrofia de uma das mamas. Em 2005, Andréa passou por uma operação para reconstruir a região, usando a videoendoscopia. "Mudou minha vida. Eu me sentia muito mal porque às vezes mesmo usando sutiã com enchimento ficava estranho", lembra.
Segundo Calomeno, nas situações em que é feita a retirada da mama por conta de um tumor, a reconstrução imediata representa uma grande diferença na recuperação e auto-estima do paciente. "Antigamente se esperava anos para que fosse feita a reconstrução, com isso a mulher já abalada pela doença sentia-se mais fragilizada por ter sua auto-estima afetada. Os resultados disso se refletiam na imunidade, e a resposta ao tratamento era prejudicada. Hoje reconhece-se a importância do oncologista e o cirurgião realizarem um trabalho conjunto", afirma. No sistema público de saúde, entretanto, isso ainda é feito em duas etapas.
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