Quarenta e seis presos fugiram da 9ª Subdivisão de Polícia Civil (SDP), em Maringá. A fuga em massa aconteceu por volta das 5 horas desta sexta-feira (27), dois dias depois de outros quatro detentos escaparem do mesmo local. Segundo o delegado-chefe da 9ª SDP, os presos saíram por um buraco na parede que dava acesso à rua dos fundos da delegacia.
O número de detentos que fugiram nesta sexta-feira (27) é equivalente a um quarto do total que havia na carceragem na 9ª SDP. Apesar da movimentação, os policiais não perceberam a fuga e só se deram conta da situação depois de serem avisados por moradores da região.
"É inadmissível que nenhum dos agentes carcerários que estavam de plantão não tenham percebido a fuga. É vergonhoso que a polícia fique sabendo de um fato como este pela comunidade", disse o delegado-chefe da 9ª SDP, Luiz Carlos Barroso. Ele alegou que, por questões de segurança, o número de agentes que estava de plantão não será divulgado.
Barroso afirmou que vai instaurar um inquérito policial para verificar possíveis falhas na vistorias das celas. Ele lembrou que, após a fuga de quarta-feira (25), todos os presos da unidade foram colocados no pátio do banho de Sol para que os policiais verificassem todas as celas. "A informação que tínhamos é de que não foi localizado qualquer índico de possível rota de fuga. E hoje aparece esse buraco? É inacreditável."
Por volta das 9 horas desta sexta-feira (27), o setor de carceragem informou que sete dos 46 foragidos haviam sido localizados pelas equipes das polícias Civil e Militar em diferentes pontos da cidade. Em torno das 10h30, o delegado-chefe afirmou que equipes policiais de toda a região permaneciam mobilizadas para localizar os presos foragidos.
Na quarta-feira (25), houve outra fuga. Quatro detentos fugiram por um buraco feito em uma das celas da cadeia da 9ª SDP. O grupo escavou o túnel entre a parede e o chão de uma das celas, criando um túnel. Os detentos também saíram pelos fundos da 9ª SDP e tiveram de pular dois muros, um deles cercado com arame farpado, para chegar à rua. Antes das fugas desta semana, o minipresídio da 9ª Subdivisão de Polícia Civil comportava 180 presos, no entanto, a capacidade do local é de 64 pessoas.
Autoridades de segurança já haviam alertado sobre situação alarmante no minipresídio de Maringá
Na semana passada, após uma reunião que questionou o novo sistema adotado pela Central de Vagas da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (Seju), a juíza da Vara de Execuções Penal (VEP) de Maringá, Jane dos Santos Ramos, o presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Maringá (Conseg), coronel Antonio Tadeu Rodrigues, e o delegado-chefe da 9ª SDP, Sérgio Luiz Barroso, destacaram a situação alarmante no sistema penitenciário maringaense.
A juíza Jane dos Santos Ramos defendeu que a superlotação e as péssimas condições de higiene da 9ª SDP criam um ambiente favorável a rebeliões e a fuga de presos. Na ocasião, a juíza pontuou que o processo burocrático da Seju, que prevê transferências a partir de ordem cronológica e reservas de vagas de 40% a presos da cidade, era insuficiente para atender à demanda prisional local.
O coronel Rodrigues criticou a Central de Vagas e afirmou que o processo burocrático anulou o poder do Judiciário sobre os presos da própria Comarca. "Assim fica difícil para a Justiça controlar a questão prisional na cidade. Na verdade, fica impossível realizar emergencialmente a remoção ou a transferência de um preso. Isso é incabível."
Até as fugas desta semana, a delegacia mantinha, em média, 170 presos, mas a capacidade é para 64 homens, segundo o delegado-chefe da 9ª SDP, Sérgio Luiz Barroso. "Como a cidade possui três unidades prisionais, a delegacia não deveria enfrentar este tipo de problema. Deveria, sim, cumprir sua função de alojar os detentos até a conclusão do inquérito policial."
Comissão da OAB alertou sobre situação da 9ª SDP há um ano
Em setembro de 2012, integrantes da Comissão dos Direitos Humanos da seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) estiveram em Maringá e consideraram a 9ª SDP a pior unidade carcerária da cidade.
A presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-PR, Isabel Mendes, disse à época que problemas estruturais e superlotação são comuns em todas as unidades do estado, mas que as condições precárias de higiene e de convivência em Maringá chamaram a atenção. "Ouso dizer que encontramos o inferno na terra."
Ela relatou que em celas onde deveriam estar quatro presos havia 22. "Encontramos baratas, ratazanas e um cheiro insuportável causado por vazamentos da tubulação do local. É uma situação lamentável."
Em março deste ano, as péssimas condições da delegacia de Maringá motivaram uma rebelião. Durante o motim, os detentos reivindicaram melhorias na cadeia e transferências de presos por causa da lotação. Em julho, apenas 16 homens haviam sido transferidos para a Casa de Custódia de Maringá.
