Nem homicídios, nem assaltos ou agressões. O barulho é o que mais mobiliza a estrutura da Polícia Militar em Curitiba durante os finais de semana. As estatísticas da Central de Atendimento da PM revelam que 50% das chamadas telefônicas recebidas nesses períodos são para casos de perturbação de sossego, em que pessoas reclamam de som alto, gritaria e algazarra. Apesar de estar entre as atribuições da polícia, o atendimento a esses chamados é visto com preocupação pela população, que teme o prejuízo a ocorrências de maior gravidade.
Segundo o chefe do Centro de Operações Policiais Militares (Copom), major Olavo Vianei Nunes, em média, metade dos atendimentos prestados nos finais de semana é para casos de perturbação de sossego. Em alguns casos, esse número chega a 70%. "É um período em que as pessoas aproveitam para beber, fazer festa e acabam exagerando muitas vezes. Como a perturbação de sossego é uma contravenção penal, é nosso dever atender também esse tipo de ocorrência", explica.
Nunes conta que as reclamações mais comuns são as relacionadas a estabelecimentos comerciais, como bares com música ao vivo, e de automóveis com som alto. "Há um número muito grande de chamados para postos de combustíveis, onde os jovens costumam se reunir e ouvir música", relata. Tanto estabelecimentos como pessoas físicas estão sujeitos a uma série de penalidades, como multas e sanções administrativas. As multas podem chegar a R$ 18 mil nos casos de reincidência.
Além da PM, que recebe reclamações pelo telefone 190, em Curitiba, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) também pode ser acionada nesses casos. Através do telefone 156, a população pode denunciar situações em que os limites de ruído estejam sendo desrespeitados. O chefe da divisão de fiscalização da Sema, Luiz Fernando Laska, diz que, em média, 30 denúncias chegam ao órgão todos os dias.
União
A algazarra promovida na Praça dos Menonitas, no bairro Boqueirão, é um exemplo de como esse tipo de ocorrência ocupa o tempo da polícia. Por muitos anos, vizinhos eram obrigados a chamar a PM por causa de som alto, bebedeira e brigas. O problema só foi resolvido com a instalação de um módulo policial no local. "A praça voltou a ser ocupada para lazer, caminhadas e prática de esportes. Acabou a baderna", conta o presidente do Conselho de Segurança do Hauer, Wilson Baptista Júnior.
A coordenadora estadual dos Consegs Michelle Lourenço Cabral acredita que o grande volume de casos de perturbação de sossego é prejudicial à polícia, visto que parte do efetivo se vê obrigada a se deslocar para essas ocorrências. "Não se trata de caso de polícia, mas de falta de educação. É preciso um pouco mais de consciência das próprias pessoas para aprender a respeitar mais seu vizinho."