Rio O homem brasileiro vem ajudando mais nas tarefas domésticas, mas ainda é a mulher quem mais tempo dedica a afazeres como cozinhar, limpar a casa e cuidar dos filhos mesmo sendo cada vez maior a inserção feminina no mercado de trabalho. A informação consta de estudo divulgado ontem pelo IBGE, que tem como base a comparação de dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) dos anos de 2001 e 2005.
Não se sabe exatamente o que tem motivado os homens a colaborarem mais: se um maior grau de conscientização ou o fato de suas mulheres não terem mais tanto tempo para a casa, já que passam muitas horas na rua, trabalhando. Os números mostram que, em 2001, 42,6% dos homens se incumbiam desses afazeres; em 2005, o índice passou para 51,1%. Trata-se de uma conquista feminina, mas, ainda assim, as mulheres têm jornada muito mais pesada. De acordo com os resultados da PNAD de 2005, 90,6% das brasileiras se ocupam de tais tarefas.
O volume de horas gastas semanalmente com essas atividades é outro dado que fala por si. Elas passam 25,3 horas cozinhando, arrumando e assistindo as crianças; eles, 9,9 horas. Se for somada a labuta na rua e no lar, as mulheres trabalham uma hora a mais por semana, apesar de a carga horária masculina ser mais extensa. Uma boa notícia: graças, talvez, aos novos eletrodomésticos, as horas dispensadas às tarefas por ambos os sexos se reduziram em cinco horas, de 2001 a 2005. Entre as mulheres, a queda foi maior, porque elas passaram a trabalhar mais fora de casa.
"A participação masculina aumentou, mas não expressivamente. O fato de a mulher ficar mais tempo no trabalho do que antes não significa que ela vá se dedicar menos à casa. É uma questão cultural: este ideário é construído desde a infância", esclarece Cristiane Soares, técnica de coordenação de população e indicadores sociais do IBGE, que trabalhou no estudo
O trabalho revelou que, de fato, a divisão desigual das tarefas entre os sexos começa cedo. Mesmo que estejam na escola (onde, a propósito, apresentam resultado superior ao dos meninos, conforme constatado em outras pesquisas) ou que já tenham começado a trabalhar, as meninas perdem muito mais tempo ajudando na cozinha e tomando conta dos irmãos mais novos. Na faixa dos 10 aos 17 anos, enquanto 47,4% dos garotos têm afazeres domésticos em sua rotina, 82,6% das garotas enfrentam a mesma situação.
O psicanalista Theodor Lowenkron, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica: "À medida em que a mulher vai ganhando o espaço público, no espaço privado o homem começa a dividir as tarefas. Mas é evidente que os mais conservadores vão resistir a essa tendência".
Duas profissões se destacam como as que menos colaboram: os militares e os homens que são empregadores (empresários ou donos de lojas, por exemplo). Entre os brasileiros, os nordestinos, provavelmente por serem mais machistas, são os menos participantes oposto dos nascidos no Sul do país, concluiu o IBGE.
Os mais escolarizados são os menos resistentes à mudança de mentalidade: 54% dos homens com doze ou mais anos de estudo disseram se envolver com os afazeres, contra 47% daqueles com até quatro anos de estudo. "Os que têm mais escolaridade são mais abertos a este tipo de avanço", justifica Lowenkron. Já entre as mulheres, são as com menos estudo e mais pobres as mais assoberbadas os maridos auxiliam bem menos ; as mais escolarizadas e com maior renda preferem contratar empregadas domésticas.