Dezesseis municípios do Paraná farão manifestações públicas ao longo de todo o dia para lembrar à sociedade que hoje é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. As mobilizações ocorrem em todos os estados e no Distrito Federal, numa tentativa de jogar luz sobre um problema que na maioria das vezes acontece entre quatro paredes, gerado por pessoas muito próximas da vítima. Uma a uma, pesquisas têm derrubado o folclórico mito do tarado que persegue criancinhas nas ruas. Em média, nada menos do que seis entre dez casos de violência sexual acontecem dentro da própria residência da pessoa agredida.
Esse revés doméstico é exposto numa pesquisa do Hospital Pequeno Príncipe, instituição responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes que sofreram maus-tratos em Curitiba e na região metropolitana. Das 243 crianças atendidas no ano passado, 164 (67%) eram meninas e 79, meninos. Do total, 66% foram alvo de violência sexual e 58% passaram pela experiência dentro de casa. O pai é o principal agressor, em 14% dos casos, ao lado dos vizinhos. Em seguida, aparecem os padrastos (10%). Somadas, as agressões do pai, mãe, padrasto, madrasta, irmãos, tios, primos, avós e babás também chegam a 58% das ocorrências.
De maneira geral, o agressor tinha alguma proximidade com a vítima. Das 243 crianças atendidas, apenas 19 sofreram maus-tratos de estranhos. Do total, 14% das agressões aconteceram quando ela estava na rua e 8% na casa de vizinhos. As creches e escolas aparecem em 5% dos registros. Outro fator preocupante é que a reincidência alcança um quarto dos casos: 26% das crianças atendidas já haviam sido agredidas outras vezes. A idade média das vítimas é de 5,8 anos, havendo registros de bebês com menos de um ano de idade e adolescentes com 16. Já o agressor tem em média 25 anos, com variação que oscila dos 10 aos 60 anos de idade.
Os casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes atendidos pelo Pequeno Príncipe dividem-se em violência física, sexual, psicológica e negligência. Chegam com maior freqüência ocorrências de violência sexual (dois terços do total) e de violência física (20%). Segundo o hospital, na maioria das vezes é preciso uma intervenção médica, pois as crianças chegam bastante machucadas. Na análise dos médicos, 32% das situações eram graves, outras 41% de caráter moderado e 17%, leves. Essa escala de avaliação, no entanto, independe das marcas físicas que a violência tenha deixado. Leva-se em conta o risco de morte a que a vítima foi exposta.
Um bebê abandonado, por exemplo, pode não ter lesões aparentes, mas as condições em que se encontra representam um risco iminente de morte. "Nós analisamos o quadro de risco em que essa criança está inserida", explica a médica Maria Cristina Silveira, coordenadora dos atendimentos no Hospital Pequeno Príncipe. Em 57% dos casos não havia lesões, mas a gravidade revelava-se no comportamento da criança, seu estado de saúde e equilíbrio emocional.