Saiba mais sobre o perfil do taxista curitibano| Foto:

A maioria dos taxistas de Curi­tiba já foi multada e se envolveu em acidentes. Pesquisa coordenada pela professora Iara Thielen, do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), constatou que 65% dos taxistas foram multados pelo menos uma vez e que 60,2% já se envolveram em acidentes. Os índices, levantados em entrevistas com 156 taxistas em 2008, foram considerados elevados. "Se ele é profissional do trânsito, não pode ter multa porque isso significa que ele infringiu algo, que colocou al­­guém em risco", analisa a professora. "As pessoas que fazem do trânsito o seu trabalho têm de cuidar muito mais do que os outros."

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Iara não possui dados sobre infrações cometidas por motoristas em geral para comparar com os dos taxistas. Mas números da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) mostram que apenas 12% dos mo­­toristas já foram multados – proporção bem menor do que a revelada pela pesquisa feita com os taxistas. A Diretran não tem dados específicos sobre motoristas de táxi.

A professora analisa que, mesmo com um índice alto de acidentes e infrações, os taxistas geralmente transferem a culpa ao outro. Entre os que se envolveram em acidentes, 17% se declararam culpados. No total, 96,5% não se consideram um fator de risco no trânsito e 94% não confiam no comportamento dos outros motoristas. Para eles, quem oferece perigo são os pedestres, os motociclistas, os condutores inexperientes, os idosos e as mulheres.

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A conclusão do estudo é que a familiaridade com o trânsito e com os riscos faz com que o taxista cada vez se arrisque mais. "É como se a gente fosse cozinhar e todo dia botasse um pouquinho a mão na panela quente", compara Iara.

Ao volante

Para taxistas, o fato de a maioria ter sido multada e se envolvido em acidente não acontece por imprudência, mas por estarem mais expostos. O presidente do Sin­dicato Intermunicipal dos Con­dutores Autônomos de Táxi no Paraná, Pedro Chalus, estima que cada motorista de táxi passa em média 14 horas diárias no trânsito, dirigindo de 250 a 300 quilômetros diariamente. Segundo Chalus, a maioria dos acidentes que envolvem taxistas é provocada por terceiros.

Além de maior exposição no trânsito, outro fato que contribui para acidentes, na opinião do taxista Dival Velozo, é descuido. Se­­gundo ele, todos os motoristas colaboradores que trabalharam no táxi dele se envolveram em acidentes. Outro fator é a pressão do passageiro. "O passageiro às vezes obriga você a cometer a infração. Em cima da hora ele fala ‘para aqui’, ‘vira aqui’, pede para acelerar. Dificilmente entra um que fala ´vai tranquilo´." Dival, taxista desde 1981, diz que nunca se envolveu em acidente. O segredo? "Aten­ção, calma e reflexo."

As multas dos taxistas geralmente são por falar ao celular, dirigir sem cinto e estacionar em local proibido, no momento do embarque e desembarque do passageiro. O taxista Luís Telles, há dez anos na profissão, divide o táxi com outros dois motoristas. Receberam juntos, neste ano, multas que somam R$ 2,3 mil, principalmente por estacionar em local proibido. Ele se defende e diz que recebeu uma delas quando ajudava uma senhora idosa a desembarcar do táxi. Foi multado no momento em que descarregava do porta-malas a cadeira de rodas da passageira.

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Cerca de 5 mil motoristas trabalham em táxis, segundo a Urba­nização de Curitiba S/A (Urbs), que gerencia o serviço. A Urbs não quis se pronunciar sobre a pesquisa, mas disse que o serviço é "rigorosamente fiscalizado", com vistorias mecânicas nos veículos e na documentação dos taxistas.