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Curso de qualificação fez com que João Paulo desistisse de rumar para a cidade. Hoje ele administra a propriedade da família | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Curso de qualificação fez com que João Paulo desistisse de rumar para a cidade. Hoje ele administra a propriedade da família| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

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ONGs ajudam a frear saída do meio rural

Algumas ONGs como a Associação Regional das Casas Familiares Rurais (Arcafar) e o Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (Cedejor), aliadas às políticas públicas disponibilizadas pelo estado, tentam fazer com que jovens permaneçam no meio rural. Um dos exemplos que tem gerado resultados é o trabalho com filhos de pequenos produtores rurais desenvolvidos pelo Cedejor, incluindo cursos de empreendedorismo para jovens.

Formado pelo Cedejor em 2010, João Paulo Opuckeviz, de 21 anos, não tinha mais esperanças de permanecer no campo e já tinha entregado currículos em supermercados com a intenção de morar na cidade. Hoje, ele administra a propriedade da família, em Prudentópolis, nos Campos Gerais, e deixou a produção de fumo para se dedicar ao cultivo de verduras e legumes. "Meu pai ficou doente e a gente quase perdeu a esperança. Hoje planto alface, cenoura, rabanete, beterraba. Também fiz um projeto para plantação de pepinos e espero colher a segunda safra em setembro, entregando mais de 500 quilos por dia para a indústria", comemora.

  • Veja o ranking da população rural no Brasil

PONTA GROSSA - O êxodo rural na última década atingiu a marca de 835 mil jovens no país. Em números absolutos, o Paraná foi o segundo estado que mais perdeu população no campo com idades entre 15 e 24 anos, na comparação entre os censos de 2000 e 2010. Foram 73,9 mil baixas, um total só menor do que o verificado em São Paulo, que teve redução de 184,6 mil jovens. Proporcionalmente à sua população, o estado teve a 5.ª maior queda – 22,4% dos jovens que moravam no campo se mudaram para as cidades (veja gráfico).

Por outro lado, há estados brasileiros que ganharam população jovem rural na última década. O Pará foi o que mais teve acréscimo de jovens (53,5 mil), o que significa um aumento de 12%. Na proporção, Roraima foi a unidade da federação que mais aumentou sua participação de jovens no campo, 24%, com acréscimo de 4,5 mil.

De acordo com estudo elaborado por Valter Bianchini, doutor em Meio Ambiente e Desen­vol­­­vimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-secretário de Agricultura do estado, o que mais dificulta a permanência de jovens no campo é a falta de lazer, renda e de projetos de incentivos e políticas públicas. Ele aponta também que nas propriedades com condições econômicas melhores, mais próximas aos centros urbanos e com melhor infraestrutura, a migração de jovens é menor.

Geral

A diminuição do crescimento geral da população é apontada como um dos principais fatores para o fenômeno da diminuição de jovens no meio rural na opinião do geógrafo Luiz Alexandre Gonçalves Cunha, mestre em Gestão do Território e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). "Nessa faixa etária, os jovens estão procurando educação e trabalho, além disso, o crescimento vegetativo da população diminuiu a partir da década de 1980. O meio rural também está mais velho. A média de idade no campo hoje é superior aos 55 anos", aponta.

Para o economista e professor da UFPR, Nilson Maciel de Paula, os centros urbanos ainda exercem uma grande atração sobre os jovens brasileiros. "Diferente­mente de países como Estados Uni­­­dos e algumas regiões da Europa, o Brasil ainda não esgotou esse processo de migração. Aliado a esse aspecto, nos últimos anos houve uma atividade econômica mais intensa nas cidades, com geração de novos postos de trabalho, além de um certo apagão de mão de obra, principalmente nos setores têxtil e da construção civil", diz. Na opinião do professor, falta também uma estratégia que torne o meio rural atrativo ao jovem.

De outro lado, o governo tenta fazer com que a população com idade entre 15 e 24 anos permaneça no campo, mas esbarra nas políticas de acesso à terra. "Existe crédito direcionado principalmente aos jovens de até 29 anos para o financiamento da produção, mas há requisitos específicos que tornam essa modalidade mais difícil. É preciso também uma política mais eficiente de crédito fundiário e reforma agrária", afirma o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura e Abas­­tecimento do Estado (Seab), Jeferson Vinícius Meister.

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