Ao menos 83% dos 2.100 hospitais filantrópicos do país operam no vermelho, segundo estimativa da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB). A dívidas instituições supera R$ 17 bilhões, de acordo com José Luiz Spigolon, diretor-geral da CMB. Ele afirma que, mesmo com o aumento dos incentivos governamentais nos últimos anos, as unidades de saúde ainda não recebem o que gastam com os procedimentos via SUS.
"Em média, a tabela SUS só cobre 60% do gasto real do procedimento. O problema é que os incentivos não estão disponíveis para todos os tipos de hospitais e, além disso, quando o hospital faz mais procedimentos do que o previsto em contrato, ele dificilmente recebe por eles", explica o diretor.
De acordo com Spigolon, isso ocorre porque os filantrópicos ganham por produção, mas têm um número limite de procedimentos pelos quais são remunerados. Se realizam mais procedimentos do que o previsto, podem ficar sem pagamento porque os valores ultrapassam o teto de verbas do gestor público "Em 2012, os governos deixaram de pagar R$ 334 milhões em internações."
Aos 471 anos e com dívida de R$ 130 milhões, a Santa Casa de Santos, a mais antiga do país, é uma das filantrópicas que passam por crise. "A Santa Casa não tem de dar lucro, mas deve ter equilíbrio nas contas, coisa praticamente impossível com a tabela SUS", diz a diretora financeira, Miriam Diniz. Dona de um patrimônio de R$ 534 milhões, a instituição prepara a venda de imóveis e vai pedir uma linha de crédito no BNDES.
Para Spigolon, o fim do endividamento dos filantrópicos passa por mudanças na gestão das entidades e aumento de repasses. "É preciso que o projeto de lei que prevê uso de 10% da receita bruta do país para a saúde seja aprovado."