A história do Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB) se confunde com os principais acontecimentos culturais, sociais e intelectuais de Curitiba e do Paraná no início do século 20. Era uma época em que o catolicismo estava em crise. As influências do Iluminismo, do racionalismo e da ascensão do comunismo na União Soviética (1917) relegaram qualquer religião a um segundo plano. Prevalecia a ideia de uma ciência sem religião e anticlerical inclusive na capital do estado.
Na tentativa de remar contra essa maré, a Igreja Católica de Curitiba procurou reagir. Para isso, aliou pesquisa, ensino, tecnologia e cultura aos ideais católicos e deu início em 19 de março de 1929 ao círculo. A entidade começou com 11 personalidades que escreveram seus nomes na história paranaense, como José Loureiro e Bento Munhoz da Rocha Netto (veja lista). A primeira reunião ocorreu há 85 anos, no dia 4 de setembro. Durante 16 anos, eles se reuniram em suas próprias casas até que, em 1945, foi construída a sede própria, situada na Rua XV de Novembro, no Centro da cidade.
Segundo o atual presidente do CEB e reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Waldemiro Gremski, a fé estava em xeque naquele período. "A Igreja Católica reuniu um grupo de intelectuais que pudessem fazer pesquisa, escreverem artigos e livros. Também apoiaram a criação de jornais na cidade para reagir frente àquela realidade", conta. Ele acrescenta ainda que o CEB reuniu pessoas dos mais diversos ramos, como políticos, religiosos, profissionais liberais, médicos e advogados.
Legado
Se não fosse o CEB, talvez o rumo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fosse outro. A principal contribuição foi justamente conseguir a manutenção da universidade, que corria riscos na segunda metade de década de 1940.
Criada em dezembro de 1912, liderada por Victor Ferreira do Amaral e Silva, a instituição levava a alcunha de Universidade do Paraná. Três anos depois, em 18 de março de 1915, um decreto federal exigia que as universidades fossem equiparadas a estabelecimentos oficiais e tivessem cinco anos de funcionamento em localidade com população superior a 100 mil habitantes.
Sem poder levar mais o nome de "universidade", a instituição recorreu à estratégia, em 1918, de separar as faculdades de Direito, Engenharia e Medicina, concedendo-lhes autonomia de ensino, mas mantendo-as no mesmo edifício sob uma única diretoria.
Durante cerca de 30 anos buscou-se restaurar a universidade. Foi aí que o CEB salvou a instituição. Entre 1935 e 1936 o círculo já havia criado o primeiro curso de Filosofia no estado, transformado em faculdade em 1938. Para a UFPR voltar a ser universidade, era preciso por questões legais ter um curso de Filosofia. Os irmãos maristas acabaram cedendo, em 1946, a Faculdade do CEB para a universidade. "Se não fosse isso, o destino da UFPR poderia ser outro", ressalta o presidente do círculo.
Onde fica
O Círculo de Estudos
Bandeirantes está localizado na Rua XV de Novembro, 1.050, no Centro de Curitiba. Telefone (41) 3222-5193.
As origens da PUCPR estão ligadas ao CEB
Logo após ceder a faculdade de Filosofia para a Universidade do Paraná, os idealizadores do Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB) criaram uma faculdade, também de Filosofia, em 1949. A ideia era dar continuidade aos ideais católicos voltados ao ensino, criando assim a primeira instituição particular de ensino superior no Paraná. Depois, passou a se chamar Faculdade Católica de Filosofia, Ciências e Letras de Curitiba e Universidade Católica do Paraná (em 1959). Hoje, atende por PUCPR. "A criação da nova faculdade pelo CEB foi a semente para a criação do que hoje é a PUC", afirma o presidente do círculo e reitor da instituição, Waldemiro Gremski.
Atualmente, o círculo é local de estudos e pesquisa, com acervo bibliográfico de quase 20 mil exemplares, reunidos em 7.781 títulos, com obras raras dos séculos 17, 18, 19 e 20, além de manuscritos, periódicos e documentação histórica. Segundo a diretora do CEB, Kátia Biesek, a consulta aos livros pode ser feita por qualquer pesquisador e o espaço pode ser visitado gratuitamente. "O material que temos é muito rico. Aqui foi uma espécie de berço para estudos e para a intelectualidade do Paraná", ressalta.
Segundo Gresmki, o CEB também tem por finalidade incentivar estudos de interesse nacional por meio de pesquisas, conferências e publicações, estimulando trabalhos referentes à cultura, de modo especial na esfera regional paranaense. A instituição, que desde 1987 é administrada pela PUCPR, possui ainda coleções e arquivos de famílias tradicionais do estado, além de obras de arte e mobiliários antigos. Além disso, muitos debates e palestras, com intelectuais da Europa, já foram promovidos pelo CEB.