Quase nove em cada dez soldados da Polícia Militar (PM) do Paraná devem chegar à aposentadoria sem terem sido promovidos uma única vez sequer ao longo da carreira. Eles ingressaram na corporação como soldados e sairão como soldados. A projeção, feita pela Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra-PR), revela a dificuldade dos policiais de base em ascender na atividade e o desestímulo que essa estagnação pode provocar na instituição.
A PM conta hoje com 14.005 soldados. Para serem promovidos a cabo patente seguinte na hierarquia da corporação eles precisam ser aprovados em um concurso interno. O problema é que o número de vagas abertas média de 60 por ano é insuficiente. De acordo com a projeção, nos próximos 30 anos, apenas 1,8 mil soldados terão conseguido ascender a cabo. Mas 12.225 soldados 87,3% do total chegarão à aposentadoria com a mesma patente na qual entraram na Polícia Militar. Seriam necessários 234 anos para que todos os soldados chegassem a cabo e subissem um degrau na carreira.
As dificuldades de progressão não se restringem aos soldados. O mesmo estudo aponta que 2.804 cabos integram o efetivo da PM, mas apenas 150 vagas para curso para sargento foram abertas em cinco anos. O estudo foi encaminhado ao Comando da PM do Paraná, mas a corporação não havia analisado os dados. A instituição deve se manifestar nesta segunda-feira.
Desmotivação
Para o presidente da Apra-PR, Jair Ribeiro Júnior, a dificuldade em progredir na carreira acaba por desmotivar o policial, o que, por consequência, impacta na qualidade do serviço que é prestado à sociedade. Esse engessamento se torna mais expressivo ao atingir os praças soldados, cabos e sargentos , que são os policiais que mais fazem serviço de rua, em contato direto com a população.
"Se um servidor público não tem um plano de carreira que atenda a base da instituição, ele acaba se sentindo desmotivado e isso se reflete no atendimento. Quando você liga para o 190, é um policial de base que vai à sua casa. Então, os reflexos disso são sentidos em toda a corporação", pondera.
Dois soldados ouvidos pela Gazeta do Povo que tiveram acesso ao estudo também se mostraram desmotivados diante dos números. Um deles destaca os riscos aos quais os policiais de base estão suscetíveis e diz que pensa em deixar a corporação. "A nossa situação é de estagnação total. Não vale a pena. Eu estou estudando para prestar concursos em outras instituições. A vontade é de deixar a farda", admite.
O coronel Rui César Melo, ex-comandante da PM de São Paulo, avaliou como "muito baixos" os porcentuais de soldados promovidos no Paraná. Ele acredita que a progressão "rigorosa e com critérios" contribui para estimular os policiais. "A promoção tem que ser vista como um estímulo e exerce um efeito muito grande no desempenho dos policiais. Os números deveriam ser o contrário [87% deveriam ser promovidos antes da aposentadoria]", avalia.
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