Mulheres que moram no interior do Paraná e precisam fazer o exame de mama para detectar um possível câncer encontram duas realidades: enquanto em poucos municípios sobram vagas para fazer a mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na maioria deles as mulheres precisam viajar a outra cidade para ter acesso ao mamógrafo. Apenas 36 cidades paranaenses dispõem do equipamento pelo SUS, ou 9% dos municípios. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa morte entre as mulheres: o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que morrem, por ano, 11 mil mulheres na faixa etária de 40 a 69 anos e que apenas para 2010 são esperados 49,4 mil novos casos da doença no país. A má distribuição dos mamógrafos é um problema que existe em todo o Brasil e, no Paraná, não é diferente. Relatório feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no ano passado, levantou quantos equipamentos existem no país e onde eles estão funcionando a conclusão é que não faltam aparelhos, mas que eles não estão espalhados de maneira homogênea. Em Pato Branco (com 70 mil habitantes), por exemplo, há cinco mamógrafos que atendem pelo SUS. Foz do Iguaçu, que tem quatro vezes o número da população (325 mil), tem apenas quatro equipamentos. Já cidades como Marechal Cândido Rondon e Rio Negro padecem pela falta do aparelho: quem vive em Marechal precisa viajar 41 quilômetros até Toledo para conseguir fazer o exame de mama. As mulheres de Rio Negro enfrentam 117 quilômetros porque só conseguem o exame gratuitamente em Curitiba.A discrepância na distribuição dos mamógrafos faz com que alguns municípios tenham fila de espera e em outros sobrem vagas para o exame sem contar aqueles 363 que nem ofertam o serviço. A prefeitura de Toledo tem parceria com duas clínicas particulares que atendem os exames de mama pelo SUS são nestes dois lugares que as mulheres de Marechal Cândido Rondon também são recebidas. Em uma das clínicas há uma cota de 39 mamografias por mês para esse público, na outra são 27 em ambas a cota quase nunca é preenchida. Detalhe: o Inca afirma que o ideal seria que cada mamógrafo produzisse 25 exames por dia (e não por mês), ou seja, além de os equipamentos serem subutilizados, a baixa procura é mais uma prova de que as mulheres de Marechal não estão em busca do serviço porque ele está longe de suas casas. Em Pato Branco não há filas para o exame e mesmo assim a procura é pequena. Os cinco mamógrafos produzem oito vezes menos do que o esperado pelo Inca: ao invés de 25 exames por dia, cada um dos cinco faz cerca de três exames diários.
Em Curitiba a demanda é bem maior: os 11 locais que atendem pelo SUS fazem, por dia, cerca de 50 a 60 exames por mamógrafo, ou seja, o dobro do esperado pelo Inca.
A paciente Jacy de Moura, 53 anos, foi ao posto de saúde em novembro do ano passado para tentar marcar a mamografia e só conseguiu exame para abril deste ano. Desistiu. Voltou no final de abril e teve uma surpresa: três dias depois já poderia fazer a mamografia. "Antes demorava um monte, agora foi superrápido", diz.
Desde que a prefeitura lançou o programa Mulher Curitibana, no fim do ano passado, as mulheres de 50 a 69 anos conseguem fazer o exame facilmente. "Estamos atrás das mulheres dessa faixa etária para que elas façam o preventivo do colo de útero e a mamografia", diz a diretora do Centro de Informação da Secretaria Municipal de Saúde, Raquel Cubas.
A data de corte para o exame também gera polêmica no estado. Enquanto Curitiba concede o exame gratuito de mama apenas para as mulheres com mais de 50 anos, os outros municípios atendem pacientes pelo SUS a partir dos 40 anos. A exceção de Curitiba é aberta apenas para as mulheres mais novas que têm histórico familiar de câncer de mama ou que já têm nódulos no seio. "O grupo técnico da prefeitura de Curitiba, junto com o Inca, decidiu que o exame de rastreamento é mais eficiente nas mulheres com mais de 50 anos, porque a incidência de câncer neste público é dez vezes maior do que nas mulheres mais novas", explica Raquel.
A oncologista e coordenadora-geral do Hospital Erasto Gaertner, Claudiane Minari, acredita que se adota 50 anos como idade de corte por uma questão de saúde pública: como o recurso é finito, concentra-se a atenção no público em que mais ocorre a incidência do câncer. "As mulheres que puderem fazer a mamografia a partir dos 40 anos, melhor", afirma. No ano passado, uma lei foi aprovada garantindo o acesso à mamografia pelo SUS às mulheres a partir dos 40 anos a lei ficou apenas no papel em grande parte do país.Sesa diz que quantidade é suficiente
No ano passado, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) realizou 232.531 exames de mamografia no estado, um número que tem aumentado gradativamente. Esse resultado, segundo a Sesa, mostra que o Paraná tem cumprido as metas propostas pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) de mamografias realizadas por município.
O fato de haver 363 cidades sem mamógrafos, de acordo com a Sesa, se deve à possibilidade, ou não, de o município dar contrapartida na instalação e na manutenção do equipamento, que custa caro. E no interior, principalmente, a maioria dos municípios não apresenta essas condições econômicas. Por isso, conforme a Secretaria, foram criados os Centros de Saúde da Mulher e da Criança (em algumas cidades eles ainda estão em fase de implantação). Eles servem como apoio para atender a população das cidades menores e encaminhar as pessoas que necessitam de um tratamento ou exame médico específico para municípios próximos que dispõem do serviço. Segundo a Sesa, não existe notificação de pacientes que não conseguiram fazer o exame de mama.
A Secretaria lembrou ainda que a maior parte dos exames é feita por convênio com clínicas particulares que atendem também pacientes do SUS: elas recebem R$ 45 por exame dificilmente cidades apresentam um número grande de mamografias que possibilite a compra e manutenção de um mamógrafo a custo inferior aos R$ 45 pagos atualmente por convênio.
A falta de mamografias gratuitas em algumas cidades também pode ser explicada pelo fato de algumas clínicas particulares não aceitarem o convênio com o SUS existem dez cidades paranaenses que têm mamógrafos, mas que não fazem o exame gratuitamente.