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Estudo divulgado nesta quinta-feira (9) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 93% dos analfabetos ganham menos de dois salários mínimos. A renda é um dos principais fatores que definem a taxa de analfabetismo no Brasil, segundo o estudo, que analisa a evolução do analfabetismo e do analfabetismo funcional no país no período de 2004 a 2009. O estudo considera a população de 15 anos ou mais.

"O analfabetismo das pessoas que ganham até um quarto de salário mínimo é 20 vezes maior do que entre aqueles que ganham acima de três salários mínimos", disse o técnico em planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea, Paulo Corbucci.

Mesmo na idade adulta, alfabetização promove reorganização do cérebroHá grande diferença também entre aqueles que vivem em regiões rurais e em cidades. Segundo o estudo, entre residentes de áreas rurais, a taxa aproximava-se de 23%, em 2009, enquanto a de moradores das cidades estava pouco acima de 7%."Em geral, primeiro, (a população rural) não tem acesso à escola. Isso é um legado histórico nosso. Você tem a implantação (de escolas) em áreas rurais mais recente, de umas décadas para cá. Quando a gente pensa no Brasil até 1950, você praticamente não tinha isso. Obviamente, as pessoas que estão lá são pessoas que não tiveram acesso e que pelo tipo de ocupação, não é demandado nível de escolaridade. Isso vem sendo intensificado pelo fato de que, com o aumento da idade e com a falta de acesso, amplia a quantidade de analfabetos na área rural", disse Corbucci.

Segundo o pesquisador, cerca de 1.500 municípios do total de 5.565 do país não têm oferta de alfabetização para adultos. Esses locais estão, principalmente, no Norte e Nordeste e em regiões rurais.

São estados dessas regiões que têm as maiores taxas de analfabetismo mesmo apresentando queda das taxas de 2004 a 2009. O estado com maior taxa de analfabetismo do Nordeste é Alagoas, com 20,8%, e o estado do Norte com maior taxa é o Acre, com 12,7%. Enquanto isso, há estados como o Amapá, destaque na região Norte, com taxa de 1,5%, e o Distrito Federal, com 2,5%.

"As desigualdades estão encobertas pelas taxas médias, seja de região, da população total e, principalmente do Brasil. A taxa no Brasil já é elevada, 9,7% é muito maior que taxas de Argentina, Chile, Uruguai, apesar de serem bem menores e terem história de colonização diferente", afirmou.

Plano

Para Corbucci, o país precisa de um plano nacional de alfabetização, que deveria estabelecer parceria das três esferas de governo, federal, estadual e municipal, e da sociedade civil.

Primeiro, é preciso fazer um cadastro dos analfabetos, com nome, local de residência e condição de vida. Depois disso, é necessário analisar por que eles se mantêm analfabetos. "Pode ser oferta, renda, ineficácia do curso. A gente precisa radiografar o problema. Para depois atacar o problema", afirmou Corbucci.

As altas taxas de analfabetismo têm grandes implicações às pessoas e ao país, de acordo com o pesquisador. "Temos muita gente adulta, trabalhando e analfabeta. Isso compromete a produtividade, a qualidade do processo político no país e obviamente tem implicações negativas para cada um no país", afirmou.

Segundo o estudo do Ipea, a condição do Brasil é intermediária em relação a outros países. A taxa de 9,7% está muito abaixo de algumas das piores do mundo, como Paquistão e Moçambique (46%) e Nigéria (40%), mas acima de países como México (7,1%), China (6,3%) e Argentina (2,3%).

Analfabetismo funcional

Segundo o estudo, o analfabeto convencional é aquele que não consegue ler e escrever um bilhete. Já o analfabeto funcional tem domínio "rudimentar" da língua. Ele lê e escreve, mas não entende e não consegue contextualizar o texto."O analfabetismo funcional não é necessariamente um mal. É um passo intermediário para a garantia da escolaridade a todos. O grande problema do Brasil, de fato, é a desigualdade", disse Milko Matijascic, chefe da assessoria técnica da presidência do Ipea.

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