A Prefeitura do Rio de Janeiro deu início nesta terça-feira (19) à internação forçada de usuários de crack. A operação ocorreu durante a madrugada, às margens da Avenida Brasil, próximo à entrada das favelas Nova Holanda e Parque União, no Complexo da Maré, na zona norte.

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A ação mobilizou mais de 300 profissionais da prefeitura e do governo estadual, e resultou no acolhimento de 91 adultos e oito crianças e adolescentes. Desse total, 29 adultos foram internados involuntariamente e outros 30 aceitaram o tratamento por vontade própria.

O local se tornou a maior cracolândia da cidade após a pacificação da Favela do Jacarezinho, também na zona norte, ocorrida há cerca de quatro meses. "Esta é uma decisão que nós tomamos para salvar vidas, e vamos permanecer naquela área por tempo indeterminado", disse o secretário municipal de governo, Rodrigo Bethlem. Uma base para atendimento aos usuários está sendo instalada na área, e contará com equipes das secretarias municipais de Desenvolvimento Social (SMDS) e de Saúde.

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Os usuários adultos foram encaminhados para uma central de triagem montada em um abrigo da prefeitura no bairro de Paciência. Após passarem por avaliação de uma junta médica, os 29 internados à força - dentre eles uma grávida com diagnóstico de aids e tuberculose - foram levados a cinco hospitais na cidade.

De acordo com o subsecretário de Saúde, João Luiz Ferreira Costa a capital conta com 40 leitos em hospitais gerais de emergência destinados à internação dos usuários com quadro grave de intoxicação aguda e abstinência. O paciente será posteriormente encaminhado para residências terapêuticas e centros de atendimento psicossocial, dependendo das condições clínicas e psíquicas.

Segurança

Para evitar acidentes durante a operação, as quatro pistas da Avenida Brasil chegaram a ser fechadas por aproximadamente uma hora - há um mês, um garoto de 10 anos viciado em crack morreu atropelado ao fugir de funcionários da SMDS. Como de costume, houve correria com a chegada dos agentes e policiais ao local. Um grupo de dependentes ateou fogo em colchões e madeira, e a PM usou uma bomba de efeito moral. Pouco antes da operação, policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) entraram nas favelas da região para inibir a ação de traficantes. Houve intensa troca de tiros e dois policiais ficaram feridos por estilhaços.

A abordagem de usuários de crack, com a presença de policiais militares, foi criticada pela coordenadora do secretariado da Comissão Global sobre Política de Drogas, Ilona Szabo. "Abordagens desastradas têm destruído um trabalho mais amplo, que é com os usuários que não precisam de internação", afirmou.

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O vereador Renato Cinco (PSOL)começou a recolher assinaturas para a abertura de CPI para investigar denúncias de irregularidades no programa de internação compulsória do município. "A política pública para tratar dependentes químicos não pode ser internação compulsória. Essa é uma medida extrema, que tem que ser determinada por médico e autorizada pela Justiça. A prefeitura tem negligenciado a construção de uma rede de saúde mental e tem feito operação de higienização social disfarçada de tratamento", afirmou. (Colaborou Clarissa Thomé)