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Na tentativa de auxiliar famílias que perderam tudo, organizar donativos ou levar água para quem está sem abastecimento desde a última sexta-feira, dezenas de moradores de Antonina mudaram suas rotinas. São pessoas que deixaram de trabalhar para tentar da forma que é possível minimizar o drama das vítimas da tragédia. Segundo o último boletim da Defesa Civil Estadual, são 6 mil pessoas desalojadas, 1.160 desabrigadas e 7,5 mil afetadas de alguma forma apenas no município.
A cabeleireira Iolanda Meira da Silva, que morava sozinha, abriga agora o casal Gilmar e Iraci Queiroz Moura e seus três filhos. A família teve a casa, na região central, afetada pela chuva e pelo barro. Iolanda também fechou o salão de beleza e passa o dia ajudando na limpeza da casa dos Moura. "Fico perdida, pensando no que mais poderia fazer para ajudar o restante das pessoas."
Já a aposentada Dirce de Godoy Martins deu alojamento a familiares. Ela mora na Ponta da Pita, bairro não afetado e com o abastecimento de água restabelecido. O restante da família residia no bairro Graciosa, desocupado desde a madrugada de domingo por estar em uma área considerada de risco pelo Centro de Apoio Científico em Desastre da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Ainda bem que tenho um espaço bom na minha casa e que consegui acolher a todos. Mas é ruim ver meu filho e a família nesta incerteza", diz Dirce.
Por causa da falta de água, que persiste em sete bairros Caixa D´Água, Saivá, Barigui, Tucunduva, Batel, Quilômetro 4 e Centro , motoristas voluntários fazem a entrega de água para a população, além dos caminhões-pipa disponibilizados pela prefeitura e Sanepar. A iniciativa foi do comodoro do Clube Náutico de Antonina, Caetano Cândido Machado. Na sexta-feira passada, dia das fortes chuvas, ele pegou botes do clube e auxiliou os bombeiros a retirar pessoas ilhadas.
No sábado, Machado pediu carros emprestados de amigos e pegou um trator do clube para distribuir água, coletada da piscina do clube, que é abastecida por uma nascente de água vinda do Morro da Penha. A equipe trata a água durante a noite para levá-la aos bairros em que os caminhões-pipa não chegam. Os 30 integrantes do grupo são voluntários. Entre eles estão alguns desalojados, como a única mulher da equipe, Flávia Kalline, e seu marido, Macley Gluchowski Stecanella.
Marvyn Ferraz, de 13 anos, é o "mascote" do grupo e começou a ajudar logo no primeiro dia da ação. "Eu vi ele [Machado] passando e pedi se podia ir junto. Agora fico com os outros voluntários o dia todo." Na tarde de ontem, eles distribuíram água no bairro Tucunduva. Foi só a carreta encostar para surgirem mulheres e crianças com baldes e garrafas para encher. Em menos de meia-hora, a água levada em uma caixa dágua terminou.
Sem água
A falta de água encanada é um dos problemas que mais afeta a população de Antonina. De acordo com a comunicação social da prefeitura, o serviço deve ser restabelecido ainda hoje. O Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Antonina (Samae) explicou que a captação de água, feita no Morro da Emília, está em uma situação volúvel, já que a pressão dos morros estourou o encanamento. A Samae informou também que alguns bairros podem demorar mais para receber água, já que a pressão nos canos não será a mesma.
A água mineral que começava a faltar no comércio desde domingo, chegou em alguns estabelecimentos ontem. O abastecimento de carne foi normalizado, além da gasolina. De acordo com os comerciantes, os veículos dos fornecedores têm conseguido chegar à cidade. Portanto, a hipótese de desabastecimento, por ora, está descartada. Já as aulas continuam suspensas pelo menos até a próxima semana.
Previsão do tempo
Uma nova frente fria, que está se deslocando do Sul, deve chegar ao Paraná na próxima sexta-feira trazendo mais chuvas. De acordo com o meteorologista Marcelo Brauer, do Instituto Tecnológico Simepar, quando a frente fria se aproxima, causa um aquecimento muito rápido, que ocasiona fortes pancadas de chuva, especialmente durante a tarde. O litoral deve voltar a ser afetado por esta frente fria. O dia de hoje deve permanecer sem chuvas, mas as precipitações devem voltar a partir de amanhã.
RISCO
Vítimas tentam resgatar bens
Apesar da orientação de autoridades para que moradores de áreas desocupadas ou atingidas por desmoronamentos não retornem a essas localidades, muitas pessoas insistem em tentar salvar o que sobrou. Morador do bairro Laranjeiras, o mais atingido pelos deslizamentos em Antonina, Igor José Dias tentava salvar roupas da família encontradas no meio da lama e de troncos de árvores. "Vou catar o que tem de mais novo e levar". Valmir Cesarino do Carmo também juntava cobertores e roupas que restaram para levar a uma casa onde está com a família. "O resto, nada presta mais."
Segundo o coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná, Renato Lima, as encostas estão mais instáveis e diversos pontos estão em movimento imperceptível a olho nu. Com isso, não há necessidade de chuvas intensas para que ocorram novos desabamentos. Lima disse que as áreas devem permanecer interditadas.
A promotora de Antonina, Rosana Mikrut Demchuk, ajuizou uma medida cautelar emergencial na noite de segunda-feira pedindo reforço policial nos bairros desocupados para evitar saques e roubos. A medida solicita também delimitação das áreas de risco para que os moradores não sejam retirados das casas sem necessidade.
Colaborou Fernanda Trisotto.