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Imagine se todos os habitantes de Nova Aliança do Ivaí, no Noroeste do Paraná, enjoassem de uma hora para outra da vida no interior e resolvessem se mudar para Curitiba. Formam então uma caravana de 32 ônibus e decidem fundar um novo bairro na capital. Para desbravar a metrópole, resolvem ir juntos conhecer o Teatro Guaíra.

A viagem imaginária reuniria menos da metade dos ônibus que levaram a torcida do Atlético à final da Libertadores da América, em Porto Alegre. O novo bairro seria o terceiro menos populoso da capital, entre outros 75. E os migrantes não seriam suficientes para lotar o Auditório Bento Munhoz da Rocha, o maior dos três que o Teatro Guaíra possui – sobrariam 770 cadeiras.

Esse êxodo obviamente nunca vai sair do papel. E por um motivo bem real: com poucas exceções, os moradores da cidade de menor população do estado não trocam sua terra por nada. Nova Aliança do Ivaí, 1.406 habitantes (de acordo com a projeção do IBGE para 2004) e a 524 quilômetros de Curitiba, é o exemplo dos benefícios ocultos que uma cidadezinha pode ter em relação aos grandes centros urbanos.

Assim como não possuem restaurante, hotel, cinema – nem, é claro, teatro – as 14 ruas de Nova Aliança também não têm barracos de lona, lixo, ou crianças abandonadas. "Não que o povo seja rico, mas aqui não tem miséria", ressalta o dono de um dos dois mercados da cidade, Hédio da Silva. O comerciante, que ainda tem no estoque os lendários tênis Conga e Kichute, que não são fabricados há anos, é desconfiado e responde às perguntas com a exigência de que a reportagem não enfoque carroças nas ruas ou as galinhas que correm soltas pelo asfalto da avenida principal.

Bem, é inegável que existem as galinhas e as carroças fazem parte do trânsito. Só que dentro de muitas casas e da escola existem computadores com acesso à internet e os celulares são abundantes principalmente entre os adolescentes. Em Nova Aliança, o filho do fazendeiro e do roceiro dividem a mesma conversa e paqueram a mesma moça durante os fins de semana, com chances similares de se dar bem.

As características refletem a 192.ª posição do município no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento Humano, levantamento de qualidade de vida feito pela Organização das Nações Unidas. Uma situação nem muito boa, nem muito ruim, a um passo da média paranaense e brasileira.

Basicamente, há quatro opções de trabalho para quem não se ocupa de sua propriedade rural. Na fábrica de jeans (105 vagas), no laticínio (40), na prefeitura (97) e no campo (cerca de 300). Em média, os salários variam entre R$ 350 e R$ 600 e, segundo os próprios moradores, o desemprego é quase zero.

Paula Cristina Moro Maciel dos Santos, 26 anos, trabalha com a costura de jeans desde a inauguração da empresa Naytex, em 2003. Recebe R$ 350 mensais, mais uma quantia variável por produção, que pode chegar a R$ 60. "Minha vida mudou", diz a moça, que antes ganhava R$ 90 por mês como empregada doméstica. Embora o salário pareça pequeno, em Nova Aliança ele vale muito, já que o sistema de saúde não é sobrecarregado, há aluguel de casas por até R$ 150 e não é necessário gastar com transporte para ir ao emprego.

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