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Os sofrimentos pelos quais passam os idosos acometidos por doenças crônicas em nosso país são contínuos, progressivos e cruciais, ocasionados pela própria doença e pelo processo de exclusão em que vivem. A constatação é de profissionais do Grupo Multiprofissional de Pesquisa sobre Idosos (GMPI) do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Todos verificaram que no cotidiano do paciente renal crônico em terapia hemodialítica há grande dificuldade para assimilar as orientações de cuidados quanto à medicação.

Para tentar minimizar esse cruel processo, interpretar o sistema de conhecimento e de cuidado destes doentes acerca da terapia medicamentosa e encontrar caminhos de menores sofrimentos, o grupo realizou uma pesquisa junto aos idosos renais crônicos. No total foram 23 entrevistados – todos usuários de uma rede de hemodiálise que presta serviços ao Sistema Único de Saúde e a convênios particulares em Curitiba.

A baixa escolaridade dos idosos foi revelada pela pesquisa: 30% dos idosos entrevistados são analfabetos e 50% possuem apenas o ensino fundamental incompleto. Isto chama a atenção para o nível de compreensão do tratamento e do modo de se cuidar destes idosos. Como muitos deles não sabem ler e escrever dependem de familiares para a ingestão da medicação.

Além disso, os idosos desenvolvem saberes e práticas que possibilitam, ao seu modo, fazer uso dos medicamentos. Segundo pode-se constatar, a cor é muita significativa na identificação da medicação. Eles atribuem significados para as cores dos comprimidos, determinando assim sua composição, identificação e finalidade. Também utilizam a forma para distinguir os remédios de que fazem uso – as características das embalagens são estruturas que o idoso memoriza com facilidade. Ainda a textura do medicamento é um elemento importante para os idosos, pois o reconhecimento do remédio pode ser feito pelo tato, visão ou ambos. Do mesmo modo, a comparação entre os tamanhos dos comprimidos como maneira de identificação é freqüente entre os idosos, pois a maioria deles utiliza vários medicamentos.

Partindo desses recursos para identificar os medicamentos, procurou-se desenvolver um design. Os pesquisadores utilizaram fotografias individuais de cada medicamento. Foram fotografadas as caixas de remédios, juntamente com os comprimidos (fora delas) e colocados na mesma foto os horários com símbolos do período da manhã, do meio-dia e da noite.

Como resultado, o estudo forneceu uma pequena base epistêmica, preliminar, para futuras investigações e processos educativos relacionados ao sistema de reconhecimento e de cuidados dos idosos referente à medicação. A expectativa, porém, é que esse sistema de cuidados com a terapia medicamentosa, advindo principalmente da condição educacional, social e econômica, seja provisório, já que o ideal é interagir com eles em todas as possibilidades na linguagem da leitura, da fala, da escrita e na visual.

Maria Helena Lenardt, professora do programa de pós-graduação em Enfermagem da UFPR.

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