O condado de Bexar, no Texas, promete abrir ainda este ano uma das primeiras bibliotecas públicas dos Estados Unidos com conteúdo 100% virtual. Trata-se de uma revolução daquilo que conhecemos hoje como "biblioteca". No espaço, as pessoas poderão acessar livros e fazer o download em seus próprios equipamentos (como tablets) ou pegar emprestado esses aparelhos eletrônicos. Não sobrará sequer uma página em papel para contar história.
A promessa é de que o espaço abrigue 10 mil títulos e 150 sistema eletrônicos para os usuários consultarem. A biblioteca contará com 25 laptops e 25 tablets para uso interno, além de 50 computadores. O custo do empreendimento é de US$ 1,5 milhão.
E, no Brasil, será que essa ideia daria certo? Talvez sim, mas antes disso o desafio é outro: formar uma nova geração de leitores. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2012, 50% dos brasileiros algo como 88,2 milhões pessoas não leem. "Para quem não lê, seja impresso ou virtual, o livro não existe", analisa a pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marta Costa.
Sem receita
Para o diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, a principal questão é encontrar formas de atrair novos leitores. "Não há uma receita de como fazer isso. Depende muito da família e dos professores. O problema é a formação de leitores, não importa em qual plataforma", salienta.
Marta diz que o livro virtual atrai pela novidade, mas não terá como consequência lógica o aumento de leitores.
"Para parecer moderninho, atualizado, o leitor pode até ler mais em tablets. Acho que o aparelho que pode permitir a leitura do livro virtual tem sido mais atraente do que o próprio livro. Ter 300 livros ou mais, dependendo do desregramento do consumidor significa que seu proprietário leu todos?", indaga.
Acesso
Para o editor e consultor de políticas públicas para leitura Felipe Lindoso, o livro virtual traz simplesmente mais facilidade de acesso aos diferentes conteúdos. Não irá, na avaliação dele, interferir em leituras mais ou menos superficiais. "Quem lê bobagem em papel pode continuar fazendo isso em e-books. Quem lê coisas importantes, idem. Não é o meio que importa, o que importa é a relação do leitor com o conteúdo do livro."
De acordo com Pereira, da Biblioteca Pública, a plataforma digital poderá vir a ser um aliado para atrair novos jovens geralmente mais habituados ao mundo virtual. "Pode ajudar a ter mais leitores, mas eles precisam de incentivos para a inserção no universo da leitura", diz.