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Revisão da planta

Duas das principais cidades do Paraná, Cascavel e Maringá reajustaram o IPTU para o exercício de 2014, a partir da revisão da planta imobiliária de valores genéricos. Em ambas, a correção foi feita com base em estudos técnicos realizados pelas próprias prefeituras. As plantas dos municípios estavam sem atualização havia 12 anos.

Em Maringá, a revisão provocou reajuste em praticamente todas as áreas. A atualização levou em conta a valorização das microrregiões onde os imóveis se encontraram. Por isso, os porcentuais de reajuste variam. Em Cascavel, o reajuste do IPTU foi linear: ficou em 15%, independentemente da região.

Na justiça

Em São Paulo, a tentativa da prefeitura de reajustar o IPTU a partir da atualização da planta de valores genéricos está travada por um imbróglio judicial. O projeto aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) previa aumento linear – independentemente da localização – de 35%. Mas o Tribunal de Justiça paulista suspendeu liminarmente a cobrança, a partir de uma ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo PSDB e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Tiro no pé

Desatualização do imposto influencia na especulação imobiliária

Ao não corrigir o IPTU de acordo com a valorização do imóvel, a prefeitura pode, indiretamente, ter estimulado a especulação imobiliária ao longo dos últimos dez anos. Isso porque o custo para manter os bens ficou menor em relação ao valor real. Terrenos ou residências localizados em bairros que receberam maior aporte em infraestrutura, por exemplo, ficaram mais caros, ao mesmo tempo em que permaneceram com a mesma carga tributária.

"Essa defasagem é maior nas regiões onde as grandes incorporadoras tem estoque de terreno. Isso acaba privilegiando a especulação imobiliária", apontou o diretor do departamento de IPTU, Rubens Valério Franco Soffiatti. Por sua vez, o economista Fábio Tadeu Araújo não fala em bene­fício à especulação imobiliária, já que, segundo ele, "ninguém compra imóvel com base no valor do IPTU". Apesar disso, ele aponta que uma revisão séria provocaria mais justiça na cobrança. "Algumas áreas va­lorizaram mais, então algumas pessoas foram beneficiadas.".

A prefeitura de Curitiba vai aproveitar as discussões de elaboração do plano diretor, ao longo deste ano, para avaliar se descongela o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Os técnicos já têm o sinal verde para começar os estudos de atualização da planta de valores genéricos (base para o cálculo do imposto). A revisão seria uma forma de acabar com as distorções geradas pelo congelamento. Nos últimos dez anos, enquanto a cidade esteve no epicentro de um boom imobiliário, o tributo foi corrigido apenas pela variação da inflação. Trocando em miúdos, o curitibano está pagando IPTU com base em preços defasados, ao mesmo tempo em que o município vê sua arrecadação afetada drasticamente.

INFOGRÁFICO: Confira como é calculado o IPTU

O IPTU é calculado a partir do valor venal do imóvel (ver infográfico). A cada ano, uma equipe técnica da própria prefeitura atualiza a planta de valores genéricos da cidade: o município é divido em quadrantes, que são avaliados a partir de critérios técnicos. Em 2003, no entanto, o então prefeito Cássio Taniguchi resolveu congelar a planta de valores e corrigir o IPTU apenas por índices de inflação.

A decisão política exerceu um peso grande aos cofres do município. Em dez anos, a arrecadação com o tributo variou 80% (correspondente à inflação do período). Estudos da própria prefeitura, por sua vez, apontam que os imóveis tiveram valorização entre 300% a 1000% ao longo da década, de acordo com a região. Segundo a consultoria Brain, só entre 2007 e 2013, o preço do médio do metro quadrado saltou entre 132% e 151%.

"Se nesses dez anos a prefeitura tivesse reajustado pelo valor venal dos imóveis, hoje a receita do IPTU, em vez de R$ 500 milhões, seria superior a R$ 3 bilhões", disse o prefeito Gustavo Fruet (PDT). O valor estimado provocaria um aumento de mais de 35% no orçamento do município, hoje de R$ 7,1 bilhões.

Distorções

Do ponto de vista técnico, o diretor do departamento de IPTU, Rubens Valério Franco Soffiatti, aponta que uma revisão da planta genérica adequaria a avaliação dos imóveis à "realidade" e promoveria "justiça fiscal".

"Como a cidade não tem uma uniformidade de crescimento, as defasagens variam muito. Então, você deixa de dar o tratamento diferenciado, de acordo com a área, e acaba onerando certas regiões onde poderia haver um alívio da carga tributária.", disse.

Para se ter ideia das distorções, um sobrado localizado na região norte pagará, neste ano, R$ 680 de IPTU. O valor foi calculado a partir de R$ 107,6 mil, valor venal do imóvel em 2003. Mas, segundo a prefeitura, hoje o sobrado valeria R$ 380 mil. Pelas alíquotas atuais, o imposto seria de R$ 3,5 mil. "Temos que corrigir também as alíquotas e pensar em compensações, para que o imposto não fique tão caro. Mas a revisão da planta é urgente", avalia Soffiatti.

Fruet quer debate para evitar "sustos"

O prefeito Gustavo Fruet pretende aproveitar o processo de elaboração do plano diretor para debater com a sociedade uma eventual revisão na planta de valores genéricos da cidade. Enquanto técnicos do departamento de IPTU da prefeitura realizam os estudos, Fruet pretende ouvir a população por meio de consultas públicas. "A gente quer clareza, transparência e participação", resumiu.

O prefeito vê a questão como delicada, já que considera que a carga tributária já é pesada. "Alguns setores da sociedade estão no limite", observou. Em contrapartida, o dinheiro que entraria ajudaria a equilibrar as contas do município, que não têm fechado. "A gente tem que discutir a capacidade de pagamento e a questão da justiça fiscal, mas com toda transparência. A gente não quer criar nenhum susto para a cidade", disse.

Segundo Fruet, os recursos seriam destinados à manutenção do subsídio do transporte e do lixo e a novos investimentos, principalmente em saúde e educação. "Hoje, Curitiba subsidia o transporte e o lixo e, praticamente, não tem recursos próprios para novos investimentos. Quase toda a receita está comprometida com custeio. (...) Então, a pergunta que fica para reflexão da sociedade é: isso é justo?", ponderou.

Correção gradativa

O economista e fundador da consultoria Brain, Fábio Tadeu Araújo, destaca que a prefeitura deve ter cuidado no processo e avalia que os reajustes na cobrança do IPTU devem ser gradativos, para que a correção não pese demais sobre o cidadão. "Não faz sentido tirar essa diferença de uma só vez. O ideal seria o governo municipal aumentar, a cada ano, um índice um pouco acima da inflação. Em quatro ou cinco anos, a defasagem estaria adequada", disse o especialista.

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