Há 70 anos, o U-513, também conhecido como Lobo Solitário, submarino nazista com 53 pessoas a bordo, foi abatido em águas brasileiras por um avião norte-americano. Apenas no ano passado os destroços do U-boat, como eram chamadas as embarcações alemãs, foram encontrados, a 85 quilômetros da costa de Santa Catarina, em uma profundidade de 130 metros.
Dos nove submarinos nazistas afundados na costa brasileira, ele é o mais distante da Alemanha e, até agora, o único encontrado. A busca, geralmente realizada por navios de alta tecnologia, foi feita a bordo de um veleiro com um magnômetro, aparelho que detecta propriedades de metais, similar ao que localizou a caixa-preta do voo 447 da Air France.
A expedição foi idealizada pela família Schürmann em 2002, quando pouco se sabia a respeito do submarino. "Foi numa regata na Ilha da Trindade. Um dos tripulantes me falou do submarino e me motivei a buscá-lo", lembra Vilfredo Schürmann, o patriarca da família aventureira.
Pesquisa
Apenas em 2009, após extensa pesquisa em solo nacional e estrangeiro, as expedições em busca do Lobo Solitário tiveram início. Onze tripulantes a bordo do veleiro Anysio se comunicavam com uma equipe de 13 pessoas em terra.
No dia 14 de julho de 2011, depois de dois anos e de 18 incursões ao mar, tendo já "varrido" uma área de 40 quilômetros quadrados, o magnômetro detectou um grande objeto metálico. As imagens foram checadas no sonar e a presença do U-513 pôde ser confirmada. Um ROV, pequeno submarino controlado a distância, fez as primeiras imagens do submarino, 69 anos depois de ter sido avistado pela última vez.
A empreitada, que envolveu também professores e alunos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), será divulgada em um documentário, previsto para o ano que vem. "Entrevistamos o operador de radar do avião que abateu o submarino. Ele faleceu em dezembro do ano passado e foi ele quem identificou o submarino no radar. Era uma missão secreta porque era sabido que havia informantes alemães na base de Florianópolis", conta o velejador.
Dos 53 tripulantes, sete sobreviveram
Construído no estaleiro da Deutsche Werke AG, na cidade alemã de Kiel, o U-513 foi um dos 54 submarinos de longo alcance do tipo IXC comissionados pela Kriegsmarine, a marinha Nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Com 76,7 metros de comprimento e 760 toneladas, o Lobo Solitário tinha capacidade para 56 tripulantes, 22 torpedos e 44 minas marinhas. Tinha propulsão de 4.400 cavalos-vapor na superfície e mil quando submerso, chegando a uma velocidade de 18,3 e 7,3 nós, em superfície e submerso, respectivamente.
Com a missão de abater navios da frota inimiga no Atlântico Sul, a embarcação foi comissionada em 1942 pelo capitão de corveta Rolf Rüggeberg, que a capitaneou por 159 dias em três patrulhas. Afundou três navios. Promovido a capitão de fragata, Rüggerberg voltou à Europa e até o final da guerra comandou a 13.º flotilha de submarinos em Trondheim, na Noruega.
Seu sucessor, o capitão-tenente Friedrich Guggenberger filho de Hans Guggenberger, alemão radicado em Ponta Grossa cuja família reside até hoje no Brasil , não teve a mesma sorte no comando do submarino. No dia 19 de julho de 1943, o 62.º dia de sua primeira patrulha, o Lobo Solitário foi abatido nas imediações de São Francisco do Sul, por cargas de profundidade lançadas pelo hidroavião norte-americano PBM 5 Mariner, pilotado pelo tenente-capitão Roy Seldon Whitcomb e com o radar operado por William Stotts. A aeronave havia decolado do navio de apoio U.S.S. Barnegat, que estava nas imediações da Baía Norte de Governador Celso Ramos, com a missão de localizar e destruir o submarino responsável por afundar um cargueiro ianque no dia anterior. Apenas sete dos 53 tripulantes a bordo sobreviveram Guggenberger entre eles. O capitão-tenente e seis marinheiros passaram um dia à deriva.