Para os pais, acidentes são fatalidades
Os números alarmantes de acidentes envolvendo crianças parecem não ter sensibilizado os pais a ponto de ocorrer uma mudança de atitude. Estudos internacionais mostram que, em 90% dos casos, os acidentes envolvendo crianças podem ser evitados. Uma pesquisa qualitativa divulgada pela ONG Criança Segura revela, entretanto, que a percepção das mães é de que os acidentes "seriam quase que (ou ao menos na maioria das vezes) inevitáveis, fatalidades". De modo geral, a idéia é que "por mais que tomem cuidados e medidas preventivas, a criança não estaria livre" de se envolver em um acidente.
"É o destino, não tem como evitar"
"Ninguém sabe exatamente como tudo aconteceu. Meu filho saía sempre de bicicleta sozinho e sempre pedíamos para que ele prestasse atenção e usasse capacete. Num dia de feriado, um carro bateu nele. A bicicleta se dividiu em duas e foi arremessada por cima do muro de uma casa, do outro lado da rua. Meu filho, então com 12 anos, bateu a cabeça no meio-fio e ficou desacordado no chão, com a cabeça sangrando.
Em oito anos, entre 2000 e 2007, 179,5 mil crianças de 0 a 12 anos ficaram feridas no trânsito no Brasil e outras 8.029 perderam a vida, de acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Isso significa dizer que, a cada dia, 61 crianças se feriram no trânsito e outras três morreram. A tendência de vitimização, felizmente, é de queda. De janeiro a julho de 2008, 4,8 mil crianças ficaram feridas e 183 morreram no trânsito uma média equivalente a 23 feridas por dia e uma morte a cada 28 horas.
A pesquisa divulgada pelo Denatran mostra também a realidade da vitimização das crianças no trânsito em 13 estados brasileiros. Entre os pesquisados, o Paraná é o campeão em número de crianças feridas no trânsito. Em 2007, foram 3.051 vítimas no estado. Um número equivalente a oito feridos por dia. Em 2008, de janeiro a julho, o Paraná registrou 1.556 casos, o que equivale a uma média de sete vítimas por dia.
Já o estado campeão em crianças mortas no trânsito, em 2007, segundo o levantamento, é Goiás, com 67 mortes. O Paraná aparece em quarto lugar com 57 casos. De janeiro a julho de 2008, o Pará foi o estado que mais provocou morte de crianças no trânsito, com 34 casos. Neste período, o Paraná ficou em quinto lugar, com 22 casos. "Provavelmente, no Paraná, as crianças têm sobrevivido mais aos acidentes porque está se tomando cuidado com a prevenção, como o transporte na cadeirinha, por exemplo", arrisca o consultor da ONG Criança Segura e chefe do Trauma Pediátrico do Hospital Vita Curitiba, Marcelo Ribas.
A comparação entre os estados, contudo, não é tão efetiva, já que o levantamento foi feito em apenas 13. Além disso, pode haver diferenças entre as coletas de dados em cada um deles. "Eu não acredito, por exemplo, que a Bahia tenha tido apenas 8 casos de morte em 2007, como mostra a pesquisa", exemplifica Ribas.
Para ele, a comparação mostra apenas que os dados do Paraná devem estar mais próximos da realidade. Mesmo assim, de acordo com a coordenadora de educação para o trânsito do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), Maria Helena Gusso Mattos, o número é preocupante. "Independentemente do que aconteça em outros estados, este é um número altíssimo. Mesmo que a criança não venha a óbito pode ter lesões seriíssimas", afirma.
Segundo Maria Helena, as estatísticas mostram que a cada óbito, quatro crianças ficam com lesões sérias e duas ficam inválidas. "São conseqüências que comprometem a aprendizagem, a socialização, o psicológico, além de afetar a família. É comum um dos pais perder o emprego depois do acidente, ocorrer uma separação etc", afirma.
O problema mostrado pela pesquisa pode ser ainda maior. De acordo com Maria Helena, o número de vítimas apresentado pela pesquisa pode ser três vezes superior. Isto porque o número mostrado no levantamento refere-se somente aos dados colhidos no local do acidente.
"Se a criança morreu indo para o hospital ou no hospital não é computado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o período de até um mês depois do acidente para verificar se houve vítima, mas nós não fazemos essa contagem", explica.
De acordo com Maria Helena, a única cidade no Paraná que faz esse levantamento é Maringá, no Noroeste do estado. "Lá constatamos que o número de feridos e mortos supera em até 3,7 vezes o dos contabilizados no local do acidente", diz.
Os dados, segundo Maria Helena, mostram que é necessário uma mudança de atitude. "Para o adulto o trânsito já é complicado, imagina para a criança. Ela não tem condições físicas e cognitivas para entender. Ela tem um campo visual menor e não consegue entender muito bem de onde vem o barulho. A criança tem de ser protegida", diz.
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