Ary Marcos Borges da Silva tem sete tigres no quintal de casa. Os animais de "estimação" vivem há sete anos em Maringá, no Noroeste do Paraná. A família cresceu depois que Ary adotou um casal desses felinos que sofria maus-tratos em um circo em trânsito pela cidade. Logo vieram os filhotes. Neto do casal, Hu foi doado há três anos para o zoológico de Cascavel, onde há duas semanas atacou um menino que pulou a grade de segurança e se aproximou do recinto onde ele estava.
Todos os tigres de Ary nasceram no mantenedouro, permanecendo sob autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e passaram a conviver com os cães que já moravam no local, onde ele mantém um canil. Assim como aprendeu a lidar com os cachorros, o maringaense disse que também foi aprendendo a cuidar dos felinos. Sem medo e com bastante carinho, de acordo com ele, os animais aprenderam a aceitá-lo e a respeitá-lo, inclusive o tom de voz.
Silva conta que no início chegou a abrigar 17 tigres. Os animais eram levados pelo Ibama após apreensão em locais proibidos ou por maus-tratos dos antigos cuidadores. O problema, segundo ele, é que muitos chegavam doentes e acabavam prejudicando a saúde dos outros. Um dos tigres, conta ele, chegou ao mantenedouro com aids felina, uma doença que ataca os sistema imunológico do animal, deixando-o vulnerável às outras doenças. Após ter uma fêmea do local infectada pelo vírus, ele passou a recusar os bichos.
A reprodução também deixou de ser realizada no local. No ano passado, por determinação da Justiça, alegando que o espaço era impróprio para o aumento da espécie, o nascimento de tigres foi proibido por lá, ficando a cargo somente de zoológicos e criadores científicos.
Os animais que restaram continuam fascinando os visitantes, que têm a oportunidade de ver de perto um bicho tão grande e feroz, já que o município não possui um zoológico. Por semana, cada um consome cerca de 30 quilos de carne e 10 litros de leite misturado à ração de gato.
Criador e criação vivem um relacionamentos de respeito. O homem até se arrisca, puxando as "bochechas" e mordendo a boca de Baruck, um tigre de 6 anos e mais de 350 quilos, mas garante que sabe o limite para manter a segurança. "Eles, para mim, são como cães, gatos, mas está no DNA do animal atacar caso se sinta coagido. É preciso respeito", enfatiza ele e garante que nunca houve registro de incidentes por lá.
O veterinário Luiz Almodin, especialista em animais silvestres, visitou o mantenedouro algumas vezes e diz que mesmo tendo costume com o bicho, é preciso manter os olhos abertos. "Para garantir que um animal desse porte tenha tranquilidade, é preciso que seja bem alimentado, que não sofra maus-tratos, mas isso não elimina o risco de um ataque. Não dá para se expor."
Seguindo a recomendação, o tratador José Alves Fernandes Reis trabalha no local desde a chegada dos primeiros moradores e diz que mesmo estando acostumado com tigres, preserva o cuidado. "No começo eu tinha medo; hoje, não. Mas não abuso."
Menino retoma a vida em SP e quer voltar à escola
Vrajamany Rocha, de 11 anos, que teve o braço direito amputado na altura do ombro após ser atacado pelo tigre Hu dia 30 de julho quando tentava dar comida ao animal no zoológico de Cascavel, continuará o tratamento em uma clínica médica de São Paulo, onde trabalha a madrinha dele. O menino ultrapassou a grade de proteção para acariciar e alimentar o felino. O incidente ocorreu durante passeio de férias em Cascavel, onde o pai dele mora. O menino mora na Zona Norte de São Paulo com a mãe e o padrasto.
Segundo a mãe dele, Mônica Fernandes Santos, de 37 anos, Vrajamany recebeu pelo Facebook muitas mensagens de apoio dos colegas da escola. Ele está ansioso para voltar a estudar, mas ainda não há previsão para isso. Destro, o menino terá que aprender a escrever com a mão esquerda. Mônica atribui o acidente a uma fatalidade provocada pela empolgação do filho com a beleza do animal. Após o acidente, a preocupação dele era com o bem-estar do tigre.
Após o ataque, Hu chegou a ser transferido para uma área de manejo e foi devolvido à jaula na segunda-feira. Hu tem 3 anos de idade e está no zoo desde os oito meses.
Em interrogatório feito pela Polícia Civil de Cascavel na sexta-feira, o pai do menino, Marcos do Carmo Rocha, foi orientado pelo seu advogado a se manter calado em boa parte do depoimento. Segundo o delegado Denis Merino, Rocha silenciou quando questionado sobre os detalhes dados por testemunhas.