Quando o padre Dirley Moreira chegou à Paróquia São Francisco de Assis, no Xaxim, em 2008, logo recebeu a demanda. "A igreja é muito pequena, precisamos de uma nova", diziam os mais impacientes. Em pouco tempo, o novo pároco concordou com os fiéis. A igreja antiga tinha lugares para cerca de 300 pessoas, número bem inferior aos quase 3 mil paroquianos que vão à missa todos os fins de semana. O sacerdote aceitou o desafio, demoliu o antigo templo em abril deste ano e quando a nova construção for concluída, em 2017, virá com um status a mais. "A paróquia vai virar santuário", informa Moreira.
Se tudo correr dentro do previsto, a paróquia, que fica na movimentada Rua Francisco Derosso, vai se tornar o vigésimo santuário da arquidiocese de Curitiba, número elevado se comparado a arquidioceses maiores. A de Belo Horizonte, por exemplo, tem dez; a do Rio de Janeiro, sete.
Peregrinos
Segundo o Código de Direito Canônico, santuário é um lugar sagrado para o qual se dirige um grande número de fiéis, em peregrinação, motivados por devoção religiosa. O teólogo Robert Rautman explica que um santuário deve ter estrutura adequada para o acolhimento de peregrinos, incluindo a disponibilidade de padres para celebrar missas e ouvir confissões diariamente, em vários horários.
É comum, inclusive entre membros do clero, a percepção de que nem metade dos santuários locais atende com rigor o que a lei eclesiástica prevê. "São poucos os santuários nos quais se pode chegar em qualquer dia e encontrar um padre para se confessar", admite Moreira. Questionado se dará conta do recado quando o Santuário de São Francisco estiver pronto, ele responde com modéstia. "É difícil, mas tento ser caxias. Fico na paróquia o dia inteiro para receber o povo, e quando o santuário estiver pronto, quero fazer isso melhor ainda".
"Santuários-Paróquia"
O acúmulo das atividades de paróquia com as de santuário é motivo frequente para justificar a escassez de serviços religiosos de algumas igrejas. Rautmann explica que numa paróquia comum, as responsabilidades do pároco são numerosas, envolvem frequentes reuniões para tratar de temas administrativos, que vão além das necessidades espirituais da comunidade. Num santuário, a devoção popular deve ser o foco dos sacerdotes que ali atuam, e que dispõem de mais tempo para se dedicar quase exclusivamente aos peregrinos.
Em Curitiba, contudo, com exceção da Igreja do Rosário, no Centro Histórico, todos os demais santuários são também paróquias, o que obriga seus dirigentes a se desdobrarem para atender as demandas das duas realidades.
Apesar disso, o aumento de trabalho vale a pena, afirma Moreira. A eficácia dos santuários em impulsionar devoções é apontado pelo padre como o principal motivador para encarar as novas exigências. "São Francisco de Assis é uma figura amada por muitos, mas há apenas três santuários dedicados a ele no Brasil, e nenhum no Sul. Acho que esse título pode nos ajudar a atrair muita gente para Cristo", afirma.