A Colônia Terra Nova, em Castro, nos Campos Gerais, a 15 quilômetros do centro da cidade, é um capítulo diferente da história da imigração no Paraná. Boa parte das 50 famílias que vivem no local veio para o Brasil para trabalhar no campo, mas não tinham nenhum conhecimento da vida rural. O propósito, no entanto, era urgente: fugir do nazismo. Na década de 30, engenheiros, sapateiros, relojoeiros, entre outros profissionais notadamente urbanos da Alemanha, compraram terras da Fazenda Marilândia em busca de uma vida melhor.

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A adaptação não foi fácil – tanto que várias famílias não suportaram e foram para outros lugares. Apesar de tudo, era uma situação melhor do que viver sob a tutela de Adolf Hitler – ou sobreviver a ele. Afinal, um coice de uma vaca não seria tão doloroso quanto perder um parente ou morrer em um bombardeio na guerra que se aproximava.

A chegada dos colonos, entre 1933 a 1937, coincide com a ascensão do nazismo. Em 33, Hitler vira chanceler da Alemanha, instala o Terceiro Reich, dissolve o parlamento e adota o unipartidarismo. Em 1937, já presidente, o führer instala uma ditadura. Em 1939, no primeiro ano da Segunda Guerra Mundial, o estado alemão e o Partido Nazista já eram indissociáveis.

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Com um quadro desses, muita gente não pensou duas vezes para vir ao Brasil. Os que optaram por Castro adquiriram um lote de dois a oito alqueires, com os quais se dedicaram à produção leiteira – principal atividade até hoje.

Quem conhece bem tudo isso são as irmãs Gudula Maus, 69 anos, e Agatha Maus Schüller, 60, nascidas e criadas em Terra Nova e mantenedoras do museu Das Kolonistenhaus (Casa do Colono). "Só duas ou três famílias eram de agricultores. O resto não entendia nada. Não sabiam nem o que dar de comer para as vacas e pensavam que aqui ainda existia escravos", relata Agatha.

Além do desconhecimento de agropecuária, os colonos puderam trazer uns poucos bens da Alemanha. Os pais de Gudula e Agatha são um exemplo. Em 1934, o engenheiro de máquinas Josef e a costureira Agnes saíram de Colônia, uma das principais cidades da Alemanha e severamente atingida na guerra, com apenas uma bicicleta e uma máquina de costurar. Entretanto, seus conhecimentos técnicos ajudaram a contornar as dificuldades.

Uma engenhoca em exposição no museu foi projetada por Josef e executada por um vizinho de lote, Cristian Bonavitz. O aparelho, um grande caixote móvel de madeira com dentes de ferro chamado de trilhadeira, separava a palha dos grãos. "Os mais novos não sabem do sofrimento que os colonos passaram. Por isso é importante ter peças como essa, que mostram como eles se superaram", diz Gudula.

A colônia guarda um sem-número de utensílios que foram criados conforme a necessidade. São manteigueiras, fornos, entre outros apetrechos de ferro e madeira. O sobrinho de Gudula e Agatha, Josef Maus Preuss, 20 anos, estudante de Engenharia Florestal em Irati, mostra outra marca da adaptação. "Até uma olaria eles montaram", diz, referindo-se aos tijolos com a inscrição KTN, de Kolonie Terra Nova.

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Ao lado da sede, uma pequena casa de madeira demonstra como era a vida dos colonos que chegavam. Em pouco menos de dez metros quadrados, o pequeno rancho tinha sala, quarto e cozinha no mesmo espaço. "O colchão era de crina de cavalo", conta Agatha. Num imóvel que ainda está em pé, morou o professor Bernard Litzinger, que depois migrou para a cidade – hoje é nome de escola em Castro.

Vasculhando papéis, Gudula encontra uma carta da avó materna, Margarethe Langer, escrita em 1939. Ela relata que viria da Alemanha para visitar a família. A viagem ocorreria em poucos dias. Mais uma vez o nazismo influenciava o destino dos Maus. Enquanto Margarethe atravessava o Atlântico, estourava na Europa a Segunda Guerra.

Margarethe, que era viúva, não pôde retornar à Alemanha. A visita que era para matar saudades durou 13 anos, até que ela voltou à Europa. "Depois de um tempo, ela não queria mais voltar", diz Gudula. Mais uma pessoa que o destino colocou na Terra Nova.

Serviço: O museu é aberto no terceiro domingo do mês, das 14 às 17 horas. Visitas fora dessa data podem ser agendadas pelos telefones (42) 3232-3570 ou (42) 9981-2789.