A Promotoria do Consumidor do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul vai enviar documentos para o MP em Londrina, no Norte do estado, detalhando a participação da Agroindustrial Cooperativa Central (Confepar), com sede na cidade, no esquema de fraude no leite.
Ontem, a Justiça acolheu pedido do Ministério Público e soltou três supostos envolvidos com a adulteração do leite que haviam sido presos na quarta-feira, 22. Eles aguardarão o andamento do inquérito e, se for o caso, responderão ao processo em liberdade, podendo ser beneficiados com redução de penas por ter colaborado com a investigação.
Em entrevista, o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho deu detalhes das investigações.
É possível adiantar parte do teor deste documento?
A Confepar tinha alguns representantes no Rio Grande do Sul que compravam leite aqui. Estão diretamente envolvidos na fraude. Eles tinham, inclusive, postos de resfriamento da Confepar. Todos os transportadores que estavam entregando naquele posto específico no município de Selbach estavam com fraude, utilizando aquela fórmula de ureia com formol para maquiar a adição de água.
Isso acontecia em cargas específicas ou em todos os carregamentos de leite?
Pelo que a gente referiu de um dos transportadores [Antenor Pedro Signor], de cada 30 cargas, 20 eram adulteradas. Isso dava um volume de aproximadamente 750 mil litros de leite que chegavam com fraude à Confepar.
Qual é a efetiva participação da Confepar no esquema de fraude no leite?
Funcionários da Confepar compravam leite aqui [no RS]. E o leite daqui é o mais barato do Brasil. A grande vantagem é que a Confepar ganhava em volume. Isso chegou a tal ponto que excluíram o Leite Mu-Mu, da Vonpar, uma empresa grande ligada à Coca-Cola. Eles conseguiram pagar melhor, levando os produtores a trabalhar com a Confepar.
A fraude deu mais poder econômico à Confepar?
Eles bancaram, cobriram o que a Mu-Mu pagava. Todos aqueles produtores passaram a mandar leite para a Confepar, que era utilizado na fraude. Quem está fraudando pode pagar mais.
Existem cargas de leite retidas no Ministério da Agricultura para análise?
Chegamos a deslocar um policial nosso, que foi em supermercados de Londrina no início de abril, comprou as marcas de leite da Confepar [Polly e Cativa]. Nestas, não foi detectada qualquer fraude. Mas a Confepar capta leite também no Paraná e no Mato Grosso. Não foi constatada a adulteração, mas com essa ressalva de que não há como rastrear esse leite.
É possível que tenhamos em Londrina e no Paraná a apreensão de lotes de leite da Confepar?
Parece que o laboratório apto a fazer as análises no Paraná [Lacen] está em obras. Não estão tendo a velocidade de análise que precisa. Um lote dura quatro meses. Se demorar dois, três meses para sair o resultado, quando sair o resultado o lote já vai estar todo vendido.
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