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Roberson Bondaruk: “corporação sai fortalecida após esse episódio” | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Roberson Bondaruk: “corporação sai fortalecida após esse episódio”| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Expulsar todos os policiais militares envolvidos com uma quadrilha de contrabando de cigarros que agia no Paraná é a prioridade do comando-geral da Polícia Militar no estado. O esquema de corrupção foi desmantelado na última quinta-feira pela Polícia Federal após quase três anos de investigação. Até o momento, oito PMs estão presos, mas o número pode aumentar porque ainda há mandados de prisão em abertos, segundo o coronel Roberson Bondaruk, comandante da PM paranaense. Cinco policiais liberados após prestarem depoimento na PF foram afastados preventivamente de suas funções.

De acordo com o oficial, a Polícia Militar contribuiu nas investigações e mostrou à sociedade que está atenta para evitar que casos de corrupção se tornem rotina na PM. "Esse tipo de ação não prevalece dentro da corporação. Pode durar por um tempo, mas não prevalece", ressalta Bondaruk, que foi alvo de uma conspiração para tirá-lo do posto mais importante da PM no estado. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

A investigação da Polícia Federal revelou um esquema para tentar derrubar o senhor do cargo. Como reagiu a essa situação?

Esse era um dos objetivos da quadrilha. Paralelamente ao tráfico de cigarros havia a compreensão deles de que a nossa postura dificultava a atuação da quadrilha. Houve movimentos para que se tentasse desestabilizar o comando e que eu fosse substituído por alguém que desse alguma influência ou alguma forma de acesso para ocorrência de crimes que com o nosso não estariam tendo.

Sentiu-se traído?

Sempre há esse sentimento. Mas essa já era uma situação conhecida há mais tempo. A operação colocou em prática ações planejadas e que estávamos acompanhando. Como temos uma integração forte com a Polícia Federal e uma troca permanente de informações do sistema de inteligência, essa movimentação não era novidade. O problema é que a energia que precisamos gastar para melhorar a segurança do cidadão acabamos tendo que direcionar para conter esse tipo de crise que acontece por ações desse tipo de pessoa.

Quando as investigações tiveram início?

A operação acontece desde 2010. Isso começou já no governo passado e ocorreu de forma mais intensa em 2012 e início de 2013, culminando com essa ação.

Como estão os trabalhos da Corregedoria para investigar e punir esses policiais?

Temos oito policiais militares envolvidos presos. Alguns que foram chamados para serem ouvidos permanecem em liberdade. Alguns desses que estão na ativa estão afastados das funções. A nossa Corregedoria acompanha a situação e formalizamos um requerimento para conseguir provas emprestadas junto à Polícia Federal. Porque além dos crimes que a PF investiga, como a situação de tráfico, temos crimes de natureza militar, como desrespeito à imagem do comandante, indisciplina e colaboração com a criminalidade.

Quantos policiais estão afastados?

Até o momento são cinco. Eles foram ouvidos pela Polícia Federal e depois liberados.

O fato de um ex-corregedor da PM (coronel Carlos Alexandre Scheremeta) estar envolvido nas denúncias da operação Fractal não demonstra uma fragilidade no controle interno da polícia?

No controle que havia na época, sim. A Corregedoria estava instalada em uma sala única de 10 metros quadrados, com cinco policiais para administrar 600 processos. Hoje há um prédio próprio, com cerca de 15 policiais fazendo todo o trâmite dos processos, sem acúmulo de nenhum. Além disso, temos um setor de assuntos internos, uma extensão do trabalho que atua dentro da força-tarefa na Polícia Federal e temos policiais que trabalham no Gaeco.

A prioridade é expul­­sar esses policiais da cor­poração?

Exatamente. Pelo que já há nos autos da Polícia Federal, temos elementos para iniciar o processo de exclusão desses policiais. O processo leva de 30 a 40 dias para ser concluído. Em tese os oito policiais devem ser expulsos, mas pode ser um número maior. Isso porque há mandados de prisão em aberto e a Polícia Federal continua investigando. Dessa forma, há condições de que novas informações surjam e novas pessoas sejam presas. A PM fica fragilizada após essas denúncias?

Acho que ela sai fortalecida. A resposta foi dada. Esse tipo de ação não prevalece dentro da corporação. Pode durar por um tempo, mas não prevalece. A corrupção é inerente a qualquer instituição do mundo porque faz parte do ser humano. Mas ficou bastante patente a vontade de reprimir essas ações. Temos um número pequeno de policiais envolvidos. Entre os 19,3 mil homens e mulheres que atuam na PM, sendo 4,3 mil no Corpo de Bombeiros, tivemos oito envolvidos e presos até o momento. A quadrilha unia pessoas de diferentes órgãos e juntos tinham uma força considerável. No trabalho que estavam fazendo queriam afastar pessoas ou colocar determinadas pessoas nos locais que pudessem facilitar a ação criminosa.

A sua imagem também sai fortalecida após esse episódio?

A imagem da pessoa, eu não sei, mas da autoridade de comandante acho que sai fortalecida. A comunidade confia e sabe que existem problemas, mas que o empenho é maior para que os criminosos sejam presos e afastados de suas funções.

OperaçãoInvestigação sobre contrabando levou 22 pessoas para a cadeia

Além dos oito policiais militares, a operação Fractal da Polícia Federal prendeu 22 pessoas em todo o estado. Entre eles, um investigador da Polícia Civil e o então chefe de gabinete do deputado estadual Waldyr Pugliesi (PMDB), Elieuton Francis Mayer. O coronel Carlos Alexandre Scheremeta, ex-corregedor da Polícia Militar do Paraná, também foi interrogado no processo que investiga a quadrilha. Todos os presos formavam uma suposta rede de contrabandistas de cigarros.

A operação investiga mais de 40 pessoas suspeitas de cometerem diversos crimes, como tráfico de influência, contrabando, descaminho e extorsão. A quadrilha também agia nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, segundo as investigações.

Segundo a PF, o assessor parlamentar coordenava uma série de ações de tráfico de influência com o objetivo de transferir policiais militares para postos na fronteira com o Paraguai, onde os agentes facilitavam o contrabando de cigarros, principal fonte de renda da quadrilha. Os policiais, de acordo com a PF, também extorquiam contrabandistas de grupos concorrentes.

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