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Uma cidade compacta, com um pé na inovação e na tecnologia como meios de torná-la mais humana. Não é nada parecida com a Orbit City – a cidade super high-tech onde os Jetsons vivem em 2062, caracterizada pela arquitetura googie repleta de prédios suspensos do chão. Também passa longe de ter os carros voadores da Hill Valley de 2015, do filme De Volta para o Futuro II. Essa cidade mais amigável aos moradores é a Curitiba imaginada para um futuro próximo pelos professores do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da PUCPR Fabio Duarte e Rodrigo Firmino; o presidente do Centro Europeu, Carlos Sandrini; a diretora técnica do Centro Brasil Design, Ana Brum; e o membro sênior do Institute of Electrical and Eletronic Engineers (IEEE), Raul Colcher. Convidados pela Gazeta do Povo, eles ajudaram a identificar novos caminhos para a capital do Paraná seguir. Confira:

Luz amarela

O design vai muito além do formato de alguns produtos e pode ser útil até contra o crime. A ideia da diretora técnica do Centro Brasil Design, Ana Brum, é reproduzir uma ideia usada em Seul, na Coreia do Sul, com sinalizações de segurança e iluminação especial em amarelo em regiões onde havia muitos casos de estupro. "Uma parceria entre a prefeitura e uma agência fez sinalizações de segurança em zonas de baixa renda e pouco movimento. Uma luz especial e uma câmara mostrava que a cidade estava de olho." Além do aparato tecnológico, funcionários do comércio foram treinados para agir no caso uma mulher pedir socorro. "A gente fala muito de mobilidade, lixo, mas a insegurança é algo que nos incomoda. Uma comunicação que diz que está de olho reduz sensivelmente o número de casos."

Adensada e compacta

Para que espraiar cada vez mais as cidades quando há boa infraestrutura em locais estratégicos? A proposta do arquiteto e urbanista Carlos Sandrini, do Centro Europeu, é o investimento em grandes edifícios habitacionais, inclusive para pessoas de baixa renda. "Não podemos afastar os mais pobres do centro da cidade. A oferta dessas moradias verticais dependeria do compromisso das famílias com a escola para as crianças e jovens e de cursos para os adultos." Para ele, as regiões mais adensadas trazem soluções para outras áreas. A locomoção é facilitada, o que ajuda a promover o transporte público. Além disso, é possível adotar soluções sustentáveis, como o reaproveitamento da água de chuva e a coleta, separação e tratamento do lixo produzido no condomínio, além da geração da própria energia (solar ou da transformação de resíduos). Para o professor da PUCPR Fabio Duarte, a questão da energia é tendência: várias cidades estão adotando o smart-grid, e há experimentos no Paraná. "A pessoa produz energia e a vende para a rede pública quando não a usa. É um estímulo à produção de energia limpa."

Dados abertos

Um movimento tecnológico indicado por Fábio Duarte e Rodrigo Firmino é a participação popular na análise de dados públicos. "Se a cidade disponibiliza dados, soluções que empresas que controlam esses dados demorariam anos e ao custo de milhões para fazer podem se tornar realidade em poucos dias nas mãos de cidadãos de fato interessados e competentes", diz Duarte. Na opinião de Firmino, esse intercruzamento é raro, porque governos olham pouco para iniciativas populares. "Os gestores urbanos perdem oportunidades de entender mais e olhar para essa inteligência coletiva dispersa." Um exemplo são os dados da Urbs, que já foram processados e viraram aplicativos como o Busão Curitiba. Para Duarte, isso pode ir além. "O volume de dados da Urbs para ônibus, e das empresas de táxi como aproximação de deslocamentos privados, já daria uma pesquisa origem-destino em tempo real que ajudaria a planejar o trânsito da cidade."

Tecnologia

Uma cidade pensada para o futuro vai aliar compartilhamento de dados e comunicação de maneira simples para a população, segundo Rodrigo Firmino. Para ele, é preciso aliar o espaço à tecnologia, com inteligência e comunicação eficaz para facilitar a interação das pessoas com serviços. "A tecnologia é socialmente construída e tão essencial que se torna invisível, só percebemos quando falta." Um exemplo é o fornecimento de energia elétrica. Para a tecnologia trabalhar a favor do desenvolvimento das cidades, Raul Colcher, do Institute of Electrical and Eletronic Engineers, aposta na interação do cidadão em tempo real com sistemas e processos urbanos, por meio de aplicativos para celulares. Para ele, é possível instrumentalizar soluções em macrossistemas municipais para áreas de mobilidade, segurança, saúde, educação e acesso à informação.

DNA e avanço

Manter características das cidades é essencial. Em Curitiba, o transporte público inovador e a manutenção de grandes áreas verdes, como os parques, devem permanecer. "Para cuidar do DNA das cidades é importante que se conheça e se explore seus ícones. Isso vai além da preservação do patrimônio histórico, artístico e ambiental: é transformar a sua identidade em desejo e fonte de renda", diz Carlos Sandrini. Para ele, outra inovação que pode ser adotada é a criação de espaços públicos de coworking, que estimulem a criatividade e interação entre jovens profissionais. Na outra ponta, Raul Colcher, do IEEE, defende a inserção, já no planejamento das cidades, de soluções e ferramentas de tecnologias da informação e comunicação. "Não há receitas genéricas. A definição de estratégia para cada cidade ou região metropolitana precisa levar em conta suas vocações e especificidades, assim como os problemas com maior gravidade, cuja solução seja mais impactante para a qualidade de vida das pessoas."

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