"Aqui é tudo Rose. Bolsão Rose", avisa Élio Machado, morador de longa data do Conjunto Oswaldo Cruz, especialista sem cátedra em Vila Nossa Senhora da Luz a mais famosa de toda a CIC, ao lado da Vila Verde e do Santa Helena. O sabe-tudo Élio, hoje gestor municipal ligado à Regional CIC, está sobre a ponte que cruza o Parque Mané Garrincha. O lugar lhe favorece. Dali, pode apontar para que lado fica cada uma das mais ou menos 80 localidades que formam a região.
Nada é previsível. O Alto Barigüi, por exemplo, plantado do lado contrário aos pacíficos campinhos de futebol, ainda é um lugar violento. O assunto é tabu, pois a região já foi palco de crimes bárbaros e não passava fim de semana sem crime de arrepiar. Em toda a CIC, já se contabilizou sete-oito mortes por sabadão. "Mas a dragagem do Rio Barigüi melhorou a situação nessa área", afirma Élio, incluindo nos avanços urbanos as três vilas imediatas, Rose 1, Rose 2, Rose 3, logo depois do parque. É para lá que se vai, seguindo pela rua que se transformou num centro comercial emergente da CIC, a Cid Campelo. São mais ou menos cinco quilômetros de asfalto, talhados de comércio, cujos letreiros são invariavelmente pintados nas fachadas. Não faltam desenhos de bananas, melancias e sorvetes. Muitos sorvetes.
Élio Machado calcula que somando as portinhas de "vendo isso" e "vendo aquilo" abertas nas vilas que circundam a Cid Campelo cheguem a 600 estabelecimentos comerciais. Na CIC toda são 1,8 mil, segundo dados da PMC. A quantidade é incerta, alerta, pois a maior parte das lojas é irregular, como todo o resto. A variedade, contudo, faz de lugares como as vilas Sabará, Diadema e Caiuá, para citar três vizinhas da CIC, um cenário de invasões, Cohabs antigas, mas também de cor e movimento. Nesses shoppings de periferia a céu aberto se pode encontrar literalmente de tudo, de manicure a venda de toalhas de plástico, borracharias e afins. Vale qualquer artifício para chamar atenção daí a quantidade de paredes em cor lilás. Elas só não aparecem mais do que as carcaças de automóveis deixadas nos terrenos baldios, dando a entender que o subúrbio não é propriamente uma festa popular 24 horas.
A Rua Cid Campelo, em tempo, não é a única da CIC com vocação para grandes negócios. Hoje, a via divide o posto de "Rua XV do arrabalde" com as ruas Raul Pompéia, Pedro Gusso, Algacir Munhoz Mader e João Dembinski. Outro bolsão, o Sagrada Família, próximo dos Conjuntos Oswaldo Cruz e por onde passam as ruas do comércio, é mais jeitoso do que a média. Mas em maior ou menor escala, nas cinco não há árvores, calçamento adequado, e a democracia de bicicletas, carros e pedestres está decretada. O surto de vendinhas, contudo, é visto com bons olhos. A CIC não tem uma grande rede de supermercados, por exemplo, e os quatro bancos estão concentrados próximos da Regional, mas começa a ter sua classe média consumidora aquela que mora nas Vilas Marqueto ou Vitória Régia, por exemplo.
Tudo bem. A regional não conta ainda com uma Avenida Churchill, feito a do Pinheirinho, ou uma Avenida Brasília, como a do Novo Mundo, mas já se sonha por ali ver algo perto disso, quando as cinco grandes ruas formarem um só eixo comercial, quem sabe atraindo gente de outras localidades. Há chácaras no meio do caminho, confirmando o velho problema de circulação na CIC, avisam os gestores, impedindo as ligações, mas é uma questão de tempo. Quando a CIC tiver um centro, supõe-se, vai finalmente deixar de ser um bairro impossível.