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A Curitiba do sereno

Encontro de oração das terças à noite na frente da Catedral: pastoral tenta tirar moradores do isolamento | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Encontro de oração das terças à noite na frente da Catedral: pastoral tenta tirar moradores do isolamento (Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo)
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Quem passa apressado estranha a movimentação em frente da Catedral Metropolitana de Curi­tiba, terça-feiras à noite. Cantos e rezas a essa hora? Indiferente aos olhares, um grupo ganha corpo e principalmente voz. A de "Dirceu", que acompanha a movimentação um pouco mais afastado, é rouca e baixa. Mesmo assim, ele não economiza esforços ao falar da "família" que o acompanhou em boa parte dos seus 23 anos.

Parte dela está ali ao lado. Haja cômodos para tanta gente. Espaço pelo menos há. Afinal, a Praça Tira­­­­den­­tes é grande, assim como tantas outras praças, ruas, casarões abandonados e terrenos baldios da cidade. Foi nestes locais que, acompanhado dos "irmãos", "Dirceu" dormiu, comeu, bebeu e chorou nos últimos anos. "Dirceu" é um morador de rua.

Pelo Centro

Há sete anos o encontro de oração reúne o povo da rua em frente da Catedral. Nos encontros das terças, os participantes recebem alimentos e agasalhos, além da bênção dos agentes de pastoral. Homens e mulheres chegam aos poucos. Mui­­tos são velhos conhecidos. Vêm de perto, posto que a grande maioria está abri­­gada no Centro. Porém, o grupo é pequeno diante do número estimado de moradores de rua da capital – 2.776 pessoas, segundo levantamento de 2008 do Ministério de Desenvolvi­mento Social e Combate à Fome.

Pesquisa em andamento, coordenada pela professora doutora Solange Fernandes, da PUCPR, pre­­tende atualizar os números e de­­­­talhar o perfil de quem usa cal­­çadas e escadarias como lar (leia entrevista ao lado). Dados da Fun­da­­­ção de Ação Social (FAS) e pesqui­sas na área ajudam a entender o comportamento dessa população.

Conforme balanço das ligações pelo 156 à Central de Res­­gate So­­cial da FAS, as ruas mais visadas pe­­­los sem-teto são a Presi­dente Affonso Camargo, Sete de Se­­tem­bro, José Loureiro e XV de Novem­bro (veja infográfico), nas imediações de pontos como a Rodofer­roviária e Terminal Guadalupe.

A preferência pelo Centro não se dá por acaso. "É nessas regiões que tudo acontece. É ali também que existe a maior concentração de serviços de atendimento a mora­­­­dores de rua. O grande número de lanchonetes e restaurantes contribui", observa Solange.

O movimento na região também explica a quantidade de chamados à Central de Resgate Social. Só nos primeiros três meses deste ano foram 3.280 ligações para o 156 apontando a presença de moradores de rua. A maioria dos telefonemas (45%) falava de gente dormindo ou caída nas ruas.

"Durante o dia, não há um espaço onde essas pessoas se sintam acolhidas. Por isso, se espalham, principalmente pelas praças. Não ter um local para dormir é o pior. Ainda mais em Curitiba, onde faz muito frio", lembra o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) no Paraná e ex-morador de rua, Leonildo José Monteiro Filho.

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Interatividade

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