Pecunia non olet: o dinheiro não fede; pouco importa sua origem ou destino. Este brocardo, que se prestava a justificar a tributação de atividades ilícitas, ultimamente tem invadido o nosso cotidiano. É instintiva a defesa de que a moeda não pode feder quando amizades são pautadas por valores monetários; quando a proposta, moralmente repugnante, é aceita em vista de ser “irrecusável”; quando se cobra por aquilo que deveria ser executado sem custos; quando se recebe “por fora”; quando se diz que “sempre foi assim”. Afinal de contas, não é nada demais, mas só dinheiro.
Dinheiro a qualquer custo não é um bom fundamento nem para negócios privados nem para uma democracia
O detalhe está em que essas condutas reprováveis acabam por contaminar a pauta de valores nas instituições públicas – pondo em xeque a sua seriedade. Ao invés de vivermos sob o império da lei, passamos a ser subordinados ao império do dinheiro (onde a ética é um estranho). Porém, dinheiro a qualquer custo não é um bom fundamento nem para negócios privados nem para uma democracia que se pretenda sustentável.
Se a denúncia da compra da legislação for comprovada, a democracia brasileira sofreu ataque violentíssimo. Estamos no fio da navalha. A medida provisória, instrumento excepcional para o Executivo legislar em situações de urgência e necessidade públicas, teria sido usada para gerar ganhos indevidos, tanto de pessoas privadas quanto de agentes públicos.
Vantagens ilícitas que diminuíram a arrecadação tributária (em favor dos mais iguais entre os iguais), geraram poluição e contribuíram para o caos urbano em que vivemos. Tudo isso com lastro num brutal leque de ilícitos: corrupção, tráfico de influência, improbidade. Mas talvez o pior esteja no abalo às instituições democráticas brasileiras, construídas a duras penas e desrespeitadas justamente por aqueles que deveriam protegê-las.
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