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TRADIÇÃO

A dois pés e quatro patas na estrada

Cavaleiros percorrem de 40 a 45 quilômetros por dia. Cada animal participa da cavalgada por um dia e, no seguinte, segue de caminhão | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Cavaleiros percorrem de 40 a 45 quilômetros por dia. Cada animal participa da cavalgada por um dia e, no seguinte, segue de caminhão (Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo)

"Quem topa põe a mão aqui." O convite do cavaleiro Antônio Xavier aos amigos logo resultou numa pirâmide formada pelas mãos dos homens que assumiam, numa noite de 1999, o compromisso de fazer uma cavalgada desde a terra natal deles – região de Espera Feliz (MG) – até o interior de São Paulo e, de lá, seguir até o Rio Grande do Sul pela mesma rota que os tropeiros percorriam no Brasil colonial. A promessa demorou a ser cumprida e só 14 anos depois o grupo foi para a estrada, em março deste ano. A trupe, denominada de "Cowboys Amigos", passou na última semana pela região dos Campos Gerais, no Paraná.

No dia em que a ideia nasceu, os amigos mineiros estavam em Nova Lacerda (MT) descansando no intervalo de uma outra cavalgada, entre Espera Feliz e Humaitá, no Amazonas. A distância de mais de 2 mil quilômetros entre a terra dos cavaleiros e Passo Fundo (RS) não pareceu muito assustadora para quem, até aquela noite, já tinha andado 2,5 mil quilômetros em lombos de cavalos e muares (cruzamento de égua e jumento). Marcada para 2003, a saga dos "novos tropeiros" acabou não ocorrendo devido à indisponibilidade de alguns dos integrantes do grupo.

Passados dez anos desde a primeira data, os 19 companheiros – que moram em 15 cidades da região de Espera Feliz – conseguiram reservar dois meses dos seus calendários só para a longa viagem. A expectativa do grupo é chegar a Passo Fundo entre os dias 5 e 10 de maio, mas isso vai depender das condições do tempo e das estradas. Numa das paragens, eles armaram pouso no Parque de Rodeios de Palmeira (Campos Gerais), no começo desta semana. O pernoite é simples: parte deles dorme num ônibus, outros no caminhão e alguns em barracas.

Ao raiar do sol, logo eles desarmam o acampamento e cavalgam, em média, de 40 a 45 quilômetros por dia. Dos 39 animais da tropa, 31 são muares e oito são cavalos. Cada animal participa de um dia da cavalgada e, no dia seguinte, segue de caminhão, respeitando um rodízio. "Cavalgar ajuda a tirar o nosso estresse. A gente se preocupa com os animais, claro, mas os problemas do dia a dia ficam para trás. Fazemos um monte de amizades pelo caminho e, aos poucos, vamos construindo um mundo diferente", afirma Antônio Xavier, que idealizou a cavalgada.

Num grupo em que a maior parte dos integrantes tem entre 30 e 50 anos, Antônio comemora a participação do amigo Amílcar Pacheco, de 82 anos, morador de Manhuaçu (Zona da Mata Mineira). Pacheco foi um dos parceiros de Antônio na cavalgada até Humaitá em 1999. "É tão gratificante que eu tomei a decisão de vir. Cavalgada é pura cultura. Fazemos uma oração toda manhã e aprendemos a conviver em grupo", ressalta o experiente cavaleiro.

Experiência

Levados ao Amazonas por uma régua

Em 1999, Antônio Xavier convidou alguns amigos para cavalgar de Espera Feliz (MG) até Ariquemes (RO), onde morava uma filha que queria visitar. "Uma vez, bem antes da viagem, o Antônio me convidou, mas eu achei que ele estava de brincadeira. Mas era verdade", lembra o colega de cavalgada Amílcar Pacheco.

Na hora de definir o roteiro no mapa, a ponta da régua encostou em Humaitá (AM), que fica 500 quilômetros para frente de Ariquemes. Daí veio a ideia de seguir até "o final da régua". "Passamos dois dias em Ariquemes e, em 5 de agosto, finalmente, chegamos a Humaitá", diz Amílcar.

Segundo ele, a viagem foi pouco confortável, mas marcou a história da sua vida. Há 25 anos, os Cowboys Amigos também fazem uma cavalgada – na segunda quinzena de janeiro – entre Espera Feliz e Guarapari (Litoral do ES), um percurso de aproximadamente 250 quilômetros. O grupo é formado, em sua maioria por cafeicultores que têm a cavalgada como lazer. Em todas as viagens, eles procuram seguir por estradas rurais e fazendas, evitando as rodovias sempre que possível.

PREPARAÇÃO

Em fevereiro deste ano, o cavaleiro Antônio da Costa Filho, também de Espera Feliz (MG), percorreu todo o trajeto de carro para elaborar o roteiro. "Fui fazendo amizade com cavaleiros e fazendeiros que se prontificaram a oferecer pouso a cada noite", conta. Até o final da expedição, eles terão passado por 17 cidades de Minas Gerais, seis do Rio de Janeiro, 22 de São Paulo, nove do Paraná, quatro de Santa Catarina e quatro do Rio Grande do Sul.

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