Agarrada a um fio de esperança, há 14 anos a vendedora autônoma Vera Lúcia Pereira da Silva não tem feito outra coisa senão esperar o regresso de Édson, o filho raptado aos 6 anos. A mesma dor da ausência açoita os dias de Marlene e Luiz Ubaldino Polli Florêncio desde o sumiço da neta Vívian, há pouco mais de um ano. Uma agonia feita de choro, incertezas e saudades consome a existência de outras 26 famílias do Paraná cujos filhos continuam desaparecidos, metade deles ausente há mais de 15 anos. Pais, irmãos e avós passam uma vida inteira, se preciso, em busca daqueles que sumiram.
Édson vivia com os pais em Maringá e os acompanhava na barraca de pastéis nas festas pela região Norte do estado. Sumiu em meio à feira agropecuária de Londrina, no dia 5 de abril de 1992. Disse à mãe que iria logo ali com um colega. Nunca mais voltaria. À polícia, o amigo na verdade um menino de rua de 12 anos confessou ter entregado Édson a um homem desconhecido no terminal de ônibus. Desde então, Vera Lúcia não tem ignorado nenhuma pista que possa levá-la ao filho. Descobriu que há gente capaz de tirar vantagem da dor alheia.
Uma das muitas pistas falsas veio de dois homens que diziam estar com Édson e queriam dinheiro para devolvê-lo. Descobriram o telefone da vizinha, um luxo que Vera Lúcia não tinha. A polícia grampeou o aparelho e assim chegou aos bandidos, em Presidente Prudente (SP). Eles não estavam com a criança. Viram o sumiço pela imprensa e só queriam dinheiro. Ficaram presos uns seis meses. Depois disso, Vera Lúcia ainda foi atrás de pistas falsas em Londrina, Cascavel, Guarujá (SP) e pequenas cidades no Norte do Paraná.
Uma pista é tudo o que precisam os avós de Vívian para continuar alimentando o sonho de reencontrá-la. Ela desapareceu em circunstâncias trágicas no dia 4 de março do ano passado, depois de um telefonema do pai, o sargento da Polícia Militar Édson do Prado. Ele chamou a mãe da menina, Maria Emília Cacciatori Florêncio, de 38 anos, para acertar a pensão alimentícia. O encontro se daria em frente da Catedral Basílica, na Praça Tiradentes, no centro de Curitiba. Cinco dias depois, Maria Emília foi encontrada morta, nua, enterrada numa cova rasa em Campina Grande do Sul, na região metropolitana. Vívian nunca mais foi vista.
Maria Emília estava separada havia 6 anos quando conheceu Édson. Ela era caixa no supermercado onde o sargento fazia bico como segurança. Ele dizia ser separado, mas além de estar casado ainda mantinha uma amante, dizem os pais da vítima. Édson foi preso logo após o achado do corpo, mas nega o crime. Diz que não foi ao encontro. "Ele não deixou pistas, mas tudo leva a ele", diz Luiz Ubaldino. As peças jurídicas estão montadas. Só falta o juiz marcar a data do júri popular. Quanto à pequena Vívian, seu paradeiro continua uma incógnita.
A mãe do pequeno Édson e os avós de Vívian alimentam a mesma esperança dos familiares das 856 crianças reencontradas desde 1995 graças ao Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida e à eficiência do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), ligado à Polícia Civil do Paraná. O movimento nacional surgiu da iniciativa de uma mãe desesperada. Arlete Caramês teve seu filho, Guilherme Caramês Tiburtius, desaparecido no dia 17 de junho de 1991, sem nunca mais tê-lo visto. Ela criou então o movimento nacional e hoje toca a iniciativa na esfera pública, como deputada estadual.