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Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD) atendem os usuários de drogas no Paraná. O estado tem ainda 2.404 leitos em hospitais psiquiátricos, 489 leitos em hospital-dia, 22 serviços residenciais terapêuticos e 76 núcleos de apoio, além de consultórios de rua em Maringá e Curitiba. O governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba, porém, já aderiram ao Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack e devem receber cerca de R$ 270 milhões para investir em ações de prevenção e repressão.
Preocupação
Prefeitura diz investir em ações de prevenção
Distante cerca de 300 metros da região conhecida como "ciclovia da droga", a prefeitura diz investir em prevenção no combate ao uso de entorpecentes. "Existe uma dificuldade com relação aos usuários, pois se trata de uma doença e, mesmo levando para a delegacia, eles voltam para o mesmo lugar. Estamos integrando ações de recuperação, prevenção e repressão, mas com ênfase na prevenção", afirma Hamilton José Klein, titular da Secretaria Antidrogas de Curitiba.
Na mesma linha, a Secretaria Municipal de Saúde mantém o Programa Adolescente Saudável. De acordo com a pasta, a ação conta com uma abordagem sistêmica das questões ligadas à saúde, com foco no uso do álcool e outras drogas, em locais com grande presença de jovens, como as escolas.
Para a população em situação de rua, a prefeitura informa que monta o "Consultório de Rua", todas as noites de quarta-feira, na Praça General Osório. A ação conta com diversos profissionais, como médicos, psiquiatras e enfermeiros. (RM)
Medo
Vizinhança indesejada assusta trabalhadores e quem precisa passar pelo local
A ideia de morar ou trabalhar próximo a um prédio público sempre passou uma sensação de segurança, mas o consumo disseminado de drogas tem minado esse sentimento. O gari Jair Martins Ferreira, 48 anos, trabalha na limpeza do Bosque do Papa. Na última sexta-feira, por volta das 16 horas, ele corria na ciclovia, mas não porque estava se exercitando e sim pelo medo que sente ao passar por ali. "Preciso cruzar aqui para pegar o ônibus. Todo o dia vou correndo porque não me sinto seguro", conta.
Questionado sobre a periculosidade da região, a aparente tranquilidade de um garçom que descansava em frente ao portão dos fundos de um restaurante se desfez. "Teve um funcionário aqui que deixou a bicicleta dele na garagem. Pularam o portão e levaram embora", disse o homem, de 19 anos, que preferiu não ser identificado.
A menos de 300 metros da Polícia Civil, no Centro, o porteiro Osvaldo Rodrigues, 50 anos, estranha o consumo de drogas à luz do dia e disse que já teve de se trancar no prédio para evitar o cheiro de maconha da rua. "Dois jovens pararam para fumar bem na porta do prédio e eu já estava ficando doido de tabela. É impressionante como fumar maconha virou normal". (RM)
Enquanto os vereadores legislam e o prefeito despacha em Curitiba, o consumo de maconha, cocaína e crack ocorre livremente bem próximo de seus gabinetes. Na semana passada, a Gazeta do Povo flagrou o uso e o tráfico de drogas nas imediações de importantes prédios públicos da capital, como a prefeitura, a Câmara Municipal, o Departamento de Polícia Civil e a Secretaria de Estado de Obras Públicas.
Foi exatamente a proximidade com órgãos públicos que levou Paulo, 48 anos, cujo sobrenome não foi revelado, a ter mais uma recaída. Na última sexta-feira, vestido com calça marrom e camisa social, ele completava seu sétimo dia longe do crack, quando foi à Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico, tirar documentos para procurar emprego.
Mas ao avistar o que ficou conhecida como "ciclovia da droga", por volta das 16 horas daquele dia, ele entrou e de lá não saiu antes de fumar três pedras de crack. "Tinha de ficar longe do Centro", lamenta o pedreiro, pai de duas meninas, uma de 5 anos e outra de 12, e morador do Tatuquara.
O espaço que enfeitiçou Paulo fica a 300 metros do Palácio 29 de Março, sede da prefeitura, e em frente do luxuoso prédio do Banco Central. A ciclovia, que serve para prática esportiva de moradores do Centro Cívico e São Francisco, também é abrigo de usuários, que vivem em um espaço de dois metros de largura e menos de um de altura, sob uma pequena ponte de madeira ligando a Cândido de Abreu à ciclovia.
Um desses moradores é Cassiano, 29 anos, quatro deles tomados pelo vício no crack. "Morava em Piraquara [Região Metropolitana de Curitiba], perdi esposa e filha por causa das drogas e agora moro num buraco. Não gosto de falar sobre isso porque já apanhei da polícia na ciclovia", diz o homem.
O espaço, porém, não é frequentado apenas por quem mora na rua ou oriundo da periferia curitibana. "Dia e noite vêm os burguesinhos dos prédios aqui da vizinhança comprar maconha e fumar seus baseados", conta o segurança de um comércio vizinho da pista, que pediu para não se identificar.
Eufrásio Correia
Os jovens de classe média, aliás, também sustentam o comércio de maconha na Praça Eufrásio Correia, que ganhou a alcunha de "Praça do Verde", em alusão à cor da droga. Pelo menos é o que garante um casal que vende o entorpecente no local. "Vendemos por R$ 20 e repassam para os boys por R$ 50. As patricinhas saem do shopping e, às vezes, consomem aqui mesmo na praça", diz o homem, enquanto separa uma porção para um intermediador, que a entregaria para um cliente. A cena ocorria a menos de 50 metros do portão principal da Câmara Municipal, no Centro de Curitiba.
Não muito longe dali, o uso de drogas também é comum a menos de dez passos da Secretaria de Obras Públicas e a cerca de 300 metros da Polícia Civil. "Todos os dias passam aqui na frente fumando droga. Acho até que por sermos vizinhos da polícia deveria haver mais fiscalização, mas na prática a maconha já está legalizada", diz Osvaldo Rodrigues, 50 anos, porteiro de um edifício na Rua Pedro Ivo.
Mas essa proximidade com órgãos públicos parece não ser um problema para usuários. "Eles fazem vistas grossas. Às vezes dão uma batida, mas isso é raro", conta Fernando, 28 anos, que disse evitar andar com o seu cachimbo para não ser surpreendido. "Mas acho besteira, porque eu sou um flagrante ambulante. Na verdade, sou o clínico-geral da droga, pois o que vier eu uso", afirma ele, que diz ser viciado em drogas desde os 22 anos.
Cerco no Bosque do Papa não alcança ciclovia
A "ciclovia da droga" é um trecho de 200 metros dos quase dois quilômetros de toda a ciclovia do Bosque do Papa. Apesar de estar dentro do parque, ela pode não ter sido englobada pela operação da Polícia Militar que prendeu 71 usuários de drogas nos últimos dois fins de semana.
"Não tenho certeza de se essa área entrou na operação. Mas vamos intensificar a patrulha na ciclovia e mandar fazer revistas para espantar esses usuários", afirma o coronel Ademar Cunha Sobrinho, comandante do 1.º Comando Regional da PM.
A área verde conhecida como "Parcão", além de reunir famílias com cães, também era usada como ponto para o consumo de drogas. No local, grupos de jovens, principalmente de classe média, reuniam-se para fumar maconha e consumir bebidas alcoólicas todo fim de semana.
De acordo com a PM, a operação no Bosque do Papa poderá virar rotina. "A intenção é bater forte porque tem se tornado uma vergonha o consumo de drogas próximo a prédios públicos. Queremos, pelo menos, uma operação em cada área de batalhão por semana", disse Cunha Sobrinho. O bosque fica ao lado do Museu Oscar Niemeyer e próximo ao Ministério Público do Paraná e à Secretaria de Segurança Pública do Paraná.
Outros pontos
A Praça Eufrásio Correia também deve ganhar reforço no policiamento. "Vamos acionar a Ação Integrada de Fiscalização Ostensiva, destinada a revistar locais de grande periculosidade, para ver se os hotéis daquela região estão legalizados. Não queremos impedir ninguém de trabalhar, mas não podemos aceitar que o local seja usado para uso de droga e prostituição."
Já a Guarda Municipal tem agido contra as drogas entre as ruas Riachuelo, Alfredo Bufren e São Francisco, por meio da Operação Prata. A ação é realizada em parceria com a Fundação da Ação Social (FAS) e visa coibir o tráfico e o uso de drogas no Centro, principalmente em bares.
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