A escola no Brasil deveria assumir um papel mais efetivo na formação ética dos estudantes. É o que defende Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, que tem a psicologia moral como foco de pesquisa. Nascido na França, ele se naturalizou brasileiro e passou as últimas décadas engajado na construção de propostas mais eficazes para a formação cidadã nas salas de aula do país. Em seu histórico, consta a contribuição que deu à formação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados em 1996, e a criação de um conjunto de temas sociais que devem ser trabalhados em várias disciplinas. La Taille palestrou no Colégio Integral, em Curitiba, em março, e conversou com a Gazeta do Povo.
Como o senhor avalia o modo de as escolas brasileiras trabalharem a formação ética de seus alunos?
A escola tem silenciado sobre a questão ética. Reclama muito de bullying, por exemplo, mas na prática não tem feito nada de efetivo, por mais que conste na propaganda de muitas instituições a formação de cidadãos. É claro que o papel principal da escola é a escolarização, a produção de conhecimento. Mas não pode se limitar a isso.
Então o senhor discorda de alguns profissionais de educação, que afirmam que escola deve ensinar, mas que quem educa é a família?
Claro. A formação ética nunca coube apenas à família. Ela sempre foi ajudada por outras instituições e durante muito tempo foi a religião que cumpriu esse papel. Deixar nos ombros da família algo que compete à sociedade inteira é um erro. A escola tem que trabalhar essa dimensão porque nela também há conflitos, e é preciso lidar com eles.
A formação oferecida aos professores para lidar com o tema da ética, seja na universidade ou em cursos de capacitação, é suficiente?
Não é suficiente e, a rigor, eu diria que nada se faz. E não é por falta de material, pois há muitos estudos de psicologia moral que poderiam contribuir para a inclusão desse tema na formação acadêmica dos futuros professores. O pior é que, ao que parece, ninguém se importa. A sociedade silencia e não existem políticas públicas voltadas à ética. Todos sabem que a violência é um problema social e queixam-se da corrupção, por isso é ainda mais contraditório que nada seja feito para realmente enfrentar a questão.
O senhor ajudou a criar os temas transversais, dentro dos quais está prevista a questão ética, mas já criticou o modo como vem sendo feita a aplicação desses temas. Por quê?
A transversalidade que está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais é uma excelente proposta, mas se mostrou inviável. O que ocorreu é que quando saiu o PCN, foi criado outro programa, chamado Parâmetros em Ação, que era para ensinar os professores a aplicá-los. Só que depois houve a mudança de governo, e então esse programa de implementação foi abandonado. Agora, nunca saberemos como seria se o programa que auxiliava na implementação tivesse continuado.
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