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Saúde

À espera de um médico caribenho

Construído nos anos 90, o Hospital Central de Tunas do Paraná tem mais da metade do seu espaço subutilizado | Antonio More/ Gazeta do Povo
Construído nos anos 90, o Hospital Central de Tunas do Paraná tem mais da metade do seu espaço subutilizado (Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo)
Giuseppe cumpre quatro expedientes:

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Giuseppe cumpre quatro expedientes:

Tunas do Paraná, distante 70 quilômetros ao norte de Curitiba, não tem um médico contratado diretamente pelo município desde 2009. E nos quatro anos anteriores, o único a constar da folha de pagamento ocupava o cargo de prefeito. Habilitado ao programa Mais Médicos, do governo federal, o município não despertou o interesse dos profissionais brasileiros, e agora anseia pela chegada de um dos médicos vindos de Cuba. Tunas foi relacionada em uma lista prioritária junto a outros 700 municípios brasileiros, sendo mais quatro paranaenses. O governo cubano prevê o envio de 4 mil médicos daquele país.

O atendimento clínico para os 6 mil habitantes de Tunas do Paraná é feito por profissionais terceirizados junto a uma empresa de Curitiba. Todos os dias, os médicos se alternam em turnos, retornando à capital após cada plantão. "Não temos médico morando na cidade. Ninguém quer ficar por menos de R$ 20 mil por mês, mas não podemos pagar além do salário do prefeito, que é de R$ 14 mil", relata o secretário municipal de Administração, Marco Antônio Baldão.

Ao chegar, o médico cubano deve atuar em postos de saúde localizados em comunidades rurais isoladas, algumas delas acessíveis após 40 quilômetros em estrada de terra. Os encargos dos estrangeiros serão pagos pela União. Em contrapartida, as prefeituras precisam fornecer hospedagem e alimentação ao visitante – gasto quase simbólico para uma cidade que empenha 25% do orçamento em saúde e se propõe, sem sucesso, a pagar a médicos um salário superior ao seu PIB per capita anual.

Hospital ocioso

Se precisar de um cômodo vazio, o médico cubano terá à disposição mais de uma dezena de salas no próprio Hospital Central de Tunas do Paraná. Dois terços da construção de 2 mil metros quadrados estão ociosos. O hospital foi construído pelo governo federal na metade dos anos 90, a partir de uma emenda individual do então deputado federal Max Rosenmann, falecido em 2008. O projeto veio com dois problemas fundamentais: é grande demais e inviável economicamente. Por questões sanitárias, não pode ser usado para outra função. Resta o contraditório luxo de ter uma enfermaria de 150 m² usada hoje só para secar lençóis.

Os equipamentos disponíveis se resumem a um aparelho de raio X, uma incubadora e uma sala de emergência. "Temos, na verdade, um grande posto de saúde. Poderia ser um hospital regional para as cidade do Vale do Ribeira, mas só se o governo estadual ou federal administrasse. Não temos condições de tocar sozinhos", diz Baldão. "A gente vê pessoas no corredor no Nordeste, e aqui um monte de salas vazias. É tudo errado...", lamenta.

Vinda de profissionais gera expectativa

Nas outras quatro cidades paranaenses da lista prioritária do governo federal, a expectativa pela chegada dos médicos estrangeiros também é alta. Itambé (Região Noroeste), Jataizinho (Norte), Lapa e Mandirituba (ambas na Região Metropolitana de Curitiba) estão na seleção, maciçamente formada por cidades do Norte e Nordeste do Brasil (84%). A previsão é que os médicos comecem a trabalhar a partir da segunda semana de setembro.

Na Lapa, a intenção é que o médico atue em comunidades rurais, semelhante ao que deve ocorrer em Tunas do Paraná. "Quando chegar, o clínico será inteirado sobre a realidade do município e quais são as principais doenças", antecipa Ligia Cardieri, secretária municipal de Saúde. A cidade tem 19 mil habitantes rurais e 18 pequenos postos de saúde. Foram requisitados dois médicos do programa, mas ainda não há qualquer confirmação do governo federal.

Em Itambé, os médicos costumam vir da cidade-polo Maringá. "Até abrimos concurso, mas os aprovados não chegam a assumir o cargo", conta a diretora do Departamento de Saúde, Sandra Hozumi Komagomi. "Se vier, o médico estrangeiro vai reforçar a atenção básica de saúde."

A prefeitura de Jataizinho solicitou quatro médicos ao programa, que deverão reforçar o programa Saúde da Família e o atendimento nos postos. "Nossa defasagem de profissionais aumenta a cada ano. Por R$ 5 mil, que é o quanto podemos pagar, não aparece ninguém", lamenta Ricardo Alexandre Corsino, diretor municipal de Saúde.

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