A música pop está ficando mais barulhenta. A conclusão, divulgada na semana passada, é do Conselho Nacional Espanhol de Pesquisas num estudo que comparou um vasto banco de dados de canções produzidas entre 1955 e 2010. A constatação dos pesquisadores é sintoma de um mundo, comandado pelo marketing, em que chamar a atenção tornou-se imperativo para vender e vencer. Quem fala (ou toca) mais ou mais alto se sobressai ainda que nem sempre tenha conteúdo ou razão. E isso leva a uma espiral do ruído, como em uma discussão em que as vozes se elevam gradativamente para impor os argumentos.
Há duas vítimas imediatas nessa "guerra sonora": o silêncio e o introvertido. Indiretamente, todos perdem. Seduzida pelo ideal da extroversão, a sociedade está se esquecendo de que na quietude reflexiva nascem grandes ideias. Essa é a força discreta dos tímidos. Ou, segundo expressão cunhada pela escritora norte-americana Susan Cain, O Poder dos Quietos título de um livro lançado recentemente que, como convém aos introvertidos, não tem sido tão discutido como outras obras, a despeito de ser um sucesso e de estar na lista dos mais vendidos.
Susan Cain alega que a introspecção e as suas "companheiras" a timidez, a seriedade e a sensibilidade são hoje consideradas traços de personalidade indesejáveis. Crianças são treinadas desde cedo na escola a serem expansivas, ainda que a natureza diga que não são. E sofrem ao não se adaptarem ao padrão social. Nas empresas, os eloquentes costumam ser mais valorizados.
Embora os loquazes tenham evidente vantagem na atualidade, a autora diz ser um grave erro abraçar o ideal da extroversão de forma tão irrefletida. Desprezar os quietos e criar um mundo opressivo a eles, afirma Susan Cain, é fechar as portas para a produção intelectual e artística que só nasce da reflexão solitária, típica dos tímidos e reservados. Sem os introvertidos, segundo a autora, o mundo não teria as teorias da gravidade e da relatividade, o Google, as composições de Chopin, filmes como ET, uma infinidade de obras literárias que desvendaram a alma humana.
Obviamente, não se trata de desmerecer os expansivos e gregários e defender uma sociedade introvertida, mas de admitir que há diferenças de personalidade e que cada um tem qualidades, defeitos e seu lugar ao sol. Reconhecer que, em meio ao mundo excessivamente barulhento dos que falam mais alto, há vozes recatadas e sensatas que não costumam ser ouvidas. E lembrar que dentro das ostras fechadas se produzem pérolas.
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