Angela Alves Machado, 38 anos, professora de História em dois colégios estaduais em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, tornou-se um símbolo do uso desproporcional da força policial contra os professores no dia 29 de abril deste ano. Ela é a protagonista da foto do repórter fotográfico da Gazeta do Povo Daniel Castellano, que girou as principais publicações e sites do país após a “batalha do Centro Cívico”. Nela, Angela corre de um grupo de policiais do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope).
Achei que jamais iria presenciar isso. Me deu uma coisa. Acabei virando e falando com eles para falar que ninguém estava fazendo nada. (...) Falei que não era marginal. Que sou mãe de três filhos.
Ato no largo
da ordem
No domingo (17), cerca de 300 manifestantes percorreram o Largo da Ordem, em Curitiba, para lembrar a população sobre a pauta dos professores. Após o anúncio de reajuste de apenas 5% e em duas parcelas pelo Estado, o funcionalismo promete um grande protesto para a próxima terça (19).
A reportagem conseguiu localizá-la e, pela primeira vez, ela falou publicamente sobre o episódio. “A gente tinha intenção de entrar [na Assembleia Legislativa], mas não sou de sindicato, não tenho vínculo com partido político e não sou black bloc”, ressalta Angela, que garante nunca ter incentivado a violência, a desordem ou o desacato.
Ela foi uma das primeiras professoras a furar o bloqueio policial em frente da Assembleia. Mas logo foi retirada de lá. Policiais militares a levaram para uma área ao lado do Palácio Iguaçu e tentaram convencê-la a desistir do movimento. “Quando a grade e o bloqueio foram rompidos, policiais me seguraram pelo braço e me levaram para lá. Achei que vivia em um estado democrático de direito. Eles me diziam que era melhor eu ficar ali”, diz a professora, que é natural de Tijucas do Sul. Os policiais não a detiveram e ela acabou voltando para a manifestação. Era o início de quase duas horas de tiros e explosões. “Comecei a perceber que onde eu estava muita gente estava sendo atingida por balas de borracha. Acabei indo para o tubo do ligeirinho”, relata.
Naquele refúgio, alguns estudantes também se protegiam dos estouros e da fumaça. Dois deles saíram e Angela permaneceu lá dentro com um menino – que, pela idade aparente, poderia ser seu aluno. “Quando os policiais entraram no tubo, parecia que estavam procurando um terrorista. Não estávamos fazendo nada, mas eles pegaram o menino pelo pescoço. Acabei sem saber o que aconteceu com esse estudante”, comenta.
Logo que deixou o tubo, o tumulto tomou conta da rua e a tropa de choque da PM começou a ir em direção a ela. Cerca de 20 policiais batiam os bastões em seus escudos, tornando o momento ainda mais tenso. “Eu vi que eles foram avançando. Já tinha ouvido aquele barulho no dia 12 de fevereiro [data de outra manifestação de professores neste ano]. Eu só me sentia indignada. Achei que jamais iria presenciar isso. Me deu uma coisa. Acabei virando e falando com eles para falar que ninguém estava fazendo nada. Dizia também para eles não machucarem ninguém. Falei que não era marginal. Que sou mãe de três filhos.”
A “batalha do Centro Cívico” tornou-se um dia histórico na vida de Angela, um símbolo da luta pelos direitos dos professores, que deverá ser levado para o dia a dia na sala de aula, no ensino médio. “Vamos mostrar em sala de aula como o estado pode ser truculento”, explica. Após aquele dia, a professora recebeu inúmeras mensagens de pessoas que descobriram nas redes sociais quem era a manifestante da foto que rodou o Brasil. “Os meus alunos foram os que mais me surpreenderam. Me senti muito acarinhada por eles. Falaram que no dia 30, um dia depois, iriam no meu lugar. Fiquei todo aquele dia seguinte na cama, como se tivesse saído de um velório.”
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