Tuboteca
As dez minibibliotecas instaladas em estações-tubo de Curitiba as famosas Tubotecas são um sucesso. Desde a inauguração, em março, é difícil ver os livros aguentarem um dia inteiro nas prateleiras. E a ideia criou ainda um nicho de doador que exige que o material seja direcionado exclusivamente para os tubos. Há um dado impressionante, embora não se saiba se ele reflete a fome de leitura ou se ainda faz parte da novidade: diariamente, 400 livros são disponibilizados na Tuboteca da Praça Rui Barbosa, onde circulam cerca de 5 mil pessoas por dia. Em meia hora, todos os livros evaporam.
Serviço
Como doar
As doações podem ser feitas pessoalmente nas 13 Casas de Leitura de Curitiba, no Palacete Wolff, no Bondinho da Leitura, na Estação de Leitura do Pinheirinho, nas dez Tubotecas da cidade, na sede da Urbs na Rodoferroviária e na Secretaria Municipal de Educação. Se o volume for grande, um caminhão da Fundação Cultural vai até o local recolher o material. Mais informações no telefone (41) 3321-3205.
Doar livros é um ato de coragem ou uma das reações subsequentes à morte de alguém. Chegar a essa conclusão é fácil ao passar algum tempo no porão do Palacete Wolff, em Curitiba. Naquela bagunça organizada estão os livros em processo de "remanejamento", que são doados pela comunidade, instituições de ensino ou empresas, e que seguirão em breve para Casas de Leitura, tubotecas, bibliotecas e penitenciárias.
"Aqui é o quintal da nossa casa", brinca Patrícia Wohlke, responsável pela triagem de todos os 1,4 mil livros que chegam no espaço da Fundação Cultural todo mês. Ali não há joio, tudo é trigo. Um livro em japonês, por exemplo, seguirá em breve para a biblioteca da Praça do Japão. A Cabana, de William P. Young, servirá para algum detento se iniciar nas letras. E a primeira edição autografada de O Canto dos Malditos, do curitibano Austregésilo Carrano (1957-2008), fará a alegria de um leitor nostálgico que frequenta alguma das 13 Casas de Leitura da cidade.
Uma das tarefas diárias de Patrícia é passar uma hora e meia por dia, sozinha, no porão. Ela e os livros. Patrícia investiga obra por obra. Diz que leva cerca de três minutos para verificar o ano de publicação, o autor, o assunto, a edição e, principalmente, averiguar o estado do que foi doado para direcionar o material corretamente. "Recebemos livros com páginas faltando. Alguns riscados demais, mofados. Aí precisamos descartar", lamenta. Se uma obra rara brota no meio da doação, é realizado um processo de restauro minucioso que envolve luvas cirúrgicas e produtos químicos.
Arrependimento
É estranho, mas a época do ano em que há mais doações é dezembro. "Não sei se as pessoas resolvem arrumar a casa para o Natal, sabe como é", sugere a curitibana formada em Turismo.
Em 16 anos de Fundação, entretanto, ela já viu muita gente se arrepender de gesto tão nobre. Houve caso em que um leitor doou um exemplar autografado de um livro sobre o Teatro Guaíra. Voltou no dia seguinte para resgatá-lo. Recentemente, o irmão do escritor Wilson Bueno (1949-2010) doou diversas obras. No meio delas, foi-se uma agenda com escritos inéditos do paranaense. "Ele voltou rapidinho. Sorte que estava aqui ainda."
Apesar de lembrar da importância das doações "para que o trabalho de circulação de livros continue, precisamos da colaboração da comunidade" , ela mesma reconhece o ato de bravura que é se desapegar. "Tenho livros pelos quais tenho amor. Não dou", confessa. Para comprovar a teoria cruel do universo de doação de livros, um causo que a marcou. Recentemente uma grande doação chegou até o Palacete. Eram 2,5 mil livros. "Foi um senhor. Ele doou a biblioteca inteira da sogra, que havia falecido."
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