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Antepassado indígena

A história que brota no Rio Solimões

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Assista à reportagem em vídeo (Foto: TV Globo)

Manaus – Na confluência dos rios Negro e Solimões "brotam" cerâmicas com mais de mil anos. Vestígios de trabalhos artesanais indígenas escondidos sob a terra preta (evidência de prática agrícola) e tantas outras expostas nas beiras dos rios. Peças que podem explicar, e muito, a complexa ocupação da floresta amazônica no período pré-colonial e o impacto da chegada dos europeus na região.

Mais de cem sítios arqueológicos foram catalogados na região até agora. Só pelo projeto Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás no Amazonas (Piatam), financiado pela Petrobrás, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e coordenado pela Universidade Federal do Amazonas, foram descobertos nos últimos cinco anos pelo menos 67 nas nove comunidades próximas ao Rio Solimões, entre Manaus e Coari.

Neste ano, na primeira expedição do Piatam, realizada no mês passado, foram descobertos 11 novos sítios arqueológicos. A região, que é considerada estratégica pelos pesquisadores do projeto, possui um dos patrimônios arqueológicos mais ricos do território nacional.

A peça mais antiga encontrada na Amazônia tem pelo menos 11.500 anos. Foram encontradas também 22 pontas de flecha no sítio Dona Stella, com 7.800 anos, conta o arqueólogo e pesquisador do Piatam, Márcio Walter Castro.

Nos idos de 1.500, havia 4 milhões de índios no Brasil, segundo as estimativas, sendo que 60% habitavam a Amazônia. Hoje, a comunidade indígena não passa de 500 mil pessoas. "Estudando as peças poderemos compreender como se deu a ocupação na Amazônia e decifrar porque houve um aumento da população entre os séculos 6 e 11 e depois um declínio."

Patrimônio

Em cada busca, um desafio. O dono da terra tem de "comprar a idéia", ou seja, assimilar a importância arqueológica das peças. "Alguns achavam que queríamos ouro, por exemplo. Isso demonstra um déficit de educação sobre arqueologia."

Nesse sentido, a maior contribuição do Piatam é justamente para as comunidades, na educação patrimonial, diz. "Precisamos da confiança dos cidadãos para que os arqueológos possam trabalhar em conjunto com a comunidade. O Piatam nos garante vigor logístico para realizar as intervenções nos sítios arqueológicos."

Em suas inúmeras visitas a comunidades ribeirinhas da Amazônia, Castro lembra de um menino que guardava em sua casa várias peças cerâmicas, vasos, travessas, entre outros. "Ele colecionava em casa o que encontrava no solo, com todo o cuidado. Em outras comunidades, vimos vasos pintados em diversas cores, descaracterizando a identidade da peça."

Carlos Augusto Lima, natural do Amazonas e também um dos arqueológos do Piatam, sempre se preocupou em conscientizar adultos e crianças da importância de se preservar o patrimônio não só natural, mas também cultural da região. "O meio ambiente é minha vida e também a minha história. Por isso decidi escrever um livro infantil sobre a arqueologia na Amazônia." Lima, que morou durante boa parte de sua vida na Floresta Amazônica, realizou seu sonho. Seu livro se chama "Conhecendo a Arqueologia: Um diálogo a caminho da escola."

Desvio do gasoduto

Ao longo de 380 quilômetros da construção do gasoduto Coari-Manaus, foram encontrados pelos pesquisadores do Piatam 40 sítios arqueológicos. "Vamos mapear a Amazônia Ocidental, área pouco pesquisada ainda", diz Castro.

O gasoduto Coari-Manaus, previsto para começar a operar em abril de 2008, terá 670 quilômetros. De início, o gasoduto vai transportar 4,7 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia de Urucu, em Coari, até Manaus. "Tratar a Amazônia com responsabilidade é um dos nossos objetivos. Nas obras do gasoduto Coari-Manaus mudou-se o trajeto para desviar sítios arqueológicos", comenta Edson Cunha, geólogo do Centro de Pesquisas da Petrobrás.

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