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Comportamento

A idade proibida do piercing

Há 19 anos no ramo, Gil Tattoo diz que fiscalização e exigência dos clientes aumentaram | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Há 19 anos no ramo, Gil Tattoo diz que fiscalização e exigência dos clientes aumentaram (Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo)

A agente de Saúde Ana Walquiria Branco costumava conversar com a filha de 10 anos sobre a vontade da criança em colocar um piercing na língua. Por considerá-la muito jovem, a mãe negou o pedido reiteradamente. No entanto, teve uma surpresa quando, ao chegar do trabalho na semana passada, a menina havia feito o procedimento às escondidas. Além da questão envolvendo o relacionamento familiar, Walquiria ficou chocada com a possibilidade de um local aceitar aplicar um piercing numa criança de 10 anos sem qualquer autorização de um responsável e com os riscos à saúde aos quais a menina ficou exposta.O caso real, trazido à Gazeta do Povo pela própria Walquiria, ilustra bem uma situação ainda cercada de cuidados: o crescente interesse de adolescentes por procedimentos de modificação corporal, como tatuagens e piercings. Mesmo não tomando o caso acima como exemplo – por se tratar de uma exceção pela idade da criança e pelas conversas de Walquiria com a filha –, a terapeuta familiar Eneida Ludgero enxerga essa situação das modificações corporais como uma relação ainda complicada entre pais e adolescentes.

Bons argumentos

De acordo com Eneida, brigar e proibir terminantemente os filhos sem argumentos sustentáveis, como acaba sendo comum, é uma das piores opções a serem tomadas. "Quando os pais se exaltam, além de criar um desconforto na relação com os filhos, eles ainda tenderiam a não dar bons argumentos sobre suas posturas, o que só iria dificultar a compreensão dos jovens", afirma a terapeuta.

Segundo Eneida, negar veementemente o desejo dos filhos traz a possibilidade de que eles se rebelem e façam o piercing ou a tatuagem sem o conhecimento da família. "Quando os pais não dão argumentos consistentes, as crianças vão buscar procurar os amigos, que têm grande influência nessas questões. E aí está o risco de o jovem acabar realizando o procedimento em um local que não siga as regras de higiene e de segurança devidas", diz Eneida.

Contudo, isso não quer dizer que os pais devam ignorar toda a questão. Ainda segundo Eneida, o ponto principal é o da orientação. "Os pais devem entender seus próprios valores, o porquê de rejeitarem a ideia e tentar passar ao filho da maneira mais clara possível." Outro argumento interessante apontado pela psicoterapeuta é o de deixar claro ao filho que, se ele desejar, terá de decidir sobre fazer o piercing ou a tatuagem quando tiver sua autonomia – com a maioridade e a independência financeira.

Pais jovens

Com a ideia de que "o exemplo pode valer mais do que a orientação", a terapeuta familiar e mediadora de conflitos Josete Túlio vê um fator que pode complicar os argumentos dos pais na hipótese de eles mesmos já terem feito tatuagens ou piercings e proibirem os filhos da aplicação. "É uma situação que hoje está comum, ainda mais em famílias jovens. Mas ainda assim, isso não deve evitar as tentativas em torno da argumentação", afirma Josete.

Uma possibilidade para os pais seria esclarecer as diferenças de cada situação e também apostar no argumento de que o filho poderá decidir pelo procedimento quando estiver na maioridade, diz a terapeuta.

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