No fim do ano passado, a família de Isabele*, 14 anos, de Curitiba, teve um sobressalto: uma foto que mostrava a adolescente nua, diante do espelho do banheiro de casa, passou a ser compartilhada no Twitter. Tornou-se um viral. Um site pornográfico também publicou a imagem. A fotografia foi feita pela própria Isabele* no ano anterior, a pedido do namorado.
Casos como esse expõem os riscos do sexting junção das palavras inglesas sex (sexo) e texting (envio de mensagens) e que significa tirar fotos sensuais de si mesmo e mandá-las a outra pessoa. De um lado, revelam os níveis de exposição aos quais os jovens vêm se submetendo. De outro, ressaltam a importância de ampliar o diálogo entre pais e filhos como forma de prevenção.
Segundo o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), os casos registrados no Paraná saltaram de 20, em 2012, para 50 no ano passado. A ONG SaferNet Brasil também aponta o avanço do número de vítimas. Em 2013, o canal de atendimento psicológico virtual da instituição orientou 101 jovens que se fotografaram em situações íntimas e que tiveram as imagens vazadas na rede. Em abril deste ano, já eram 72 atendimentos. "O problema é que as imagens são produzidas pelas próprias vítimas, de forma voluntária e deliberada. Quase 95% das vítimas têm entre 12 e 17 anos. É uma prática que se disseminou entre os jovens", diz o delegado Demétrius Gonzaga de Oliveira, chefe do Nuciber.
Confiança
Por outro lado, os responsáveis pela difusão dos materiais são pessoas próximas das vítimas, com as quais havia uma relação de confiança. Em mais de 90% dos casos encaminhados à perícia no Instituto de Criminalística (IC), as imagens foram vazadas por namorados ou amigos dos jovens que produziram o conteúdo. Por causa disso, os peritos ressaltam: uma vez que uma pessoa envia uma imagem a alguém, perde completamente o controle sobre ela.
"No momento em que a pessoa recebe um conteúdo no celular, ela pode compartilhar em qualquer mídia social, pode replicar em outro grupo, disseminar o conteúdo", alerta a perita criminal Sandra Cristina Balthazar Celli.
Nesse sentido, não existem aplicativos ou mídias sociais seguras. Em abril, os peritos do IC começaram a oferecer palestras em escolas. O objetivo é trazer aos jovens casos concretos de vítimas que tiveram a vida mudada pela autoexposição e ressaltar a falta de segurança dos dispositivos.
"As redes são integradas, o que torna tudo muito rápido. O jovem recebe a foto no WhatsApp, já passa adiante, posta no Twitter e no Facebook, marca um amigo da vítima na postagem. Em poucas horas, milhares de pessoas já viram e acabaram com a vida da pessoa", resume o perito Alexandre Vrubel.
Diálogo e monitoramento andam juntos
A popularização dos smartphones e a sexualização precoce de crianças e adolescentes são fatores que contribuem para o aumento dos casos de sexting. "É uma forma de os adolescentes manifestarem sua sexualidade. Eles sentem prazer em tirar fotos de si mesmos e enviar isso a alguém de confiança", diz a psicóloga Juliana Cunha. A principal arma dos pais nessas circunstâncias é o diálogo franco, expondo os riscos e traumas em que o sexting pode implicar.
O especialista em tecnologia da informação Gregory S. Smith defende que os pais "espionem" as atividades on-line de seus filhos. "Não preciso da permissão de ninguém para verificar as contas de e-mails dos meus filhos a fim de descobrir o que estão fazendo na frente do computador ou entrar em seus sites de relacionamento para ver o que estão postando em sua privacidade. Como pai, tenho o direito de fazer o que for necessário para mantê-los em segurança."
Nas conversas, é importante expor aos filhos os riscos e consequências caso a imagem vaze na rede, dando exemplos. Oriente-os a não compartilhar imagens de sexting, o que é ilegal. Procure também monitorar os aplicativos de celular deles, entenda como funcionam e converse sobre isso com eles.
"Vazamento" muda a vida da vítima
No ano passado, a vida de Lorena*, 14 anos, mudou radicalmente. Estimulada pelo namorado, ela fez um vídeo em que aparece se masturbando e encaminhou ao garoto, via WhatsApp. Dias depois, o vídeo chegou ao pai da menina. Ele não teve dúvidas: mudou-se de Curitiba com a família para outro estado. O caso foi investigado pelo Nuciber. "Os usuários de nossa helpline (atendimento psicológico virtual) relatam um sofrimento intenso, a ponto de mudarem de aparência, de escola, de cidade ou de emprego. Alguns desenvolvem depressão e ansiedade, e há casos que podem chegar ao suicídio", diz Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da SaferNet Brasil. Por esse serviço, a ONG disponibiliza psicólogos para ouvir e orientar as vítimas.
Sem maturidade para lidar com as mudanças, os jovens acabam pensando pouco nos efeitos da exposição. A exemplo dos alunos de um colégio de Londrina, que criaram um grupo no WhatsApp em que, para ser incluído, o adolescente precisava fazer um sexting. No Facebook, há páginas destinadas ao compartilhamento de fotos vazadas do WhatsApp. Nas postagens, os jovens fornecem números de celulares para a troca de imagens.
*nomes fictícios
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