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O escritor, filósofo, educador e psicanalista Rubem Alves costuma dizer que a leitura deve ser um "exercício de vagabundagem". Com mais de 70 livros publicados na área de educação, crônicas e literatura infantil, Alves se coloca contra as escolas que acabam fazendo da leitura uma obrigação e defende que os professores precisam saber ler para os seus alunos.

Com seu jeito bem humorado, o mineiro e professor emérito da Universidade de Campinas, Unicamp, é um agudo contestador do atual modelo educacional do país e se emociona ao falar sobre os problemas da educação pública brasileira. Alves acredita que as vagas no vestibular deveriam ser disputadas por sorteio, afirma que falta paixão dos professores no exercício da profissão e traduz o porquê da aversão de alguns alunos pelos conteúdos ensinados pelas escolas: não há conexão entre o conteúdo e a realidade deles.

Gazeta do Povo – Na sua opinião, como a escola pode ajudar a despertar o prazer pela leitura?

Rubem Alves – É muito fácil. A professora precisa saber ler. O aluno tem de ficar tão encantado com a leitura que até tenha inveja da professora. Na minha experiência de menino, a coisa mais feliz era a aula em que a professora ia ler pra gente. Não tinha prova, não tinha teste de compreensão, não tinha interpretação, não tinha nada. Era o puro prazer de ler. Então dou o seguinte conselho para as escolas e as prefeituras: façam concertos de leituras. Leitura é uma arte e organizar isto não custa nada.

O que a escola precisa ensinar?

Eu acho que a escola precisa ensinar a vida. A primeira tarefa fundamental é ensinar a pensar. Mas é uma coisa interessante. Você não pode chegar para alguém e dizer "pense sobre isto". Não tem jeito. Eu só penso sobre uma coisa que é um problema real para mim. Se eu moro no mar, na praia, andar de barco à vela é um problema real para mim. Mas se eu moro nas montanhas, não é. Então as questões a serem aprendidas variam de lugar para lugar.

Então, a escola tem de estar de acordo com a realidade da comunidade onde está inserida?

Claro. Mas eu acho que as coisas todas passam pela cabeça do professor, não é lei de diretrizes e bases, não é nada disso. O que move todo mundo na educação é estar ligado com as crianças, com os adolescentes e com os problemas deles. As escolas de periferia são de uma violência imensa, onde o professor é muito humilhado e ameaçado. Imagina estar numa daquelas escolas e ter de aprender análise sintática. Não tem nada a ver com a vida deles.

É por isso que você compara escolas a gaiolas?

É exatamente isto. As escolas podem engaiolar. Mas não quero dizer que todas as escolas são assim. Inclusive a Lei de Diretrizes e Bases abre um espaço imenso para ser criativo. Mas é meio complicado para quem é professor ser criativo. É muito mais simples ser o professor que dá a matéria. As condições para ser professor são ruins, mas se o professor é apaixonado pela educação, ele faz qualquer coisa.

Onde está o principal problema da educação pública brasileira?

Está na educação básica e quando você chega na universidade. Eu lamento muito falar isso, mas a multiplicação das universidades e faculdades particulares no Brasil não conta com o simples fato que não há emprego. Há um monte de possibilidades de se ganhar a vida, que não é só a universidade. Eu sugiro que todas as pessoas que façam um curso na universidade aprendam também um ofício, porque depois todo mundo vai para o shopping center, vender sanduíche, ser balconista.

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