Passados 150 anos da primeira exposição das idéias de Charles Darwin, quando ele apresentou a teoria da evolução ao lado de Alfred Russel Wallace, na Sociedade Linneana de Londres, é difícil imaginar que o pai dele não acreditava ter um filho gênio. O sermão que Darwin, ainda jovem, recebeu do pai, era de que ele não levava nada a sério porque só sabia caçar e capturar ratos: isto significava não ser um profissional bem sucedido. Por sorte, Darwin foi perseverante e, com seu olhar especial voltado para a natureza, conseguiu responder a perguntas importantes que até então a biologia não explicava. Antes da teoria da evolução, tudo se explicava apenas pela obra divina.
Durante os estudos em Cambrigde (1809), é importante lembrar que Darwin também acreditava nas criações de Deus. Ao embarcar no barco Beagle rumo a América Latina, em 1831, entretanto, o naturalista se deparou com uma diversidade de espécies que acabaram com todas as suas crenças eclesiáticas. Dali em diante, sua percepção sobre a história da vida estaria ligada apenas às evidências lógicas e materiais. Não por menos, é impressionante notar a quantidade de anotações comentadas e documentos deixados pelo pesquisador. Ele já havia presenciado o fracasso de Lamarck, quando decidiu apresentar o que tinha pesquisado sobre evolução. Era preciso se precaver com provas para evitar uma nova decepção.
Em uma exposição sobre a biografia de Darwin, que começa na próxima semana na Universidade Positivo, em Curitiba, será possível refazer a viagem do barco Beagle e perceber as espécies que foram notadas e estudadas por ele as responsáveis por mudar o seu ponto de vista.
Quando tinha apenas 25 anos, Darwin desembarcou nas Ilhas Galápagos a mil quilômetros da costa equatoriana onde conseguiu esboçar parte de sua teoria: de que os animais evoluem para se adaptar ao meio ambiente. A ilha abriga espécies raras de tartarugas gigantes, iguanas e pássaros. O naturalista percebeu, por exemplo, que o bico de alguns pássaros tinha um formato que permitia a quebra de sementes daquela região uma adequação da espécie para a sobrevivência.
A ema da América do Sul, um dos animais mais emblemáticos do pensamento de Darwin, estará na mostra. A co-curadora da exposição Darwin: Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo, Maria Isabel Landin, explica que a observação deste animal permitiu a Darwin concluir que a distribuição da espécie se interrompe no Sul da América do Sul, na altura do Rio Negro. E o mais interessante é que logo ao Sul deste rio havia uma segunda espécie de ema. "Daí surgiram as primeiras reflexões sobre o padrão de aparecimento e distribuição das espécies. Ele começou a fazer as perguntas mais importantes da teoria da evolução: por que há um tipo de ema que vai até determinado lugar, se comunica com a outra, mas não avança geograficamente?", exemplifica Maria Isabel.
Réplicas dos fósseis que Darwin encontrou na Patagônia, região do Chile, expostos na Universidade Positivo, também são apoio para o público tentar entender a teoria do naturalista inglês. Darwin encontrou fósseis de criptodontes preguiças e tatus gigantes e percebeu que a ossada estava relacionada aos tatus e preguiças menores que vivem na região. "O que aconteceu? Esta era a grande pergunta que ele se fazia. Então, Darwin percebeu que houve a evolução, a seleção natural das espécies. O argumento da troca de espécies maiores pelas menores era por causa das mudanças ambientais e climáticas, já perceptíveis à época", afirma o doutor em paleontologia e biólogo da Universidade Positivo, professor Eliseu Vieira Dias. Foi a partir daí que o inglês deixou de ser um pensador criacionista para formular sua própria visão da diversidade, a evolucionista, onde a substituição das espécies ocorre através do tempo e do espaço.
Brasil chocante
A visão de Darwin sobre o Brasil é parada obrigatória na exposição. Apesar de estar rodando o mundo, a mostra dos outros países não fala especificamente deste aspecto ele foi desenvolvido para o público brasileiro saber quais foram as impressões de Darwin ao passar pelo país. "É a visão de um viajante do século 19", comenta Maria Isabel. Documentos deixados por Darwin, principalmente na segunda edição de seu diário, mostram o quanto ele ficou chocado ao notar o comércio de escravos. "Ele era inglês e a Inglaterra, neste período, já discutia a libertação dos escravos nas suas colônias. Os próprios avôs de Darwin lutaram pela abolição da escravatura na Inglaterra do século 18. Por isso, quando parte do Brasil, Darwin diz: graças a Deus estou deixando esta terra e espero nunca mais ter de pisar em um país escravocata."
A passagem de Darwin ao Brasil tem emoções ambivalentes: ele fica desgostoso ao ver a escravidão ainda tão consolidada no país, mas fica maravilhado ao perceber a diversidade de espécies de animais e plantas. Foi o seu primeiro contato com a mata tropical. "Em um dos documentos deixados, ele diz que é fácil ser naturalista na Inglaterra, onde o ambiente não é tão diverso. O problema é observar os animais nas regiões tropicais: você enxerga uma borboleta voando, depois um outro inseto e ainda vê um verme na árvore", conta Maria Isabel. As aranhas da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, também não escaparam ao olhar de Darwin: ele ficou maravilhado ao ver tamanha diversidade de espécies.
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Serviço
A exposição Darwin: Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo estará na Universidade Positivo a partir da próxima quinta-feira. Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, número 5.300, bairro Campo Comprido. Ela ficará aberta ao público até 30 de novembro de 2008. Horários: segunda a sexta-feira, das 9 às 22 horas; sábados, domingos e feriados, das 9 às 17 horas. A bilheteria fecha uma hora antes da exposição. Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Gratuito para alunos e professores da rede pública, mediante agendamento, e para menores de 7 anos e maiores de 60 anos. Contato de agendamento de visitas guiadas para grupos: 0300 789 0002. Site: www.darwinbrasil.com.br.