Exposição refaz a viagem do barco Beagle pela América do Sul, mostrando as espécies estudadas pelo naturalista britânico| Foto: Fotos: Divulgação

Curitiba pode receber outras mostras

A exposição sobre Darwin foi a primeira parceria feita entre o Instituto Sangari e o American Museum of Natural History (AMNH), de Nova Iorque. Em São Paulo, uma outra exposição fruto desta parceria fala sobre a vida e as idéias de Einstein – ainda não foi confirmado se ela virá a Curitiba.

O Instituto foi fundado pelo físico e empresário Ben Sangari. O objetivo é desenvolver e apoiar projetos para disseminar a cultura e o conhecimento científico. "Queremos dar oportunidade às pessoas que não podem ir até Nova Iorque. Por isso decidimos trazer as exposições do Museu de História Natural de lá para o Brasil", diz Sangari. O Instituto trouxe neste ano a exposição sobre Revolução Genômica (que não chegou à capital paranaense) e, para o próximo ano, pretende trazer para o Brasil uma mostra sobre a água e sobre as mudanças climáticas no planeta.

CARREGANDO :)

Por que Lamarck fracassou?

A teoria de Lamarck dizia que as espécies evoluíam para se adaptar ao ambiente e, assim, poder sobreviver. Um exemplo seria o das girafas, que esticavam cada vez mais o pescoço para capturar os alimentos. O erro dele foi dizer que os filhotes destas girafas também nasceriam com o pescoço comprido.

"Seria como imaginar que o filho de um halterofilista nasceria musculoso", explica o doutor em paleontologia e biólogo da Universidade Positivo, professor Eliseu Vieira Dias. Darwin fala desta idéia, mas coloca no sentido de geração após geração, onde as girafas que têm pescoço mais comprido é que vão conseguir alimento com mais sucesso. (PM)

A fauna sul-americana impressionou Darwin
Darwin: teoria revolucionária

Passados 150 anos da primeira exposição das idéias de Charles Darwin, quando ele apresentou a teoria da evolução ao lado de Alfred Russel Wallace, na Sociedade Linneana de Londres, é difícil imaginar que o pai dele não acreditava ter um filho gênio. O sermão que Darwin, ainda jovem, recebeu do pai, era de que ele não levava nada a sério porque só sabia caçar e capturar ratos: isto significava não ser um profissional bem sucedido. Por sorte, Darwin foi perseverante e, com seu olhar especial voltado para a natureza, conseguiu responder a perguntas importantes que até então a biologia não explicava. Antes da teoria da evolução, tudo se explicava apenas pela obra divina.

Publicidade

Durante os estudos em Cambrigde (1809), é importante lembrar que Darwin também acreditava nas criações de Deus. Ao embarcar no barco Beagle rumo a América Latina, em 1831, entretanto, o naturalista se deparou com uma diversidade de espécies que acabaram com todas as suas crenças eclesiáticas. Dali em diante, sua percepção sobre a história da vida estaria ligada apenas às evidências lógicas e materiais. Não por menos, é impressionante notar a quantidade de anotações comentadas e documentos deixados pelo pesquisador. Ele já havia presenciado o fracasso de Lamarck, quando decidiu apresentar o que tinha pesquisado sobre evolução. Era preciso se precaver com provas para evitar uma nova decepção.

Em uma exposição sobre a biografia de Darwin, que começa na próxima semana na Universidade Positivo, em Curitiba, será possível refazer a viagem do barco Beagle e perceber as espécies que foram notadas e estudadas por ele – as responsáveis por mudar o seu ponto de vista.

Quando tinha apenas 25 anos, Darwin desembarcou nas Ilhas Galápagos – a mil quilômetros da costa equatoriana – onde conseguiu esboçar parte de sua teoria: de que os animais evoluem para se adaptar ao meio ambiente. A ilha abriga espécies raras de tartarugas gigantes, iguanas e pássaros. O naturalista percebeu, por exemplo, que o bico de alguns pássaros tinha um formato que permitia a quebra de sementes daquela região – uma adequação da espécie para a sobrevivência.

A ema da América do Sul, um dos animais mais emblemáticos do pensamento de Darwin, estará na mostra. A co-curadora da exposição Darwin: Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo, Maria Isabel Landin, explica que a observação deste animal permitiu a Darwin concluir que a distribuição da espécie se interrompe no Sul da América do Sul, na altura do Rio Negro. E o mais interessante é que logo ao Sul deste rio havia uma segunda espécie de ema. "Daí surgiram as primeiras reflexões sobre o padrão de aparecimento e distribuição das espécies. Ele começou a fazer as perguntas mais importantes da teoria da evolução: por que há um tipo de ema que vai até determinado lugar, se comunica com a outra, mas não avança geograficamente?", exemplifica Maria Isabel.

Réplicas dos fósseis que Darwin encontrou na Patagônia, região do Chile, expostos na Universidade Positivo, também são apoio para o público tentar entender a teoria do naturalista inglês. Darwin encontrou fósseis de criptodontes – preguiças e tatus gigantes – e percebeu que a ossada estava relacionada aos tatus e preguiças menores que vivem na região. "O que aconteceu? Esta era a grande pergunta que ele se fazia. Então, Darwin percebeu que houve a evolução, a seleção natural das espécies. O argumento da troca de espécies maiores pelas menores era por causa das mudanças ambientais e climáticas, já perceptíveis à época", afirma o doutor em paleontologia e biólogo da Universidade Positivo, professor Eliseu Vieira Dias. Foi a partir daí que o inglês deixou de ser um pensador criacionista para formular sua própria visão da diversidade, a evolucionista, onde a substituição das espécies ocorre através do tempo e do espaço.

Publicidade

Brasil chocante

A visão de Darwin sobre o Brasil é parada obrigatória na exposição. Apesar de estar rodando o mundo, a mostra dos outros países não fala especificamente deste aspecto – ele foi desenvolvido para o público brasileiro saber quais foram as impressões de Darwin ao passar pelo país. "É a visão de um viajante do século 19", comenta Maria Isabel. Documentos deixados por Darwin, principalmente na segunda edição de seu diário, mostram o quanto ele ficou chocado ao notar o comércio de escravos. "Ele era inglês e a Inglaterra, neste período, já discutia a libertação dos escravos nas suas colônias. Os próprios avôs de Darwin lutaram pela abolição da escravatura na Inglaterra do século 18. Por isso, quando parte do Brasil, Darwin diz: graças a Deus estou deixando esta terra e espero nunca mais ter de pisar em um país escravocata."

A passagem de Darwin ao Brasil tem emoções ambivalentes: ele fica desgostoso ao ver a escravidão ainda tão consolidada no país, mas fica maravilhado ao perceber a diversidade de espécies de animais e plantas. Foi o seu primeiro contato com a mata tropical. "Em um dos documentos deixados, ele diz que é fácil ser naturalista na Inglaterra, onde o ambiente não é tão diverso. O problema é observar os animais nas regiões tropicais: você enxerga uma borboleta voando, depois um outro inseto e ainda vê um verme na árvore", conta Maria Isabel. As aranhas da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, também não escaparam ao olhar de Darwin: ele ficou maravilhado ao ver tamanha diversidade de espécies.

* * * * *

Serviço

Publicidade

A exposição Darwin: Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo estará na Universidade Positivo a partir da próxima quinta-feira. Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, número 5.300, bairro Campo Comprido. Ela ficará aberta ao público até 30 de novembro de 2008. Horários: segunda a sexta-feira, das 9 às 22 horas; sábados, domingos e feriados, das 9 às 17 horas. A bilheteria fecha uma hora antes da exposição. Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Gratuito para alunos e professores da rede pública, mediante agendamento, e para menores de 7 anos e maiores de 60 anos. Contato de agendamento de visitas guiadas para grupos: 0300 789 0002. Site: www.darwinbrasil.com.br.