Aos 61 anos, Luiz Vaz é responsável por cuidar da mudas de flores que irão para canteiros e praças.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

À primeira vista, o Horto Municipal de Curitiba, no Guabirotuba, nas rebarbas da Linha Verde, parece um imenso jardim coberto misturado com alguns toques de Tempos Modernos, de Charlie Chaplin. Desde a inauguração da Fábrica das Flores, em maio, técnicas quase industriais em larga escala produzem um dos maiores símbolos da harmonia urbana.

CARREGANDO :)

As flores do Horto Municipal abastecem as praças, canteiros, bosques e jardins da capital – com trocas agendadas a cada mudança de estação. Na média, os 70 funcionários “fabricam” aproximadamente seis milhões de mudas a cada ano. Eles contam com uma máquina para auxiliar no plantio. Sementes estrangeiras e terra especial catarinense abastecem os tubetes. O equipamento enche 450 potinhos por minuto, que vão para a estufa.

Publicidade

A tecnologia aprimora processos e poupa tempo, mas ainda não controla o clima. De fato, as plantinhas andam bem sensíveis com a umidade dos últimos dias. O julho atípico, de muita chuva e temperaturas mais altas do que o normal, bagunçou o ecossistema local. “O amor-perfeito, a nossa flor da estação, não foi feita para tanta água. Ela é acostumada a um clima mais ameno”, explica Erica Mielke, diretora do Departamento de Produção Vegetal. Os funcionários mais antigos chamam-na de Mulher das Flores.

Erica trabalha há mais de 15 anos com flores. Ela explica que o frio queima as folhas. O excesso de água, por sua vez, gera manchas, crescimento desequilibrado e cores menos intensas. Ao fim de tantas intempéries, as plantinhas ficam loucas. “Tudo isso aumenta a incidência de pragas, como fungos e lagartas. Estressa as plantas. Dá pra ver na vivacidade das folhas.”

Para as próximas estações, o horto está agora produzindo begônias vermelhas, que lembram pequenas taças de vinho, e cravinas, assemelhadas aos coloridos guarda-chuvas japoneses. “Escreve aí que não passamos veneno, as plantinhas não merecem veneno.”

Carinhos e boleros

Enquanto sai mais um carregamento de amor-perfeito, a cadela Kika, malhada, tranquila e sem maiores sinais de estirpe, se espreguiça numa poça. “Ela gosta muito de flores. Fica sentadinha, o dia todo, olhando a gente cuidar das estufas”, entrega Luiz Vaz, chefe de produção e repicagem (transplante da planta de um potinho para o outro) do Horto Municipal.

Aos 61 anos, quase 25 de floricultura, ele é fã de Reginaldo Rossi e torcedor (um pouco chateado) do Clube Atlético Paranaense. Toda sexta-feira vai à Sociedade Água Verde praticar dança de salão com a esposa. “É a minha segunda terapia”. Ainda se emociona quando se refere às suas mudinhas. “Tudo o que tenho na vida veio das flores”, diz. “Enquanto puder e tiver saúde, irei plantar flor.”

Publicidade

Vaz entende do ciclo das plantas. Como é o responsável pela etapa da germinação das sementes, todo cuidado é pouco. “As plantas têm personalidade, sentem o nosso nervosismo, sabem quando não estamos bem. Plantar flores não é apenas dar água, luz e adubo. Elas precisam de carinho”, garante. Antes de chegar aos espaços urbanos, as flores passam, em média, por três meses de incubação, da primeira germinação até o banho de luz final. “Fico feliz quando vejo um jardim bem bonito que eu ajudei a criar”, comenta, contente, o floriculturista.