Ela virou modelo para outros estudantes. Há pouco mais de dois meses Isadora Faber se tornou conhecida na internet ao mostrar a situação do colégio em que estuda, em Santa Catarina, em um perfil criado na rede social Facebook. A coragem da garota, de 13 anos, fez com que várias outras páginas semelhantes à dela aparecessem em todo o país. São adolescentes e jovens que resolveram colocar a boca no mundo reivindicando melhorias na educação.
Em Curitiba, Igor Fabiano de Castro Nascimento, 18 anos, aluno do Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli, na Vila Verde, no bairro Cidade Industrial de Curitiba, seguiu à risca o exemplo de Isadora. Desde o início do mês ele tem postado no Facebook, na página que ganhou o nome de Diário do Estudante Vila Verde, o que tem visto em seu colégio e que não lhe agrada.
De lá pra cá, assim como aconteceu com Isadora, Igor foi alertado para que retirasse a página do ar e não tem sido visto com bons olhos por algumas pessoas. "Tive um problema com a direção da escola, quando alguns ex-alunos começaram a ofender o diretor. Ele me chamou para uma conversa e eu me comprometi a retirar os comentários", explica. O estudante já deixou um recado no perfil avisando aos usuários que tal atitude não será permitida e esclarecendo que a página tem a função de mostrar o cotidiano da escola, com o que há de ruim e de bom.
Resultados
Hoje, cerca de 200 pessoas estão seguindo o diário criado por Igor. Em aproximadamente duas semanas poucas mudanças ocorreram, como a troca de algumas tomadas e o conserto de uma porta de ferro, mas ele acredita que em breve mais soluções apareçam. "A Isadora conseguiu, né? A exposição dela na mídia, nos últimos tempos, ajudou bastante. Minha vantagem é ser representante do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) e isso pode me favorecer." Igor é porta-voz do CEDCA, um órgão de natureza estatal especial, que conta com representantes governamentais e não-governamentais.
A ideia do estudante é transformar a página, em breve, para que ela abrigue informações sobre o maior número possível de escolas de Curitiba. Por estar em contato com as secretarias estaduais, ele espera poder interferir na qualidade da estrutura oferecida aos alunos. "Acho meio egoísta pensar só na minha escola. Se tenho a chance de falar às secretarias estaduais, quero usar isso para todos", diz.
ParticipaçãoAtitude faz repensar estereótipo de jovens pouco engajados
O bom uso das redes sociais pode ser a porta de entrada para o surgimento de uma nova leva de cidadãos que não pretende ficar de braços cruzados. Segundo o sociólogo Lindomar Bonetti, atitudes como a desses adolescentes derrubam a teoria popular de que a juventude é pouco engajada. "Eles têm habilidade nessa ferramenta e precisam utilizar isso a seu favor", diz.
Essa também é a avaliação da professora de Direito Jimena Aranda, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "A propaganda que se faz dos jovens é de que eles só querem desacatar autoridades para mostrar ao mundo que existem. Mas não: eles estão aparecendo de forma positiva ao mostrar que têm poder na rede", afirma.
Para a professora, esse é um grande passo dado por esses jovens. "Eles encontraram o espaço que lhes cabe, onde podem ser cidadãos antes mesmo de tirar o título de eleitor."