O número de títulos de mestrado cresceu cerca de 11% ao ano no Brasil entre 1996 e 2009. Em 14 anos, o volume de novos mestres passou de 10.389 para 38.800, um aumento de 273%, segundo o estudo Mestres 2012, publicação inédita divulgada recentemente pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Enquanto a pós-graduação de uma forma geral ainda está concentrada nas universidades públicas, as particulares demonstraram um crescimento muito superior à média, levando federais e estaduais à perda de participação relativa no período avaliado pelo estudo. Em 1996, as federais concederam 56,5% dos títulos de mestrado e as estaduais, 30,2%. Em 2009, foram responsáveis por 51,9% e 25%, respectivamente. O aumento ocorreu entre as particulares, que avançaram de 13,3% para 22,4% no mesmo período.
Outro dado apontado pelo levantamento é que o crescimento nas particulares é bastante concentrado, especialmente em áreas como as ciências sociais e humanas. "O perfil privado se volta para as áreas de mais fácil estruturação do ponto de vista da oferta do curso, as que precisam de uma infraestrutura mais light", comenta o diretor do CGEE e supervisor da pesquisa, Antonio Carlos Filgueira Galvão.
Segundo Luiz Nacamura Junior, diretor de pós-graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), as privadas têm um grande potencial de crescimento, mas em áreas que não demandam muito investimento.
Outro motivo para a maior expansão das particulares é apontado pela pró-reitora de pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joana Maria Pedro. De acordo com ela, enquanto as instituições privadas procuram criar cursos de mestrado e doutorado visando à transformação em universidade, nas públicas a pós-graduação já está, de certa forma, consolidada. "A maioria dos nossos cursos de graduação já contam com mestrado e doutorado. Tomando o exemplo da UFSC, o espaço para crescimento dos mestrados está mesmo nas privadas", diz.
Falta de professores
O reitor da Universidade Positivo (UP), José Pio Martins, afirma que as instituições privadas encontram mais facilidade para expandir os cursos de pós-graduação em áreas como Administração e Direito. "Em outras áreas fica mais caro e o limitante não é só o dinheiro, mas as condições materiais do país. Para criar um mestrado em Medicina ou Engenharia, é preciso quase uma indústria de equipamentos", diz.
Como os critérios de avaliação para abertura e manutenção dos cursos de pós-graduação é muito rigoroso, Martins considera que dificilmente haverá proliferação de mestrados e doutorados nas instituições particulares. "São regras muito duras. Enfrentamos dificuldades para conseguir docentes, que são mais pesquisadores que professores, e aí fica difícil. Ainda dependemos das federais para formar o quadro de docentes", explica.
No Paraná, estaduais são mais fortes
Diferentemente do panorama nacional, em que as universidades federais oferecem mais da metade dos programas de mestrado, no Paraná são as estaduais que dominam a pós-graduação, seguidas das federais e com ampla vantagem sobre as particulares, segundo o estudo do CGEE. A diferença pode ter sido intensificada nos últimos anos, de acordo com o diretor de pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Gibson Pilatti. Na própria UEPG, de 2009 até hoje, os programas de mestrado saltaram de 10 para 19, avanço que ficou de fora da compilação Mestres 2012.
Os laboratórios da pós-graduação da UEPG (foto) são modernizados constantemente, graças aos editais em que a universidade é contemplada todos os anos.
O pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Mário Sérgio Mantovani, lembra que, mesmo o estado tendo um forte ensino de pós-graduação, é importante que as particulares avancem. "Temos deficiência de mercado de pós-graduação e as públicas sozinhas não vão dar conta. O Brasil precisa que todos os sistemas invistam na formação de mestre e doutores para alcançar o patamar de países desenvolvidos", diz.
PerfilEntre os mestres, há desigualdade de gênero e raça
Enquanto 43% da população brasileira é branca, quando se considera o título de mestre esse número sobe para 80%. Pardos somam 12% e apenas 8% são negros. Entre os gêneros também há desigualdade. A proporção de mulheres mestres é 7% maior que a de homens a diferença também se repete no doutorado. Apesar disso, a remuneração delas ainda é menor que a deles. Segundo a pesquisa do CGEE, as mulheres recebem em média R$ 5.438,41, valor 28% menor que o salário dos homens, que ganham em média R$ 7.557,31.