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Pobreza

A nova cara do povo da rua

Cena do Terminal Guadalupe numa noite de frio: moradores de rua, como a mulher conhecida por Doce [enrolada no cobertor] esperam o esvaziamento do local e fazem dali seu abrigo. Fundação de Ação Social faz visitas contínuas ao terminal. “Duro é conseguir que o Samu venha atendê-los”, diz um educador que não pode ser identificado | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Cena do Terminal Guadalupe numa noite de frio: moradores de rua, como a mulher conhecida por Doce [enrolada no cobertor] esperam o esvaziamento do local e fazem dali seu abrigo. Fundação de Ação Social faz visitas contínuas ao terminal. “Duro é conseguir que o Samu venha atendê-los”, diz um educador que não pode ser identificado (Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
Detalhe do guarda-malas |

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Detalhe do guarda-malas

O morador de rua

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O morador de rua

Os educadores Anderson Christian Walter e Edna Marinho atendem chamado no bairro do Pinheirinho, numa noite de frio e chuva |

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Os educadores Anderson Christian Walter e Edna Marinho atendem chamado no bairro do Pinheirinho, numa noite de frio e chuva

Moradores de rua chegam para a triagem por volta das 17 horas, na Central de Resgate Social, albergue da prefeitura na Rua João Negrão, esquina com a Visconde de Guarapuava |

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Moradores de rua chegam para a triagem por volta das 17 horas, na Central de Resgate Social, albergue da prefeitura na Rua João Negrão, esquina com a Visconde de Guarapuava

A educadora social Vilma Terezinha da Silva, 42 anos, na Kombi, a caminho de um atendimento no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba |

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A educadora social Vilma Terezinha da Silva, 42 anos, na Kombi, a caminho de um atendimento no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba

Educadora Vilma identifica homem caído no gramado. Ele não é um morador de rua típico – tem boas roupas, usa óculos. Está alcoolizado e tenta dizer onde mora. Mas seu estado de embriaguez exige que seja levado para o ambulatório do albergue. Não tem cadastro – será sua primeira noite na Central |

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Educadora Vilma identifica homem caído no gramado. Ele não é um morador de rua típico – tem boas roupas, usa óculos. Está alcoolizado e tenta dizer onde mora. Mas seu estado de embriaguez exige que seja levado para o ambulatório do albergue. Não tem cadastro – será sua primeira noite na Central

O educador Anderson Christian Walter explica as motivações de seu trabalho:

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O educador Anderson Christian Walter explica as motivações de seu trabalho:

A educadora Edna Marinho em ação:

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A educadora Edna Marinho em ação:

Nova cena do Terminal Guadalupe. Muitos moradores de rua dormem sentados |

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Nova cena do Terminal Guadalupe. Muitos moradores de rua dormem sentados

A filha de triagem na Central de Atendimento da Fundação de Ação Social continua crescendo. Na noite em que a Gazeta do Povo fez a imersão no local, cerca de 390 pessoas dormiram no local. A capacidade é para 300 hóspedes |

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A filha de triagem na Central de Atendimento da Fundação de Ação Social continua crescendo. Na noite em que a Gazeta do Povo fez a imersão no local, cerca de 390 pessoas dormiram no local. A capacidade é para 300 hóspedes

Edson Luiz de Souza, 50 anos, se hospeda com frequência na Central da Fundação de Ação Social. Ele é da coordenação do Movimento Nacional de População de Rua.

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Edson Luiz de Souza, 50 anos, se hospeda com frequência na Central da Fundação de Ação Social. Ele é da coordenação do Movimento Nacional de População de Rua.

A assistente social Neli Maria Schneider Pudelco, 55 anos, gerente da equipe técnica da Central de Atendimento da Fundação de Ação Social: mudança de perfil dos chamados moradores em situação de rua |

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A assistente social Neli Maria Schneider Pudelco, 55 anos, gerente da equipe técnica da Central de Atendimento da Fundação de Ação Social: mudança de perfil dos chamados moradores em situação de rua

Geral da ala dos dormitórios. Hoje, o albergue está terceirizado. A capacidade é para 300 hóspedes |

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Geral da ala dos dormitórios. Hoje, o albergue está terceirizado. A capacidade é para 300 hóspedes

Cena do refeitório da Central de Atendimento |

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Cena do refeitório da Central de Atendimento

Cena do refeitório da Central de Atendimento |

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Cena do refeitório da Central de Atendimento

Cena do refeitório da Central de Atendimento |

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Cena do refeitório da Central de Atendimento

Cena do refeitório da Central de Atendimento |

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Cena do refeitório da Central de Atendimento

Aírton, ex-funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, na qual montava exposições. O alcoolismo o levou às ruas. Vive de pequenos ganhos retratando passageiros no Terminal Guadalupe. À noite, hospedagem no albergue |

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Aírton, ex-funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, na qual montava exposições. O alcoolismo o levou às ruas. Vive de pequenos ganhos retratando passageiros no Terminal Guadalupe. À noite, hospedagem no albergue

O morador de rua eslavo – histórias da rua não excluem ninguém. Até pouco tempo alcoolismo e alguma forma de sofrimento mental eram as situações mais comuns |

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O morador de rua eslavo – histórias da rua não excluem ninguém. Até pouco tempo alcoolismo e alguma forma de sofrimento mental eram as situações mais comuns

Rotina na entrada do setor de dormitórios no albergue da Fundação de Ação Social: há vigilância. Muitos moradores de rua querem sair depois de fazer a refeição, o que não é permitido. Mas obrigatoriedade do banho não existe mais, o que causa muitos atritos entre os hóspedes |

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Rotina na entrada do setor de dormitórios no albergue da Fundação de Ação Social: há vigilância. Muitos moradores de rua querem sair depois de fazer a refeição, o que não é permitido. Mas obrigatoriedade do banho não existe mais, o que causa muitos atritos entre os hóspedes

Cena do setor de albergue |

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Cena do setor de albergue

Cena do setor de albergue |

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Cena do setor de albergue

Moradores de rua se agregam nos quartos em função da afinidade. Há a turma dos alcoolistas, os que têm comprometimento mental, os LGBTS, e os hóspedes que vieram de uma vida mais organizada e são rigorosos com a higiene. Ali são chamados de

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Moradores de rua se agregam nos quartos em função da afinidade. Há a turma dos alcoolistas, os que têm comprometimento mental, os LGBTS, e os hóspedes que vieram de uma vida mais organizada e são rigorosos com a higiene. Ali são chamados de

Os quartos dos

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Os quartos dos

Ala dos moradores mais organizados e rigorosos com a higiene |

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Ala dos moradores mais organizados e rigorosos com a higiene

Moradores da

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Moradores da

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Mural. Em vários do albergue há recados sobre emprego como panfleteiro, vendedor de jornal na rua, mas principalmente pedidos de informações sobre desaparecidos |

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Mural. Em vários do albergue há recados sobre emprego como panfleteiro, vendedor de jornal na rua, mas principalmente pedidos de informações sobre desaparecidos

A triagem na entrada continua – hoje 3,4 novos cadastros são feitos a cada dia. Não representa aumento da população de rua, mas indica seu novo perfil: são moradores que vão e vêm e estão em processo de mendicância, não raro provocada pelo uso de drogas e fuga de dívidas do tráfico |

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A triagem na entrada continua – hoje 3,4 novos cadastros são feitos a cada dia. Não representa aumento da população de rua, mas indica seu novo perfil: são moradores que vão e vêm e estão em processo de mendicância, não raro provocada pelo uso de drogas e fuga de dívidas do tráfico

"Oi moço, vamos jantar?", pergunta a educadora Vilma Terezinha da Silva, 52 anos, ao homem alcoolizado, caído num gramado do Capão da Imbuia, em Curitiba. Chove. Ele está em "situação de risco", como dizem os servidores da Fundação da Ação Social, a FAS, quando precisam soar o alerta. Mesmo que o atendido resista em ser levado para a Central de Resgate Social, é preciso gastar até a última gota de saliva. "Ele pode ter uma hipotermia", informa Vilma, oferecendo o braço para levantá-lo. Vinte minutos depois, consegue.

À luz, vê-se que tem boas roupas, usa óculos de grau e que ainda não faz parte de fato dos 2.776 curitibanos que vivem na mendicância, como contabiliza pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social publicada em 2008. O número é motivo de contenda. Para Leonildo José Monteiro Filho, presidente do Movimento Nacional da População de Rua, seriam 5 mil. Para a prefeitura, 3 mil, mas apenas 1,4 mil em estado crônico, sendo que 98% destes já passaram pela assistência alguma vez e estão devidamente cadastrados. "Conhecemos quase todos pelo nome", orgulham-se os funcionários da casa. Quase todos.

"Abrimos três, quatro cadastros novos por dia", calcula a assistente social Neli Maria Schneider Pudelco, 55 anos, uma das gestoras do serviço, apontando o novo perfil da mendicância na capital. Se antes os 250 servidores do abrigo municipal tinham vínculo garantido com a sua clientela, conquistada anos a fio, agora precisam reaprender a lidar com os rostos que surgem, com outros problemas. O homem recolhido no Capão é uma amostra da reviravolta.

Os recém-chegados estão fora do padrão clássico dos pobres em farrapos. Chegam a provocar incredulidade. São mais jovens, bem trajados, têm endereço, mas resistem em dá-lo, indicativo de que podem estar protegendo sua família de algum traficante com ganas de vingança por dívida, como se sabe, paga com sangue. Eis o ponto – o crime chegou à linha mais frágil da sociedade e coloca a faca no peito até da ação social.

Crônicos e agudos

Há uma parcela da mendicância que segue o rumo de sempre. São os chamados "crônicos". Para eles, as mudanças são lentas. É comum encontrar nessa fatia quem frequente o albergue da prefeitura há 10, 15 anos ou até mais. Estima-se que 40% dos 300 leitos do ocupados por essa turma, apelidada de "bate e volta". São cordiais – abraçam os educadores, têm mesa cativa no refeitório e quarto marcado no segundo andar.

Seus problemas? Casos de álcool, rejeição familiar, conformismo, sofrimento mental. Muitos se julgam velhos demais para recomeçar. "Tenho 35 anos. Durmo aqui desde 1998, mas quem me emprega não sabe. Fui mais discriminado por ser negro do que por ser morador de rua", conta "João", crônico assumido. Aírton Gonçalves, 46 anos, 11 de albergue, montava exposições da Fundação Cultural de Curitiba. Seu vínculo com a arte é flagrante, mas agora a mostra é no Terminal Guadalupe, onde vende alguns desenhos feitos de punho. "Acho que ele está apático", diz uma assistente, diante do que chama de desperdício de talentos.

Quanto aos "agudos", somam 60% dos frequentadores da Central, uma população flutuante, que aporta ali em troca de um banho, roupa limpa e remédio para as feridas. Estão dando um tempo. Satisfeitas as necessidades, podem demorar meses para voltar. É em meio a esse núcleo, digamos, mais dinâmico, que está abrigada uma frente de hóspedes que muda o perfil do morador de rua, botando por terra a pesquisa da FAS feita junto aos usuários, há quatro anos.

Naquela ocasião, havia na clientela do local 7% de não alfabetizados; 14% com ensino médio; 75% com ensino fundamental. A proporção entre usuários de álcool e os de drogas era empatada. Hoje, esses dados parecem ficção científica. Os educadores estão perplexos diante da quantidade cada vez maior de moradores de rua jovens e com maior exposição à escola. São articulados. Com suas jaquetas e aparelhos nos dentes, eles se destacam nas filas tristes de gente deserdada que se forma ali todos os dias, depois das 5 da tarde, à espera de uma vaga para comer, banhar e dormir.

Suas histórias até podem ser tristes feito as do resto, mas têm sabor de faroeste, embaladas por drogas pesadas, como o crack. As variações para o tema são muitas: o "mendigo" que chega agora aos cadastros pode ter dívidas no crime, estar em disfarces, ser usado por traficantes e até ser um expulso das Unidades Paraná Seguro, as UPSs, instaladas em seis bairros da cidade.

"Estou com saudade de encontrar um mendigo romântico, como aqueles do cinema", brinca a educadora carioca Edna Marinho, 42 anos. Ela já cruzou com físicos, engenheiros e um homem que bem poderia ter habitado as cavernas. Apelidou-o de Uga-Uga, talvez para amenizar o impacto de ter de enfrentar alguém que ameaçava o atendimento com um pedaço de ripa. Por ora, contudo, é impossível dizer quantos são esses neófitos no mundo da mendicância, até porque não estão sós. Eles vêm acompanhados de outras comunidades incomuns, como a dos gays, lésbicas e transexuais lançados à sarjeta.

Não é difícil perceber as mudanças que a tribo das drogas trouxe ao cenário. Há quem se preocupe. "Esse lugar se tornou uma bomba prestes a explodir", compara Edson Luiz de Souza, da coordenação do Movimento Nacional da População de Rua. Ele teme por um espaço que hoje abriga não mais centenas de homens e mulheres igualados na pobreza extrema, mas também os espoliados pela violência. É o encontro de dois mundos.

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