• Carregando...
 |
| Foto:

Apoio

Mães são fundamentais no momento de detectar o problema

A pesquisa da Aliança Brasil de MPS também apresenta dados sobre a vida de quem cuida dos portadores de mucopolissacaridose, em grande parte as próprias mães dos pacientes. Para elas, os sintomas mais difíceis de se lidar são os problemas nas articulações e a dificuldade de locomoção, que aparecem em 83% dos casos.

A vida social dos próprios cuidadores acaba sendo deixada de lado. "É aquela situação de abnegação, você deixa de cuidar de si mesma para cuidar somente das crianças. Eu não ia a lugar algum, porque ou estava muito sol ou com muito vento ou frio", diz Regina Próspero, presidente da Aliança Brasil de MPS.

Para ela, a mãe é a primeira a detectar qualquer anormalidade e, assim, é figura fundamental na hora do diagnóstico. "Como convivemos com a criança, vemos se ela tem algo de diferente. Muitas vezes, mães nos contam que o médico disse que elas estão loucas, que não há nada de errado. Orientamos as mães a insistir e, se necessário, a mudar de médico", conta.

20 mil

doenças genéticas diferentes, aproximadamente, já foram descobertas. A mais comum é a síndrome de Down, com incidência de 1 para cada 800 nascimentos nos Estados Unidos. Geralmente, os problemas genéticos são considerados raros e, no Brasil, não há números com relação à incidência. Para o geneticista Salmo Raskin, um dos motivos dessa falta de dados é a ausência de um programa de atendimento a doenças genéticas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Interatividade

Você conhece alguém que teve dificuldades em obter um diagnóstico de doença genética?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Quando Regina Próspero percebeu que seu filho Milton tinha um caroço na coluna, anormalidade conhecida como espinha bífida, foi direto para o pediatra, que encaminhou o garoto para um Raio-X. Após o exame, o radiologista alertou que a criança poderia ter mucopolissacaridose (MPS), uma doença genética causada por erros inatos do metabolismo, que dificultam a produção de enzimas. A desconfiança surgiu em 1989, quando Milton tinha apenas 6 meses, mas a certeza do diagnóstico só chegou meia década depois. Aos 6 anos, o menino faleceu em função da doença.

A saga pela qual Regina, que hoje é presidente da Aliança Brasil de MPS, passou é comum aos brasileiros que buscam diagnóstico para doenças genéticas. Enquanto ia às consultas com o filho mais velho, ela recebeu a notícia de que o mais novo, Luís Eduardo, também apresentava a doença. Com o diagnóstico certo desde os dois anos e meio, Dudu, como é chamado, tem hoje 22 anos e se tornou um símbolo para quem tem a MPS.

Segundo o geneticista Salmo Raskin, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), 99% dos municípios brasileiros não têm atendimento genético. "No estado do Paraná, só temos mesmo em Curitiba. Em outras cidades, não há atendimento algum, e isso acaba repercutindo na falta de diagnósticos precisos", diz.

Via-sacra

A Aliança Brasil de MPS, em parceria com o Ibope Inteligência, apresentou ontem uma pesquisa com cuidadores de crianças de MPS que mostra como grande parte passou por uma odisseia até chegar à causa do problema. Das 80 pessoas entrevistadas, 21% afirmaram que o paciente recebeu outros diagnósticos antes da MPS e 20% deles precisou visitar mais de dez médicos até receberem o resultado preciso.

Muitos médicos não têm experiência com a grande quantidade de doenças genéticas e acabam chegando a um diagnóstico incorreto. "As pessoas só fazem o diagnóstico que sabem, é fácil uma doença dessas ser ignorada pelo médico se ele nunca a viu. Falta muita informação e, como a doença não tinha tratamento até 2005, a própria medicina não tinha interesse em conhecê-la", afirma a neuropediatra Mara Lúcia Schmitz Ferreira Santos, do ambulatório de MPS do Hospital Pequeno Príncipe.

Exames genéticos

No caso da MPS, a confirmação é feita com um exame de sangue que identifica a falta ou diminuição de enzimas, mas, para outras doenças genéticas, o acesso aos exames necessários ao diagnóstico não é simples. No SUS, o exame de cariótipo, o mais simples de todos, é o único ofertado e, só em Curitiba, tem fila de espera de um ano e meio.

Os planos de saúde são obrigados, desde 2008, a dar cobertura para todos os exames genéticos, dos mais simples aos mais complexos. As duas exigências são que a pessoa tenha plano posterior à regulamentação do setor, em 1999, e indicação médica. Mesmo assim, muitos acabam não fazendo os exames, por não conhecerem seus direitos.

Os exames de DNA são específicos para cada doença e, como elas são muito parecidas, os médicos solicitam diversos testes. "O preço varia entre R$ 500 e R$ 10 mil, dependendo da doença de que o médico suspeita", diz Raskin.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]